Sleep, my love

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Olhos da cor de safiras encaravam Manon. Doces, pequenos e lindos e ela realmente os amava. Mas naquele momento, a rainha queria desesperadamente que estivessem fechados.

— Ela não está com fome? — Dorian perguntou ao lado dela, tentando não bocejar.

— Não. Ela choraria se estivesse.

Manon fechou os olhos por alguns segundos, e o esforço que fez para abri-los de novo fez sua cabeça latejar, como se estivesse batendo a testa repetidamente em uma rocha. Os dois estavam ali pelo que pareciam horas — e talvez fossem — mas a princesa não dera o menor indício de estar sentindo sono.

Asterin resmungou e começou a murmurar coisas ininteligíveis, como se estivesse concordando. Ela era bem falante.

— O que você acha que ela está dizendo? — Dorian perguntou, tanto para distrair os dois como para não ceder ao sono. 

A bruxinha parou de falar momentaneamente ao ouvir a voz do pai, então enfiou metade da mão na boca.

— Não vou dormir. E o problema é de vocês. — Manon respondeu, tirando os dedos cheios de baba dos lábios da filha. 

Dorian soltou uma risada baixa e encostou a cabeça na dela.

— Você é uma coisinha pequena demais para ter um temperamento assim, sabia?

Um sorriso quase se formou na boca da bruxa a menção do temperamento da princesa.

A luz da lua entrando pelas cortinas e as poucas velas na mesa de cabeceira não iluminavam bem o quarto, mas eram o suficiente para Manon enxergar o rosto perfeito da filha. Ela passou as pontas dos dedos por sua bochecha macia, pela centésima vez naquele dia.

Asterin estava crescendo tanto nas últimas semanas e ficando cada vez mais adorável, principalmente depois de ter começado a sorrir. Não importava quanto tempo passasse, a rainha sempre se lembraria perfeitamente da expressão alegre da filha quando ela e Dorian foram buscá-la no berço em uma manhã e a bruxinha sorriu pela primeira vez ao ver os dois.

Ela respirou fundo. Uma sensação cálida e reconfortante envolveu o coração da bruxa. Um motivo para não desistir e gritar de cansaço, um lembrete de que Dorian estava ali com ela, amor, por ele e pelo pequeno embrulho em seu colo. Mais do que tudo ela sentia orgulho por trazer aquela bruxinha para o mundo. Sempre sentiria.

— Ela é linda — A rainha disse distraidamente. 

— Sim. Obviamente puxou o meu lado da família.

Ela olhou para Dorian com irritação, substituindo o calor em seu peito pela vontade de estapeá-lo.

O rei lhe deu um sorriso, aquele que era somente para Manon, se inclinou e beijou a ponta do nariz dela, depois a boca.

— Ela é a coisa mais linda do mundo  — murmurou ele contra os lábios da bruxa. — vocês duas são.

Dessa vez o sorriso venceu a exaustão e se abriu no rosto dela. Dorian sabia muito bem como evitar ser estrangulado. Uma leve pressão no crânio desapareceu com o sorriso e a calma que tinha se instalado em Manon, e a fez olhar para baixo, e para Asterin, que encarava fascinada a mecha de cabelo da mãe que segurava entre os dedos.

— Não, você não vai arrancar o cabelo da mamãe de novo.

Ela tentou puxar os fios, mas a princesa os segurou com ainda mais força. Ai, pela Deusa.

Uma luz azulada brilhou no quarto escuro, e o brilho repentino fez seus olhos arderem, pontos brancos brilharam no olhar da bruxa até ela se acostumar com a mudança. Asterin largou o cabelo dela, soltou um gritinho e encarou a pequena chama azul que dançava entre seus dedos. Manon demorou alguns segundos para entender o que havia acontecido e virou para Dorian, com o coração acelerado pelo susto, e quase expôs os dentes de ferro.

— Você poderia ter avisado que colocaria fogo na nossa filha antes de colocar fogo na nossa filha.

— Desculpe — ele mordeu o lábio inferior para conter uma risada nervosa. — Eu não queria que ela machucasse você.

O rei colocou as mechas que soltaram da trança da bruxa atrás dos ombros e do pescoço, para que Asterin não as puxasse de novo. Ela estava ocupada, ainda soltando gritinhos e olhando para as mãos.

— Seu pai incendiou você? Eu estou vendo.

As chamas desapareceram lentamente, deixando uma Asterin confusa procurando-as entre os dedinhos. 

Dorian encostou a palma da mão no rosto da esposa e acariciou sua bochecha com o polegar.

— Dê ela para mim. Talvez caminhar  um pouco ajude. Vá descansar.

Ela conteve uma resposta de escárnio, analisando de perto os círculos escuros embaixo daqueles olhos azuis. Como se ele também não precisasse descansar. 

Manon hesitou antes de passá-la para Dorian. Ela sempre hesitava. Dentes de Ferro não tinham pais, apenas mães e as mães das mães. Asterin fora uma parte dela por meses e toda vez que ela se afastava parecia errado deixar aquela parte longe. 

Ela é minha filha também, Dorian costumava brincar, embora ela soubesse que o que ele realmente queria dizer era que ela não precisava fazer aquilo sozinha, nem tomar o peso todo para si, mesmo que cada instinto dentro dela insistisse o contrário.

Dorian permaneceu parado ao lado da cama depois de Manon finalmente entregar a princesa e ela se aconchegar no colo dele.

— Nem pense em esperar acordada até eu voltar.

Seus olhos dourados se reviraram. Ele a conhecia tão bem que chegava a ser irritante.

— Claro — ela debochou, apesar de ter se deitado. O rei revirou os olhos para ela também.

— Deixe de ser teimosa e vá dormir.

— Da última vez que eu conferi você não me dava ordens.

Ele suspirou, irritado, mas os cantos dos lábios dele se curvaram e ela sabia que ele tinha entrado na discussão falsa também.

— Considere uma sugestão.

— Ou o quê? 

— Vou fazer abstinência de sexo até ter certeza de que você está dormindo direito.

Um som de indignação quase escapou da boca dela. Depois ele tinha a audácia de dizer que ela não sabia brincar.

— Filho da pu-

Uma mão invisível cobriu a boca dela.

— Ei! Vamos sair Asterin, antes que a sua mãe resolva te ensinar mais termos inapropriados.

Manon fez um gesto vulgar para as costas de Dorian quando ele saiu, mas assim que fechou os olhos, a rainha caiu em um sono inquieto, e leve.

Tão leve que ela despertou ao sentir um peso do outro lado da cama. Os olhos dela queimaram, e Manon só conseguiu mantê-los abertos por alguns segundos, até ter certeza de que ele estava sozinho.

— Ela dormiu.

A bruxa não se moveu quando Dorian a envolveu em um abraço, encostando a cabeça dela em seu peito. Bastaram algumas carícias no cabelo e nas costas e Manon adormeceu profundamente, com a eterna sensação de segurança e amor que a envolvia.

One Shots de ManorianOnde histórias criam vida. Descubra agora