Under the mistletoe

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O mundo através das janelas parecia ter sido pintado de branco.

A neve começara a cair de madrugada, e agora cobria Forte da Fenda completamente. Manon suspirou, deixando o vidro em sua frente embaçado.

A rainha tinha chegado pouco antes da tempestade e o tempo já estava insuportável. Nem sendo mais resistente ao frio que qualquer mortal ela queria ir para o lado de fora agora.

Os dedos descalços de Manon se curvaram no piso frio de pedra. Os aposentos separados para ela ficavam diretamente ligados àqueles em que estava, ela não se importara em calçar nada ou trocar as roupas que tinha usado para dormir, tinha apenas feito uma trança no cabelo. O que acabou não se tornando uma boa decisão, pois o fogo da lareira estava baixo e não aquecia a sala o suficiente.

Manon enroscou o dedo em volta de um fio de prata pendurado na moldura, tentando ignorar o frio. O lugar, assim como o resto do castelo, estava coberto de decorações do Yule, com enfeites e velas espalhadas por todos os móveis. Ninguém poderia deixar de reconhecer o modo que até aquela pequena sala era uma exibição das riquezas de Adarlan. Estava lindo, apesar de ela não achar que valesse tantas horas de trabalho.

O som de passos, seguido de uma maçaneta girando chegou aos ouvidos dela antes que a porta se abrisse de repente, fazendo-a se virar para encarar o rei parado na entrada do quarto. 

— Essa blusa é minha?

Dorian a olhava com a cabeça levemente inclinada, vestindo somente uma calça cinza de dormir e alguns anéis de ouro na mão esquerda. Seu cabelo escuro estava despenteado, como se ele tivesse acabado de levantar. Ele estava lindo.

Manon quase revirou os olhos para o próprio pensamento. E para o sorrisinho no rosto dele. Arrogância masculina estúpida. A bruxa cruzou os braços.

— Eu não reparei no que estava vestindo quando fui dormir. Não pense que tem algo a ver com você.

O sorriso dele diminuiu um pouco, e ele levantou as sobrancelhas.

— Você não veio falar comigo ontem.

Quando a bruxa tinha chegado — com as roupas semi congeladas e os músculos completamente doloridos —ela teria preferido desabar na cama com ele. Mas ela sabia que se tivesse feito aquilo iria querer conversar com Dorian, provavelmente tirar as roupas dele também, então preferira ficar nos próprios aposentos — que ela quase nunca usava.

— Estava tarde quando eu cheguei. Tenho certeza de que já tinha passado da sua hora de dormir. 

Ele inclinou a cabeça para trás e riu com a resposta dela, e aquela leveza, que só havia aparecido depois da guerra, só o deixava mais bonito. 

Dorian deu um passo na direção dela e Manon rapidamente saiu de seu alcance. Ele sempre parecia esquecer que não era o único que podia ser irritante. A rainha se afastou e parou na porta para a sala de jantar, no tapete macio em vez do chão gelado. Ele não revirou os olhos, nem a provocou de volta como ela esperava.

Dorian deu um sorrisinho, parecendo quase satisfeito quando começou a andar para perto dela. Ele não estava olhando para Manon, e sim para algo acima dela. A rainha seguiu a direção do olhar dele.

Havia um pequeno enfeite em uma guirlanda na madeira da porta, um visco, pendurado bem em cima dela.

O rei não estava mais olhando para cima quando Manon o observou de volta para perguntar o que tinha de tão interessante na planta. Ele segurou o rosto dela e a surpreendeu com um beijo.

Ela arregalou os olhos e levantou as sobrancelhas por um segundo, antes de beijar Dorian de volta. Não foi o tipo de beijo que fazia os dois arrancarem as roupas um do outro em segundos. Aquele era quase divertido, como se ele estivesse cantando vitória por pegá- la de surpresa.

Dorian se afastou mais rápido do que ela esperava, deixando-a com a respiração um pouco ofegante.

— É uma tradição do Yule. Duas pessoas devem se beijar se estiverem debaixo de um visco. — Ela franziu o cenho para a explicação. Ele ainda estava com as mãos nas bochechas dela.

— Isso não faz o menor sentido. — O rei deu de ombros, como se estivesse dizendo que não foi ele quem inventou as regras. — Foi só uma desculpa para me beijar?

— Eu preciso de uma?

Ela nem tentou contestar, e aquilo pareceu fazer com que o sorriso dele aumentasse. Os dois sabiam que ele não precisava. Ele começou a desenhar círculos com o polegar na pele dela.

— Eu senti sua falta. 

Manon desviou o olhar. Ela sempre ficava tensa quando Dorian dizia aquele tipo de coisa. Não porque ela não gostava, mas porque quase sempre não sabia como responder. Ela não conseguia dizer o que estava sentindo com tanta facilidade. Um gosto amargo se espalhou pela boca dela. Aquele deveria ser o resultado de passar cem anos sendo obrigada a agir como se não sentisse nada além de ódio.

Como se tivesse ouvido os pensamentos dela, ele puxou a conversa de volta para o deboche.

— Eu sei que você também sente saudades de mim, bruxinha. Não perca seu tempo tentando fingir o contrário.

— Eu não teria tanta certeza, principezinho. — Ela deixou o mesmo sorriso alcançar o rosto dela, embora tivesse quase certeza de que estava muito mais agradecido do que sarcástico.

— Eu percebo, sabia? Quando você deita comigo enquanto eu estou lendo. Você está usando as minhas roupas. — ela revirou os olhos e ele cutucou a ponta do nariz dela em resposta. — Não pense que eu não sei que é isso que você quer dizer quando faz essas coisas. Eu não preciso de uma declaração dramática. 

Ela não se afastou quando ele passou os braços em volta dela. Ele sempre, mesmo quando os dois mal se conheciam, parecia perceber facilmente o que ela estava sentindo. Mesmo quando o resto das pessoas pensava que ela não sentia nada. Aquilo podia ser irritante às vezes, mas era um alívio quando era difícil para a rainha sequer aceitar que estava sentindo alguma coisa, e demonstrar podia ser pior ainda. Ela não teria se importado de ficar ali por mais tempo, se a brisa gélida da manhã não tivesse começado a entrar pelas frestas da janela.

— Está frio. 

Imediatamente as chamas na lareira aumentaram e a magia dele envolveu os dois em um calor confortável. Realmente, todos deveriam ter a bendita sorte de ter um rei com magia pura como amante.

— Que bom que tenho a rainha mais linda do mundo para aquecer minha cama então.

— Você quem está aquecendo a minha cama.

Ele se afastou, mas não o suficiente para soltar a cintura dela. Dorian apontou para o quarto atrás da porta entreaberta.

— Aquela cama é minha.

Ela ergueu uma sobrancelha.

— É mesmo? 

Manon se virou antes que ele pudesse perceber que ela estava sorrindo. A bruxa começou a andar em direção ao quarto, mas sequer conseguiu passar pela entrada antes de Dorian agarrar sua mão e vira-lá novamente. O rei estava apontando para cima com um sorriso ferino no rosto.

Tinha outro visco pendurado na moldura da porta. 

— Quantos malditos enfeites—

Ele interrompeu Manon com outro beijo. Dessa vez, nenhum dos dois se afastou. 

One Shots de ManorianOnde histórias criam vida. Descubra agora