Dia 23 de dezembro
Manon bateu o porta-malas com mais força do que deveria. O carro estremeceu abaixo dela, assim como Elide, mas sua amiga não disse nada. Ela apenas puxou a segunda mala de Manon até estar ao seu lado, e ela estava grata por isso.
O clique do carro sendo fechado foi o único som além das rodinhas na calçada que as acompanhou por alguns minutos. A casa de Glennis estava a poucos metros de distância, mas foi o suficiente para irritá-la. As vagas mais próximas estavam ocupadas e Bronwen era uma babaca de merda que insistiu em ocupar a garagem quando tinha a própria casa para fazer isso. Ela podia ir se foder também.
Elide diminuiu a velocidade. O silêncio entre as duas não era desconfortável, mas Manon sabia que ela queria falar, pontuar as coisas corriqueiras que há muito tempo as duas não discutiam, desde que o afastamento — culpa dela, assim como muitas outras coisas — entre elas começou. Sua amiga estava ansiosa para algo normal entre as duas, e para ser honesta, Manon também estava. Mas reconstruir os muros que um dia estiveram perto de cair em volta de si mesma, fazê-los dobrar de tamanho, havia exigido muito esforço. E desfazê-los exigiria mais ainda.
Não era um preço que ela estava disposta a pagar por apenas uma semana. Menos que isso se ela desse sorte.
Do outro lado da rua, uma mulher que Manon nunca vira na cidade bateu a porta do carro. Ela tinha cabelos castanhos que batiam no meio das costas cobertas por um jaleco, e falava muito rápido no celular.
Elide olhou para a mulher, para Manon, e desviou o olhar. Estranho.
— Quem é essa?
— Você sabia que Yrene agora administra o hospital?
Manon olhou para ela, surpresa. Da última vez que estivera na cidade, Yrene Towers estava terminando a faculdade de medicina.
— O que isso tem a ver com ela?
Elide limpou a garganta. Ela quase parou de andar. Yrene estava perto de um assunto que ela não queria ouvir. Perto demais.
— O nome dela é Sorscha. Ela trabalha lá. Veio de Charco Lavrado no começo do ano.
— Charco Lavrado? — Manon franziu o cenho. O que aquela mulher estava fazendo na cidade minúscula onde ela crescera? Haviam milhares de cidades por todo o país muito mais próximas das fronteiras, e de alguma forma, as pessoas iam parar naquele fim de mundo. — Como diabos ela veio parar aqui?
Elide deu de ombros.
— Não conversei muito com ela. Yrene deve saber.
Felizmente, a mulher não era interessante o suficiente para Manon perguntar. Ela não ia falar com Yrene. A médica podia quebrar a cara dela se quisesse, ela não se importava. Mas havia mais naquela história. Ela conhecia Elide bem o suficiente para saber quando havia algo na ponta de sua língua, embora a garota pequena e de cabelos pretos fosse a melhor mentirosa que Manon conhecia.
Além dela mesma.
— Desembucha.
— Ela tem saído com Dorian.
Manon parou. Para sua sorte, os quatro degraus até a porta de Glennis eram uma boa desculpa para a reação que ela não deveria ter tido. Com mais força do que o necessário, ela arrancou sua mala do chão pela alça e começou a subir.
— Se eu quisesse saber com quem ele estava saindo, teria perguntado para ele.
Elide puxou a segunda mala, com um pouco mais de dificuldade devido a altura e examinou o rosto dela. Acontecia que uma vida sendo criada por sua avó materna e o tempo em Los Angeles haviam aprimorado sua habilidade de parecer indiferente nos últimos 23 anos.
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One Shots de Manorian
Fanfic- 𝓗𝓮𝓵𝓵𝓸, 𝓹𝓻𝓲𝓷𝓬𝓮𝓵𝓲𝓷𝓰 - 𝓼𝓱𝓮 𝓼𝓪𝓲𝓭, 𝓱𝓮𝓻 𝓿𝓸𝓲𝓬𝓮 𝓫𝓮𝓭𝓻𝓸𝓸𝓶 𝓼𝓸𝓯𝓽 𝓪𝓷𝓭 𝓯𝓾𝓵𝓵 𝓸𝓯 𝓰𝓵𝓸𝓻𝓲𝓸𝓾𝓼 𝓭𝓮𝓪𝓽𝓱. - 𝓗𝓮𝓵𝓵𝓸, 𝔀𝓲𝓽𝓬𝓱𝓵𝓲𝓷𝓰 - 𝓱𝓮 𝓼𝓪𝓲𝓭. 𝓐𝓷𝓭 𝓽𝓱𝓮 𝔀𝓸𝓻𝓭𝓼 𝔀𝓮𝓻𝓮 𝓱𝓲𝓼 𝓸𝔀𝓷. One...