As happy as you make me

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Na torre mais alta do castelo de Forte da Fenda, sentada em uma mesa de mogno, a Rainha das Bruxas afiava sua espada enquanto observava o rei de Adarlan.

Dorian parecera um pouco distraído o dia todo, e agora, apesar de estar encarando o livro em suas mãos, seu olhar estava completamente distante. Ele nem sequer virava as páginas. Manon não disse nada, como tinha feito desde que os dois entraram no quarto. Ele não tinha dado qualquer sinal de que queria conversar, então ela tinha mantido distância.

O rei deixou o livro em cima de um móvel ao lado do sofá onde estava quando saiu para a varanda, sem nem olhar na direção dela. O cheiro metálico de magia preencheu o ar, seguido por brisas geladas que escaparam para o quarto. Aquilo foi o suficiente para fazê-la ir atrás dele. Era sempre ele quem quebrava o silêncio, quem fazia Manon se abrir o suficiente para conversar, ou apenas ficar perto se era o que ela precisava. Talvez ela devesse fazer o mesmo.

A primeira coisa em que a rainha reparou quando passou pelas portas foi o céu. Repleto de nuvens espalhadas que em breve estariam tingidas de amarelo e rosa, conforme o sol desaparecia por trás das montanhas. O vento serpenteou em volta da bruxa, cantando para ela, pedindo para que voasse com ele.

Manon diminuiu o espaço que a separava de Dorian e encostou o ombro no dele. Eu estou aqui.

O rei não se virou para ela, mas as mãos dele, cerradas e tensas no parapeito, relaxaram rapidamente. Dorian abriu os dedos em um pedido silencioso. Ela colocou a mão sobre a dele, sem pensar duas vezes. O vento bagunçou o cabelo dos dois, chamando-a de novo.

- Você quer voar comigo e Abraxos?

Ela conhecia perfeitamente a expressão no rosto dele, porque já a tinha visto no espelho muitas vezes. Manon mal conseguia suportar quando a escuridão em sua própria mente a arrastava de volta para a dor e o sofrimento que vieram com a guerra. A companhia de Abraxos e a liberdade nos céus a ajudavam a afastar aquilo.

A resposta do rei se resumiu a um aceno, dizendo que não. Certo. Ela encostou a cabeça no ombro dele, e os dois observaram a vista em silêncio. Os jardins, a floresta de Carvalhal, a cidade abaixo deles. Só não era mais bonito do que o azul infinito do céu dos Desertos, com as dunas douradas se estendendo pelo horizonte. Ela poderia ficar o dia inteiro ali, apenas olhando aquilo com Dorian.

Se ele estivesse bem.

Manon repassou distraidamente o que os dois tinham feito durante o dia, tentando reparar se em algum momento da sua atuação impecável ele tinha demonstrado como realmente estava se sentindo. A rainha não sabia bem o motivo, mas sua atenção parou no livro em que ele estava mexendo, agora largado em cima do móvel. Aquilo deu uma pequena ideia a mente dela. Uma ideia um pouco fútil, mas...

- Me conte sobre a história que você estava lendo.

Aquilo finalmente arrancou um indício de emoção nos olhos dele. Surpresa e curiosidade.

- Você quer que eu fale sobre um livro?

Aquilo fez uma leve sensação de culpa se instalar na bruxa, por todas às vezes em que ele tentou falar com ela sobre seus livros com animação e ela mal o ouviu.

- Se não for um dos seus romances doces e insuportáveis.

Um canto da boca dele se curvou, quase formando um sorriso. Era alguma coisa.

- Eles se odeiam. Acho que você vai gostar.

- Não entendo como duas pessoas que se odeiam podem se tornar amantes.

- Essa é exatamente a graça.

Ainda segurando a mão dela, ele puxou a bruxa de volta para o quarto e pegou o manuscrito depois de os dois se sentarem. A capa era linda, preta e com detalhes em dourado que formavam uma espada e uma serpente. Dorian abriu as primeiras páginas, onde os personagens estavam desenhados com cálices e coroas decorando os cantos das folhas.

- Ele tem um rabo?

- Prometo que não é tão estranho quanto parece.

Realmente, o feérico com um rabo não era a coisa mais esquisita naquele livro.

Não demorou para que os dois estivessem imersos na história, às vezes Dorian narrava alguma parte, as que ele mais gostava, às vezes os dois apenas liam juntos em silêncio.

- A irmã gêmea imunda dela morre?

- Não.

Ela revirou os olhos. Nunca tinha imaginado que era possível sentir tanta raiva de uma pessoa fictícia.

Manon não sabia por quanto tempo eles se perderam no livro, mas o céu já estava escuro quando Dorian virou a última página. Os indícios de sorriso tinham aos poucos se tornado pequenos sorrisos de verdade e um pouco do brilho usual voltou para os olhos dele.

- Você gostou?

- Acho que sim. - Ela deu de ombros. Tinha perdido algumas partes, das vezes em que estava prestando mais atenção nele do que na história.

Ele deixou o livro de lado e entrelaçou os dedos dos dois, dando um pequeno beijo na mão dela.

- Obrigado por isso.

- Tudo bem. Você sempre me ajuda a melhorar quando eu estou assim. Eu queria...

Ela não conseguiu terminar a frase. Talvez fosse falta de coragem para dizer tão abertamente o que ela ainda ficava surpresa em admitir para si mesma. Queria deixar Dorian feliz tanto quanto ele a deixava.

- Você deixa. - Ele encostou a testa na dela. A rainha piscou, tentando esconder a surpresa. - Sempre que você está perto e às vezes até quando não está.

Manon se perguntou se tinha dito aquilo em voz alta sem perceber, ou se ele tinha de alguma forma lido a mente dela. Mas ela não se importou em procurar a explicação, tinha a impressão de que não acreditaria nela mesmo se encontrasse. Foi a resposta dele que continuou na mente dela, que a fez inclinar o rosto e acabar com a distância mínima entre os dois, em um daqueles beijos que eram muito mais que somente desejo e deixavam a mente dela girando. Que às vezes significavam mais que qualquer outra coisa.

Ela deixou que Dorian passasse os braços em volta dela quando os dois se separaram, e apoiou a cabeça no espaço entre o ombro e o pescoço dele. A rainha sorriu. Ela quase podia ouvir as Treze rindo da cara dela por estar abraçadinha com ele.

Tão alto que poderia ser confundido com uma tempestade, o som de asas ecoou em volta do castelo, antes que um ponto prateado se movendo na direção da torre entrasse em seu campo de visão. Abraxos pousou na varanda pouco tempo depois, enfiando a cabeça para dentro do quarto. Ele grunhiu, irritado, e Manon grunhiu de volta.

- Eu não vivi mais de cem anos para ver uma serpente alada com ciúmes.

Abraxos abaixou as asas quando os dois se aproximaram da varanda. Os raios de luz da lua refletiam na seda de aranha, em contraste com o preto do corpo, de um jeito que fazia seus olhos escuros e gentis parecerem brilhantes.

Dorian soltou uma risada baixa atrás dela.

- Pensei que ele gostasse de mim.

- Ele gosta, o drama é porque não passeamos hoje. Mimado.

Abraxos bufou. Manon passou as mãos pela cabeça dele, contrariando a bronca que estava dando.

Para a felicidade dele, a bruxa ajustou as correias da sela e voltou para o quarto para pegar as botas e o manto escarlate. Dorian desapareceu na antessala onde ficavam suas roupas e voltou com um manto azul-escuro, exageradamente elegante para um voo.

- Posso ir com vocês?

Manon não fez nada além de levantar as sobrancelhas e dar um meio sorriso. Foi resposta o suficiente para ele.

A serpente alada cutucou Dorian com o focinho e se abaixou, animado para Manon subir na sela. O rei subiu logo atrás, passou os braços em volta da cintura dela e a segurou firmemente antes de Abraxos pular da varanda e disparar para os céus.

One Shots de ManorianOnde histórias criam vida. Descubra agora