Dois dias passaram-se desde o fatídico Halloween.
Mais cedo, naquele mesmo dia, a professora McGonagall lhe informara com um olhar duro que o diretor gostaria de falar com ele após o jantar. Jantar este que, por sua vez, se encaminhava para um fim melancólico.
Isto é, Harry não havia conseguido saciar-se com a quantidade de alimentos que seu corpo havia se acostumado a ingerir nas últimas semanas. Para alguém como ele, que havia tido oferta de comida menor que a ideal em sua infância, era uma situação particularmente desagradável.
Sobretudo diante da perspectiva de ser expulso e obrigado a voltar aos seus padrões de vida anteriores.
No fundo, Harry sabia que McGonagall engoliu a fábula que ele havia contado enquanto segurava uma menina desconhecida nos braços. Trolls, afinal, não são conhecidos pela enorme resistência física, mas sim pela mágica. Colaborando com sua extrapolação da realidade também havia o fato de que a cabeça das criaturas, Harry teve o cuidado de pesquisar no dia seguinte, era muito mais frágil do que o senso comum arriscaria dizer. Dito isso, o bastão pesado da criatura poderia sim, em uma situação muito específica, com um pouco de sorte e um feitiço de levitação bem utilizado, colocar a criatura para dormir permanentemente.
Ou, pelo menos, era isso que ele falava para si mesmo enquanto tentava tranquilizar suas preocupações errantes.
De fato, ele não queria nem pensar no que aconteceria se Dumbledore ao menos desconfiasse acerca da verdade sobre os eventos que ocorreram naquele banheiro.
Havia pouco sentido em mentir para si mesmo, Harry havia sim praticado magia negra dentro das paredes de Hogwarts. É bem verdade que ele provavelmente não era o primeiro, mas por algum motivo duvidava que isso fosse uma desculpa convincente, ou mesmo que evitaria sua expulsão eminente.
"Gota de limão." Resmungou o jovem bastante contrariado ao deparar-se com o olhar julgador do enorme pedaço de pedra animado.
A gárgula criou vida e saltou para o lado dando lugar a uma escada. No fim da escada havia uma porta adornada e escura em que Harry bateu com cuidado, anunciando sua presença.
Não tardou para que a confirmação viesse, na forma de um convite para entrar.
O escritório do diretor era um lugar engraçado, cheio de quadros, objetos estranhos e livros.
Havia, em um poleiro luxuoso, um pássaro vermelho que imediatamente chamou sua atenção.
Harry não conhecia aquela espécie em especial, mas parecia importante.
Sendo honesto consigo mesmo, ele estava esperando sentir algo forte ao entrar neste cômodo em específico. Uma esperança um pouco ingênua, considerando que sua aparente capacidade de sentir coisas que os outros não sentiam parecia severamente anestesiada, senão completamente ausente, após seu confronto com o troll.
O jovem evitava pensar no motivo.
"Harry, meu garoto!" Cumprimentou Dumbledore, esbanjando tranquilidade. "Sente-se, por favor." Ofereceu o velho cordialmente. "Gostaria de uma gota de limão?"
Harry limitou-se a negar com a cabeça, enquanto observava o homem tomar um dos doces para si e dando indícios, ao mesmo tempo, de que pretendia continuar a falar.
"Imagino que esteja se perguntando o porquê de eu lhe chamar aqui." Comentou astutamente o ancião.
Uma resposta verbal era desnecessária. Harry deixou claro, desde que entrou no cômodo, que ele estava absolutamente mortificado e curioso com a razão da conversa.
Percebendo o incomodo visível do garoto à sua frente, os olhos de Dumbledore piscaram de uma forma paternal e ele sorriu.
"Chamei-lhe aqui, Harry, para uma conversa muito atrasada sobre seu desempenho em aula." Isso o surpreendeu, ele esperava muitas coisas, mas, certamente, não uma conversa acadêmica. "Seus professores têm lhe elogiado bastante, em especial Minerva e Filius."
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Breaking Song
AdventureQuando a história se repete, o tempo se torna escasso e borram as linhas entre o talento e a necessidade. No meio disso, Harry luta para lembrar que suas ações têm um propósito e não são apenas frutos de sua própria tentação. No fim, o interminável...