O homem alto e ricamente vestido andou a passos largos pelos corredores familiares do castelo gótico. Em suas mãos, uma bengala que ele não parecia fazer questão de usar e um anel solitário adornado com uma única gema vermelha grande. Seu rosto tinha uma feição aborrecida e o homem não parecia contente em estar naquele lugar.
Ao virar o corredor deu de cara com a famosa gárgula que demarcava a entrada do escritório do mestre do castelo. O homem não pareceu intimidado. Levantou a mão e estalou os dedos. Seu anel brilhou, assim como um medalhão solitário escondido em suas vestes. Como se respondesse a um comando, a gárgula derreteu diante do homem e se reformulou logo depois, ao lado da porta, fornecendo o espaço necessário para que o homem subisse as escadas e adentrasse no escritório do mestre do castelo.
O homem velho sentado atrás da luxuosa escrivaninha parecia surpreso com a interrupção, seus olhos rapidamente estreitaram antes de relaxar ao perceber quem havia invadido seus aposentos.
"Você não precisava vir pessoalmente." Disse Dumbledore. "Uma carta teria sido o suficiente, ou uma conversa pela lareira."
O homem que havia acabado de entrar na sala não fez menção de tomar um assento e apenas bufou afastando a opinião do ocupante original do cômodo.
"Eu desativei a rede há anos. Além disso, minha mais recente coruja morreu fatalmente em uma idade jovem. Já não se fazem mais pássaros como antigamente."
Disse o homem com uma rápida e respeitosa olhada na fênix que descansava suavemente em um poleiro próximo a janela.
O diretor riu.
"Eu sinto muito em ouvir sobre a sua coruja, velho amigo." Lamentou o homem. "Mas não é por isso que você está aqui."
Era uma suposição bastante segura.
"Direto ao ponto." Disse o homem se dirigindo ao seu lado da mesa e colocando a mão sobre ela. "Eu não permitirei!"
Disse com facilidade e desinteresse.
Os olhos de Dumbledore ficaram sérios.
"Você não pode impedir." Afirmou o diretor. "Os termos estão na carta que mandei. Você tem até o início do próximo período letivo, faça bom uso."
"Garoto." Disse o homem em pé. "Nós temos um acordo. Você me prometeu dois anos."
"A situação mudou." Falou Albus ainda com calma. "Há alguns anos o governo trabalha para a volta do Torneio Tribruxo. Infelizmente, o prazo foi adiantado, o torneio vai ocorrer no próximo período letivo." Explicou o homem. "Minhas mãos estão atadas."
"Eu não ligo!" Rosnou o homem desconhecido. "Você me deu dois anos. Use outro pirralho, você tem um monte deles por aqui."
Dumbledore riu.
"O interesse de Hogwarts vem antes do seu." Disse o velho. "O garoto ganhará a taça por sua escola. É minha palavra final!"
Decretou o diretor implacável.
"Ele não é um aluno dessa escola."
Continuou a argumentar o outro.
"Ele tem um vínculo comigo, portanto com essa escola." Desdenhou Dumbledore. "Sinta-se à vontade para conferir o contrato."
"Você não tem certeza que ele será o escolhido."
Dumbledore riu como se o homem a sua frente fosse um tolo.
"Se ele não for escolhido, nós o ensinamos para nada." Dumbledore parecia curioso agora. "Afinal, Nicholas, você se apegou tanto assim ao garoto?"
Dumbledore perguntou com um sorriso genuíno.
O homem chamado Nicholas rosnou e reformou sua feição de indiferença.
"Não seja idiota, garoto tolo." Cuspiu com frieza forçada. "Eu não tenho sentimentos por seres mortais."
Dumbledore voltou a rir.
"Solte o disfarce. Foi divertido no começo, mas agora é simplesmente patético."
Comandou Dumbledore com diversão evidente.
Os ombros do homem caíram. Sua feição foi de surpresa para desolada e seu corpo pareceu derreter como um boneco de cera. Onde antes jazia Nicholas Flamel, em toda sua glória, agora estava Harry Potter.
O garoto estava mais alto do que o diretor lembrava, mas sua aparência não havia mudado tanto, com exceção do cabelo que estava mais cumprido e atado firmemente com uma tira de pano vermelho.
Como Dumbledore previa, a gema em seu anel deixou de ser a magnífica pedra filosofal e passou a ser um rubi respeitável, um foco usado apenas por um alquimista que já havia alcançado o penúltimo grau de sua formação. No entanto, para a surpresa do velho o icônico medalhão de Nicholas continuava no pescoço do jovem, mal ocultado pela sua camisa branca.
"Nicholas sabe que você usa as joias dele?" Perguntou Dumbledore divertido apontando para o medalhão. "Por falar nisso, ele sabe que você está aqui?"
O garoto parecia envergonhado.
"Eu precisava de um disfarce convincente." Explicou o jovem. "E eu duvido que ele se importe se eu estou aqui, ou não."
Dumbledore voltou a sorrir.
"Ele não quis lutar por você, não é mesmo?" Deduziu o homem. "Disse que se você quisesse ficar mais um ano, você mesmo teria que lutar por isso."
Harry assentiu.
"Mas ele ajudou-lhe com a alquimia, pelo menos."
Falou Dumbledore consolando seu aprendiz.
Harry grunhiu.
"Na verdade, não."
Revelou o jovem mal humorado.
Dumbledore se surpreendeu.
"Isso foi alquimia de alto nível." Constatou o mestre. "Estou orgulhoso!"
"O que me entregou?"
Perguntou o garoto curioso.
O velho, por sua vez, levantou-se e caminhou até a janela.
"Veja bem." Começou o homem. "Seu disfarce estava excelente! No entanto, Nicholas jamais elogiaria Fawkes, nem mesmo de forma implícita. Na verdade, os dois se odeiam e Fawkes provavelmente o atacaria assim que ele entrasse no escritório."
Explicou o diretor divertido, acariciando seu pássaro que, inteligentemente, encarava Harry com um olhar arrogante, como se zombasse do garoto.
Harry lamentou em voz alta. No fim das contas, ele acabou cometendo um erro simples.
"Você ainda tem alguns meses." Disse Dumbledore voltando a olhar para seu pupilo. "Volte para a França e se desculpe com Perenelle por sair sem avisar."
O garoto assentiu e se preparou para partir.
"E, Harry." Interrompeu Dumbledore. "É muito bom revê-lo."
Sorriu o homem ainda acariciando Fawkes.
Harry devolveu o sorriso e, com um aceno, estalou os dedos.
O medalhão que servia como uma chave de portal voltou a brilhar, no instante seguinte o jovem não estava mais no escritório.
"Será um ano interessante."
Sussurrou Dumbledore enquanto mimava sua Fênix.
Fawkes demonstrou sua concordância através de um longo assobio.
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A Breaking Song
PertualanganQuando a história se repete, o tempo se torna escasso e borram as linhas entre o talento e a necessidade. No meio disso, Harry luta para lembrar que suas ações têm um propósito e não são apenas frutos de sua própria tentação. No fim, o interminável...