Capítulo 4 - Ancião e o Seu Legado

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Harry chegou a pensar que, com a volta de Neville e as distrações que com ele vinham, seus dias assumiriam um ritmo mais banal e o tormento das noites insones chegaria, enfim, a um fim.

Contudo, e em que pese seus desejos por normalidade, ali estava ele, horas após o toque de recolher, lendo um livro obscuro nas entranhas escuras da sessão restrita, os corredores mais estreitos e austeros da biblioteca de Hogwarts.

Os fatos eram inegáveis, após algumas poucas e espaçadas noites em frente ao espelho, aquele encontrado em uma sala quase vazia nos corredores de Hogwarts, encarando as duas versões opostas de si mesmo, Harry não pode mais ignorar seu impulsos.

É claro, mesmo a mais torpe das resoluções apresentava o seu justo desafio.

Isto é, mesmo nas prateleiras mais profundas e empoeiradas da sessão restrita não havia muitos livros práticos sobre as nobres artes. De acesso mais simples, apenas alguns poucos tomos com maldições questionáveis e feitiços, um tom ou dois, mais escuros.

Harry ainda não havia se aprofundado em nada tão grave ao ponto de ser censurado pelo ministério, mas eram magias que ficavam na fronteira, algumas delas no lado de lá da fronteira.

Um passo em falso e ele estaria se aventurando por águas que não entendia completamente e não tinha certeza se queria entender.

Exceto que isso era uma mentira. Ele sabia bem sobre o fato de ser um indivíduo de curiosidade ímpar, isso implicava na admissão de que ele leria, com poucas ressalvas, quase qualquer coisa que fosse colocada frente aos seus olhos ávidos.

A maior prova disto foi ele ter lido todos os tomos mais acessíveis em poucas noites. Dizia a si mesmo, em uma pífia tentativa de acalmar suas muitas preocupações, que era apenas uma maneira de controlar seus impulsos crescentes; prometia, uma e outra vez em meio a páginas e mais páginas de magia sórdida, não usar nenhum daqueles feitiços cruéis.

Nunca.

Fiel a sua rotina auto imposta, alguns minutos após a meia-noite, Harry dirigiu-se à sala onde sabia, empiricamente, que encontraria a razão atual de seu tormento.

Se tratava quase que de um prazer compassivo.

Os passos dele o levavam de forma praticamente automática, noite após noite e hora após hora, a encarar aquele espelho misterioso.

Seus olhos, brilhantes como joias, ora ou outra mudando entre as duas versões de si mesmo, tão parecidas e ao mesmo tempo tão diferentes entre si.

Inegavelmente, a imagem agressivamente contrastante lhe trazia um fascínio mórbido.

Harry não tinha nenhum escrúpulo em se livrar de sua capa ao chegar próximo do espelho, a experiência havia comprovado, amplamente, que aquela sala silenciosa e escondida entre corredores raramente usados, preservava, em noites como aquela, um vazio acolhedor.

Naquela noite, no entanto, ele foi surpreendido, antes mesmo de por seus olhos curiosos em cima da imagem anárquica que havia o atraído até ali.

"Então, outra vez aqui, Harry?"

A voz familiar o surpreendeu e o deixou congelado em seus passos.

Sentado em uma das mesas junto à parede estava ninguém menos que Alvo Dumbledore. Aparentemente, o garoto passou direto pela figura envolta em sombras, deixando de perceber a presença que agora se fazia óbvia, tão desesperado estava para chegar ao espelho, que nem reparou.

"Eu... Eu não o notei, senhor."

Disse Harry com incerteza.

Estava envergonhado, sem saber, ao certo, o motivo para isso.

A Breaking SongOnde histórias criam vida. Descubra agora