"No início, os filhos amam os pais. Depois de um certo tempo, passam a julgá-los. Raramente ou quase nunca os perdoam."
- Oscar Wilde, escritor irlandês.
16 de junho, apartamento do Rafa e Edu. 7:10.
Rafa.
Uma batida na porta, foi o suficiente para a paz e total tédio que sentia sumir, evaporar de vez do meu coração, como um tiro disparado pela pessoa que estava do lado de fora do apartamento, atingir certeiro o lugar que fazia eu sentir coisas. Ela sorriu de lado, fechou os olhos e eu queria fechar os meus e fingir que o que eu acabara de ver, fosse uma mentira.
- Oi...posso entrar Rafa? - Não era uma mentira, alucinações não falam. Na verdade eu não sei se falam, nunca estudei sobre... a questão é, o que a Daisy (vulgo minha mãe) estaria fazendo aqui no Pão de Queijo?
- Rafael, vai me ignorar agora??? - Ela disse com voz chorosa.
-Eu não tenho obrigação nenhuma de responder ou deixar entrar no meu lar , uma pessoa da qual eu fugi e cortei laços. - Falei friamente a olhando nos olhos. Ela desviou o olhar e vi seus olhos lacrimejarem.
-Não tem obrigação...uma ova!! Eu sou sua mãe Rafael, esse fato imutável não te faz sentir nada?- Ela falou em um tom alto e ensurdecedor.
-Sim faz, eu sinto frustração, decepção e principalmente repúdio. - Cuspi aquelas palavras que estavam entaladas na minha garganta e guardadas no meu coração havia muito tempo. Ter dito aquilo a ela a fez se calar e me olhar assustada, foi como veneno, mas em vez de matá-la fez ela transbordar, talvez ressentimento pelos olhos.
-Porquê? Porquê você se afastou de mim? A separação, ela te afetou tanto ao ponto de te cegar? Seu pai sendo ausente e você só quer me culpar? - A culpa não foi a separação, nunca foi do meu pai.
- Você acha mesmo que eu sou tão infantil assim ao achar que o fracasso do seu casamento com o meu pai, fosse o motivo de eu me "afastar" de você? - Fiz aspas com os dedos. - A culpa é somente sua ! Não ter tido a decência de esperar alguns meses para assumir seu amante, você não teve, não ter caráter foi sua escolha, não ter me dado tempo para o meu eu de oito anos processar o fato de eu ter uma família, não uma família não, uma mãe normal, foi culpa sua cassete!
- O que você quer dizer com mãe normal?? defina para mim Rafael, agora mesmo. - Ela me desafiava com os olhos.
-Uma mãe normal, pensa sempre no melhor para os filhos, normalmente se preocupa com a saúde mental deles, pensa em primeiro lugar neles, não em trocar eles por um amante e esquecer deles por tanto tempo como você fez!!! Então não culpa a separação, culpe o seu próprio egoísmo!
-Então você preferiria que eu estivesse infeliz com o seu pai, para você Rafael, não se sentisse trocado?? O egoísta aqui é você, que só pensa na própria felicidade !!! Sua criança !!! Que decidiu fugir ao invés de me dizer isso na cara!!! Pensei que se eu fosse feliz você e sua irmã também seriam...- Ela se auto cortou, parecia que havia se tocado de algo muito importante naquele momento, provavelmente a ficha dela havia caído.
- Você acha mesmo que a gente não pensou o mesmo?? Se você fosse feliz nós também seríamos, o problema é que você não ligou de a gente estar de verdade feliz!!! Nós tentávamos, fingiamos até, mas não dá para fingir por tanto tempo um sentimento...- Fui cortado bruscamente.
- Rafael e Mãe??? O que vocês acham que estão fazendo gritando na porta???? Isso aqui é um prédio, vieram reclamar no meu apê porra...se querem resolver os ressentimentos, pelo menos entravam dentro do Apartamento!!! - Ela disse com as sobrancelhas franzidas e com um tom de voz elevado, ela diz que estávamos gritando, porém ela grita também.
- Eu não deixei ela entrar, até porque eu havia deixado claro que tinha cortado qualquer tipo de laços com...- Eu encarei Daisy. - Ela.
- Ah é? Então por quê escreveu no post it que eu deveria voltar quando quisesse ser uma "Mãe de verdade" - Ela fez aspas com os dedos indicador e o dedo médio. Daisy me imitou.- Aquele aviso tinha prazo de validade e expirou a muito tempo , a exatos três meses, três malditos meses, MÃE...- Eu comecei a chorar, igual uma cachoeira, só que com catarro e lágrimas ao invés de uma linda água azul. Senti uma abraço forte e palmadas nas costas. A pessoa se afastou e encarou meus olhos.
- Mano... deixa sua mãe entrar, pelos menos ela veio aqui, isso mostra que ela se importa com você, o suficiente para vir aqui te ver! - Eduardo me olhou com os olhos lagrimejantes, nunca o vira assim e eu entendia o porquê.
- Ah e Rafa a Bia recebeu uma carta de intimação, ela vai ter que sair do Prédio junto com família...
- Espera aí, mas por quê?? - Isso não fazia sentido.
- Lembra que você me disse que ela deu um tapa no filho dos donos? - Fiz que sim com a cabeça. - Pois então, esse foi o motivo.
Meu corpo se moveu sozinho, olhei para traz, encarei minha mãe, dizendo com os olhos que voltaria para terminar a nossa conversa, corri para o elevador e cliquei no botão do térreo, fui atrás de Bia. Depois de três minutos cheguei no térreo e vi Bia sentada na escada que dava para o primeiro andar, ela estava com a cabeça baixa, olhei para a recepção lá estava o Cézar e os donos e a mãe de Bia, discutindo em alto som, me aproximei dela e abracei, não sabia o que dizer, porém queria acalmar ela antes de fazer o que queria fazer havia muito tempo com Cézar.
☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆
Capítulo Ressentimento vai ter parte dois com a perspectiva da Bia. Espero que tenham gostado da
leitura DR de mãe e filho que precisava acontecer. Se gostou deixa a estrelinha e comenta o que achou de um dos capítulos mais emocionantes do livro até o momento.
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O Inverso de Rafa e Bia(EM EDIÇÃO)
Teen FictionUma fuga de três adolescentes, um encontro turbulento em um avião. Relação tumultuada de pais e filhos, uma jornada que mudará a vida de quatro adolescentes. #Capa permanente.