11. A Décima Primeira Queda.

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Thomaz Rizzi, 46 anos.

“Seus medos são seus piores castigos.”


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Me sentia sozinho, o tempo todo. Procurava um caminho para seguir, mas surgiam paredes em minha frente, de todos os lados cercado pelo desespero, a angústia e o pensamento de que seria muito mais fácil simplesmente desistir. Talvez eu devesse. O que estava me prendendo? Minha responsabilidade com a Cosa Nostra, o amor pelos meus filhos, mesmo que um deles não tivesse meu sangue? Com certeza um dos motivos. Mas me faltava coragem. Sempre fui narcisista e soberbo, terminar com a minha vida era uma forma covarde de partir. Eu queria ser lembrado como aquele que morreu em sacrifício, por um bem maior, não como um covarde insatisfeito com a própria existência fodida. O café da manhã na manhã seguinte foi rígido, silencioso e desagradável. Ninguém conversou muito, nem mesmo Cinzia e Alessa. Eu tinha a impressão que todo mundo sabia sobre a traição, mas que ninguém tinha coragem de falar em voz alta. Alessa era a única que parecia prestes a dizer algo, lançando olhares de censura e raiva para Carina, Alessia e Nico. Até mesmo cortar seus omeletes parecia algo que ela estava fazendo com ódio. 

Lorenzo terminou sua refeição e se colocou de pé. 

— Porque você não chama Jhenifer e Devon para o café? — Carina pediu. Haviam olheiras profundas sobre seus olhos, que estavam vermelhos. 

Meu sobrinho deu de ombros e caminhou para as escadas, completamente alheio ao que se passava entre os adultos. 

— Devon não está em casa. — Giulia disse em sua voz baixa e suave. Eu achava engraçado como minha sobrinha era sempre calma e polida. — Ele postou um story numa festa duas horas atrás. 

— Você está dedurando nosso primo? — Anna questionou de boca cheia. Alessia deu um tapinha na cabeça dela e ela engoliu antes de continuar. — Que feio. 

— Os story dele são públicos. Qualquer um pode saber, é só entrar em seu Instagram. — Giulia se defendeu sem sequer erguer a voz, mas suas bochechas coraram. — Tio Thomaz, podemos continuar com as aulas de defesa hoje? 

— Não tenho tempo hoje, querida. Mas assim que tiver te deixarei ciente. — Me desculpei. Eu tinha tempo, só não estava num humor bom para ser paciente e delicado com minha sobrinha. Treinar uma garota frágil como ela requeria paciência e eu não tinha nenhuma naquele dia. Samael revirou os olhos; ele era a favor de Giulia aprender a se defender, mas não conseguia ensina-la porque tinha medo demais de machuca-la. 

— Obrigada, tio. — Ela agradeceu em sua habitual voz doce. 

Eu estava prestes a dizer que não era preciso agradecer quando um grito soou no andar de cima. Me coloquei de pé num pulo, sacando minha arma. 

— SOCORRO! — Lorenzo gritou tão alto que eu senti retumbar dentro do meu peito. 

— Lorenzo? — Alessia exclamou aturdida, mas eu já estava correndo em direção a escada com todos os outros homens atrás de mim. 

No entanto, eu não consegui dar um passo a mais quando Lorenzo surgiu no topo dos degraus, todo encharcado, segurando minha filha no colo, seus cabelos vermelhos pingando água e sangue. Samael me empurrou para o lado, quase me derrubando da escada quando percebeu que eu fiquei paralisado, e correu em direção aos dois, puxando minha filha dos braços de Lorenzo. Carina gritou quando viu os pulsos de Jhenifer cortados, seu rosto lívido. 

A Queda Do Rei: Segunda Geração - Livro 3.Onde histórias criam vida. Descubra agora