6. Promessa De Sangue.

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Os gritos começaram assim que Nicolas começou a colocar o lençol na grade e quanto terminou, se virando para mim, seu rosto estava profundamente vermelho. 

— Feito. — Nicolas disse se sentando no chão, observando com olhos curiosos meus movimentos.

Me posicionei de frente para a beliche e pedi a Deus para que eu conseguisse quebrar aquela merda num ângulo decente. Porra, Nino nunca fez tanta falta. Ou Giulia. Minha sobrinha também era ótima nessas coisas. 

Ergui a bandeja e a bati contra a madeira da beliche, quebrando-a ao meio. Porra. Pelo menos agora eu tinha duas chances de fazer algo decente. 

Era engraçado como a vida era surpreendente. Eu passei todos os anos anteriores com armas caríssimas, facas tão afiadas que cortavam até o vento, e agora estava quebrando uma bandeja plástica em busca de criar algo para me defender de um bandido de merda. 

Bati a primeira parte contra a cama e soltei um respiração dura. Quadrada. 

— Quer que eu tente…? — Nicolas perguntou em voz baixa. 

— Não, é melhor que eu sinta raiva de mim do que de você. — Respondi. 

Com toda certeza. Eu não podia fazer nada contra mim, mas provavelmente quebraria o nariz dele se ficasse com raiva dele.  

— Você vai conseguir. — Ele torceu. 

Revirando os olhos, acertei a segunda parte contra a cama. Nicolas bateu palmas. 

— Deu certo! 

O pedaço de plástico em minha mão estava semi triangular, com uma ponta afiada, mas grosso o suficiente para não quebrar se eu o enfiasse na barriga de alguém. 

Eu era bom de briga. Sempre havia sido. Não se tinha outra escolha quando você nasce herdando todos os inimigos de sua família, no entanto, eu também era acostumado com o conforto e com inimigos justos. Havia honra na máfia, nós lutavamos em números iguais, exceto quando entravamos em guerra, não atacavamos pelas costas, não éramos covardes.  Ali eu tinha uma briga suja, com um homem sem honra, que não ligava para o que os outros pensariam se ele atacasse alguém de maneira covarde. 

Eu nunca havia vivido em um mundo sem honra. 

— Vai comprar batata hoje? — Nicolas perguntou depois de tirar o lençol das grades. 

— Meu filho vem hoje. — Puxei meu travesseiro e tirei o cartão de dentro dele. — Compre um monte de coisas, não vou jantar hoje, Devon vem às sete. 

— É uma merda que o horário de visitas seja na hora do jantar. — Nicolas revirou os olhos ao pegar o cartão. — Pergunte ao Devon como Liam está? 

— Claro. — Respondi mesmo sabendo que Devon não saberia. Não era difícil ler meu filho, e eu sabia que ele não conseguiria manter uma relação de amizade com a pessoa que ele amava. Devon era como eu, preferia cortar os laços, puxar o curativo de uma vez. Era melhor doer na hora do que todos os dias. 

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Eu respirei fundo tentando conter a agitação dentro de mim depois da visita de Devon. Meu filho era incrível, um homem bom e íntegro, algo que eu nunca cheguei perto de ser. Eu só queria que ele tivesse mais tempo consigo mesmo, mais tempo para crescer e aprender a ser melhor antes de se relacionar tão profundamente em um casamento, antes de tomar as responsabilidades de Capo. Eu queria que Devon tivesse tempo para amadurecer. 

Mas ele não tinha. 

Porque eu havia o colocado naquela posição. 

Ainda assim não conseguia sentir culpa. Eu merecia estar preso, merecia todas as coisas ruins que estavam acontecendo; o frio, a escassez de comida, o medo de ser apunhalado pelas costas. Eu tinha que pagar por meus pecados e aquela era a única forma. Um homem bom nunca faria tal coisa com sua família, mas eu nunca tinha sido um homem bom. Eu era um misto de quebras e quedas. Nunca bom o suficiente, mas sempre mais cruel do que deveria. 

A Queda Do Rei: Segunda Geração - Livro 3.Onde histórias criam vida. Descubra agora