12. A Décima Segunda Queda.

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Thomaz Rizzi, 48 anos.

Sabe o que faz a decepção ser tão cruel? É o fato de que ela sempre vem de quem você ama.



É engraçado como quarenta e oito segundos podem mudar sua vida para sempre. Menos de um minuto e tudo que você acredita é destruído. Menos de um minuto e sua vida vira de cabeça para baixo. 

Pensei que era mais uma fofoca de jornalistas quando recebi um e-mail intitulado: o que Jhenifer Rizzi faz em Las Vegas.

Mas não era uma fofoca. Era um vídeo de quarenta e oito segundo onde eu pude ver minha filha e meu sobrinho fodendo contra uma parede. Revi o vídeo mais de dez vezes tentando processar aquilo, procurando uma forma de explicar para o meu cérebro aquelas imagens incompreensíveis. Por mais cruel que parecesse, eu queria que ela estivesse sendo forçada àquilo, que não fosse de sua vontade. Mas não, Jhenifer estava aproveitando cada fodido segundo e os seus gemidos altos jamais sairiam da minha mente. 

— Trouxe um lanche. Você está aqui há horas. — Carina avisou entrando no meu escritório sem bater. Eu continuei olhando fixamente para a tela que reprisava os quarenta e oito segundos infinitamente. Eu estava fazendo isso por mais de uma hora e nem mesmo a presença da minha esposa me fez parar. — Thomaz? Você está pálido… Está tudo bem?

Carina se aproximou para olhar a tela do computador depois que eu continuei em silêncio com os olhos fixos no monitor. Ela soltou um arquejo de susto e se apoiou no meu ombro como se fosse cair. Eu tinha a mesma sensação. Se não tivesse sentado, provavelmente teria caído no chão e ficado lá por uma hora. 

— Thomaz… — Carina disse baixinho, apertando meu ombro. — O que você vai fazer? 

— Matar os dois. — Sibilei. 

— Você vai matar nossa filha e nosso sobrinho? — Ela perguntou cética. — Thomaz… 

— Porque as pessoas continuam me decepcionando tanto? — Perguntei me colocando de pé. Carina não respondeu conforme eu tirava o telefone do bolso e mandava uma uma mensagem para Nico. 

EU: Estou saíndo de New York, indo para Las Vegas. Autorize meu pouso.

NICO: Ok. Porque?

Não respondi. 

O sangue corria tão rapidamente em minhas veias que eu podia ouvi-lo em meus ouvidos. Eu mal notei Carina me seguir de um lado para o outro através da casa e depois para o carro, também não notei o trajeto até a pista privativa, não registrei nossa entrada no avião e minha esposa teve que me sacudir para que eu afivelasse o cinto. Continuei em silêncio durante a viajem, encarando a janela que dava vista ao céu nublado que era um reflexo do meu interior conturbado. Eu me sentia numa espécie de perda, passando pelos estágios do luto. Primeiro veio a negação, agora eu só sentia raiva. 

Mas o pior não era a raiva. O pior era quando eu fechava os olhos e revia com nitidez minha filha gemendo contra uma parede, jogando fora todo o futuro brilhante que construí para ela através de um fodido e pecaminoso incesto. A decepção era como uma faca sendo enfiada em meu peito; dolorosa e afiada, não dava trégua. Eu mal conseguia respirar. O que eu havia aprendido sobre a decepção era que ela doía tanto porque sempre vinha acompanhada da surpresa. Seu inimigo não tem o poder de te decepcionar porque você espera qualquer coisa dele, mas das pessoas que você ama, você nunca espera uma traição. Meus pensamentos desciam e subiam como uma montanha russa de desespero; eu tentava pensar racionalmente, mas tudo que sentia era a dor de ser traído. Novamente. Será que todas as pessoas que eu amava me decepcionariam? Sufoquei uma risada histérica quando pensei sobre isso; havia uma pessoa que nunca me decepcionaria porque eu o havia criado para ser idêntico a mim. Eu havia sido duro e mesquinho para que ele aprendesse comigo como a vida seria cruel e nada gentil. Eu havia feito aquele garoto minha imagem e semelhança e mesmo sendo um completo monstro com ele, eu via em seus olhos que eu nunca precisaria me preocupar em ser apunhalado por ele. Ele seguiria nossas tradições, seguiria nossa família, me orgulharia. 

A Queda Do Rei: Segunda Geração - Livro 3.Onde histórias criam vida. Descubra agora