13. A Décima Terceira Queda.

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Thomaz Rizzi, 48 anos.

O melhor presente que posso te dar, é ficar longe de você.”

Abri a porta do quarto de Devon com lentidão, buscando fazer o mínimo barulho possível. Encostado contra o batente, eu observei os dois garotos na cama dormirem. Liam Black, como descobri se chamar, mal se mexia durante o sono profundo, a respiração rasa e lenta. Devon, ao contrário dele, rolava de um lado para o outro, me dando agonia só de observar. Por fim, Liam se remexeu na cama e abraçou Devon; meu filho parou de se remexer instantaneamente, se aconchegando contra o outro garoto. 

— Amo você. — O garoto murmurou ainda de olhos fechados, mas eu percebi que ele estava acordado quando começou a acariciar os cabelos de Devon. Como se fosse só aquilo que precisava para dormir sem rodar por toda a cama, meu filho suspirou em seu sono, parando de se mexer de vez. 

Continuei parado ali por tanto tempo que minhas pernas estavam duras e doloridas. Eu não sabia o que sentia ao ver aquela cena, mas não era a raiva que esperei. Devon quase nunca dormia e quando dormia se mexia tanto que era agoniante de se ver, mas quando o garoto o abraçou, ele adormeceu de vez, sem sequer se mexer. Eu sabia como era aquela sensação, havia passado por ela quando me casei com Carina. Meu sono era perturbado e raro, toda a noite eu procurava por ela e acordava com ela me abraçando, assim como os dois. 

Talvez a raiva não veio porque Devon nunca tinha me dado motivos para sentir raiva, talvez porque ele estava feliz, talvez porque eu sabia que ele não deixaria aquela relação ir longe. Talvez porque eu quisesse que Devon sentisse aquela felicidade no tempo que restava antes dele se comprometer de vez com a Cosa Nostra. Talvez porque eu sabia que não tinha tanto tempo com meu filho e queria vê-lo feliz nesse interim. 

Devon acordou depois de horas, esfregando a cabeça contra o peito de Liam como um gato faria e eu quase ri. Era engraçado como duas pessoas apaixonadas agiam. Devon se espreguiçou e abriu os olhos azulados, piscando várias vezes. Lentamente ele se virou e beijou o rosto de Liam várias vezes antes de selar seus lábios contra os dele; eu observei aquela interação com um misto de curiosidade e culpa por testemunhar algo tão íntimo. 

— Amo você. — Devon disse num sussurro. Que coisa engraçada! Eles só diziam que se amavam quando uma das partes estava dormindo!

Devon se levantou da cama com cuidado, esfregando os olhos e bocejando, mas ele congelou quando me viu na porta, o corpo todo ficando tenso, a boca se abrindo em choque. E medo. Muito medo. 

Suas mãos tremeram e ele as apertou, os olhos tão arregalados que pareciam prestes a saltar do rosto. Ele não estava só com medo, ele estava apavorado. Saber que meu filho estava aterrorizado por minha causa foi como receber um soco no estômago. 

Continuei com os braços cruzados, esperando que ele falasse alguma coisa, mas Devon pareceu ter perdido a fala e até mesmo a habilidade de se mexer.

Devon se encolheu por completo, parecendo prestes a sair correndo, mas ele olhou para Liam e simplesmente ajeitou sua postura, caminhando em minha direção mesmo que fosse visivelmente a última coisa que ele quisesse fazer. Eu saí do quarto com um suspiro e ele me seguiu. 

Meu filho tremia tanto que me preocupei que ele fosse cair a qualquer momento. Nem quando eu o baleei sem querer, aos onze anos, ele pareceu tão amedrontado. Aquele dia havia sido uma merda e eu fiquei irritado na mesma proporção que fiquei preocupado. Ele simplesmente saiu correndo da casa, com Jhenifer o perseguindo aos gritos, e a bala que eu atirei em direção ao alvo acertou seu braço de raspão. Foi uma confusão que seguiu, conforme eu quase chorava, Samael ria como um idiota. Naquele dia Devon mordeu os lábios e engoliu o choro, mas agora ele parecia completamente destruído. 

A Queda Do Rei: Segunda Geração - Livro 3.Onde histórias criam vida. Descubra agora