7. É Assim Que Acaba.

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Encaro a vida da mesma forma que encaro o mar. Se as ondas são tranquilas, deixo que elas me levem, se o mar se revolta, eu luto contra ele com todas as minhas forças. Isso sempre deu certo, até o momento em que decidi parar de lutar. As ondas calmas me arrastavam, as ondas fortes me derrubavam. Qual o sentido de lutar quando você não está lutando por nada? 

Pare de lutar. 

Pare de adiar o inevitável. 

Deixe que as ondas te afoguem, que o mar te derrube. 

Para que lutar? Você não vai conseguir. 

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Divido minha atenção entre a porta da cela e meu coração acelerado. Sempre fui paranóico, mas hoje me sinto dez vezes pior. A morte espreita em cada canto do mundo, mas na Rikers Island ela pode te pegar num piscar. Nicolas se levanta quando o sol raia e eu desvio os olhos quando ele vai mijar. Não dormi nada durante a noite, não ousando fechar os olhos porque a qualquer momento poderia ser apunhalado pelas costas; passei toda a noite deitado com minha faca improvisada firmemente apertada em meu punho. 

Nicolas lava as mãos e escova os dentes antes de se virar para a beliche; meio sonolento e com o rosto amassado, ele sobe pela escada metálica e senta na ponta do meu colchão. O olho com confusão. 

— Dorme. Vou vigiar e te acordar quando as portas abrirem. — Nicolas avisa com os olhos fixos na porta, apesar de bocejar, seus olhos estão em alerta. 

— Porque eu confiaria em você? — Pergunto. A falta de sono, a privação de comida e o estado de total paranóia que eu me encontro me faz questionar tudo e todos. Nicolas abre um sorriso cansado e balança a cabeça. 

— Dorme. — Repete. — Você sabe que estou do seu lado. 

— Sei? — Pergunto com os olhos pesados. Nicolas dá um tapinha em minha perna. 

— Sabe. 

Assinto, afinal, eu sei mesmo. Deixo que meus olhos se fechem e caio em sono profundo rapidamente; mais de vinte quatro horas acordado resultava em exaustão. Eu não posso estar exausto quando espero um ataque. 

Quando acordo, não sei se passaram segundos, minutos ou horas, mas Nicolas está me sacudindo na cama. Me sento tão rápido que quase bato a cabeça contra a dele, é aí que assimilo o barulho ferrenho do lado de fora. 

— Rebelião! — Nicolas grita pulando para o chão. — Há uma rebelião! 

— O que isso quer dizer, porra? — Pergunto indo para o chão também, o sono sendo esquecido de imediato, meu corpo todo ficando tenso. 

— Porra! — Nicolas grita novamente e soca a pia. — Vão trancar o complexo! Eles estão se manifestando, as portas de saída serão fechadas, os guardas não entrarão. Se sair do controle, a SWAT vem. 

Mais gritos seguem do lado de fora. Eu olho ao redor, procurando a fonte, mas é uma confusão generalizada. Do outro lado do pavimento noto um guarda tentar sair pela porta, mas ele é agarrado por um detento. Acho estranho porque todas as celas estão trancadas, mas logo vejo T-Dog vir atrás do guarda, empunhando uma faca real. 

— Eles vão mata-lo? — A pergunta se enrola em minha língua. Nunca havia sido contra assassinato, mas a morte de inocentes me afetava. 

— Vão usá-lo em troca de suas exigências e talvez o matem. — Nicolas responde com um suspiro. — Pobre Jack. 

— Porra. 

— EU QUERO AS CELAS ABERTAS, OUVIRAM? OU ABREM TODAS AS CELAS, OU EU MATO O FILHO DA PUTA! — T-Dog grita se aproximando do guarda. Com crueldade, ele corta o rosto do homem que grita. 

A Queda Do Rei: Segunda Geração - Livro 3.Onde histórias criam vida. Descubra agora