14. A Última Queda.

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A última queda. 
Thomaz Rizzi, 48 anos.

“Um rei dobra o destino ao seu favor.”

Devon provou que onde estavam suas prioridades quando partiu para o aeroporto com Liam. Por algum motivo ele estava sem carro e eu acabei o levando até o aeroporto com Gabriel ao meu lado. Meu filho mais novo estava em New York em suas férias da escola, parecendo feliz e saudável. Me despedi de Liam com um aceno, me lembrando de suas palavras na festa que Devon dera em minha casa. 

Cuide dele. Prometa. Ele pode parecer forte e durão, mas ele precisa de carinho. Ele precisa de você, ele ama você demais. Prometa.

E eu prometi mesmo sabendo que não teria tempo para cumprir minha promessa, mas eu estava feliz. Estava feliz por meu filho ter tido um amor de verdade, algo pelo qual a vida valia a pena, estava feliz por Liam ter se curado e estar indo para Harvard, viver uma vida feliz. Devon me olhou por um momento antes de se afastar e eu sorri minimamente. O plano era que ele ficasse uns dias em Cambridge, mas pelo olhar em seu rosto, eu sabia que ele não iria. 

— Seu milkshake? — Perguntei a Gabriel depois de ver meu filho mais velho se afastar. 

— Sim! — Ele exclamou estendendo a mão para mim e eu segurei mesmo não sabendo direito como fazê-lo. Os gêmeos corriam de um lado para o outro quando eram crianças, mas Gabriel era suave, segurava a mão dos adultos para caminhar por locais públicos. 

Apoiado na pilastra ao lado do balcão, onde eu podia observar nossos arredores sem dar as costas a ninguém, eu vi quando Devon desceu as escadas rolantes, o rosto vermelho, os olhos brilhando por lágrimas que ele se impedia de derramar. Meu coração apertou com aquela visão, com a forma que ele parecia destruído e desesperançado. Me afastei da pilastra, caminhando em passos controlados até Devon, mesmo que eu quisesse correr em direção a ele. Parei em sua frente e ele fez um esforço enorme para tentar parecer composto, mas um soluço escapou e eu mandei para o inferno todas minhas regras sobre demonstrações públicas de afeto e o abracei, passando um dos meus braços ao redor de sua cintura e encaixando o outro em sua nuca. Devon enterrou o rosto na curva do meu pescoço e chorou desesperado, sons incompreensíveis saindo de sua garganta e rasgando meu coração. 

— Vamos para casa, Dev. — Eu pedi em voz baixa, tentando ser o mais suave que podia. Pela primeira vez na vida não precisei forçar, minha voz estava branda sem esforço. — Em casa tudo vai ficar bem. 

Chamei Gabriel e novamente me impressionei com sua rapidez em responder; ele deu um último gole no seu milkshake e pulou de pé, estendendo sua mão. Segurando a mão de Gabriel e com um braço ao redor dos ombros de Devon, os guiei para fora do aeroporto. O sol do lado de fora estava agoniante, quente e brilhante, irritando meus olhos claros e sensíveis. Era bom ter Gabriel comigo, mesmo sabendo que ele não tinha meu sangue, eu o amava e sua presença me trazia conforto. Observei Devon encarar o sol franzindo as sobrancelhas e um sorriso bobo tomou seu rosto; eu quase sorri também. Uma sensação de alívio e temor me tomou quando vi o esquadrão do FBI caminhar em nossa direção; Janet Jackson estava na frente, liderando o grupo, um sorriso tentando se espreitar. Ela se sentia triunfante, vitoriosa, achando que tinha conseguido me pegar, mas não sabia que eu tinha lhe dado as provas contra mim. Parei no meio do estacionamento e me virei para Gabriel. Meu filho me encarou com certa confusão, mas sorriu quando beijei sua testa, parando na altura dos seus olhos. 

— Espere o papai no carro. Devon e eu vamos ter uma conversa de adultos agora, certo? — Pedi gentilmente, ignorando o bolo na minha garganta. Um pai tinha o direito de impedir seu filho pequeno de testemunhar sua prisão. E ele era meu. Não importava de quem era seu sangue, Gabriel era meu. — Amo você, Gabriel. 

— Amo você, pai. — Gabriel respondeu com um sorriso enorme, parecendo profundamente feliz em ouvir aquilo. Acariciei seu rosto antes de me levantar e Gabriel correu em direção ao carro. 

Devon me encarava com um misto de ciúmes e preocupação. 

— Thomaz Rizzi? — A agente do FBI perguntou, era uma mulher alta, vestida toda de preto, com cabelos loiros que voavam no vento do estacionamento. Os homens atrás dela se aproximaram mais, cercando meu filho e eu, mas não me importei. Janet poderia esperar, eu ainda não tinha acabado. 

— Pai? — Eu me virei com um sorriso pacífico. Eu queria mais tempo com ele depois desse momento difícil, mas me sentia aliviado por ter chego ao fim. Abracei Devon apertado, tão apertado que ele arquejou. — Pai? 

— Você é o meu maior orgulho, a minha mais bela criação. — As palavras saíram duras, mas banhadas de honestidade e amor. Eu suspirei em seus cabelos, absorvendo seu cheiro, a maciez de sua pele ao abraça-lo por uma última vez.  — Eu te amo com a porra da minha vida, Devon. Eu confio em você, eu acredito em você. Seja o que eu te ensinei a ser. Seja meu herdeiro, seja o Capo que a Cosa Nostra precisa. 

— Pai? — Devon chamou mais alto, desesperado. 

— Thomaz Rizzi? — Janet voltou a repetir, impaciente. Tive que suprimir a vontade infantil de revirar os olhos. 

Tirei do meu dedo meu anel de Capo, a maior prova da minha posição, a jóia mais cara e importante que eu tinha. Meu pai não tinha me dado ele, eu o arranquei da mão de seu cadáver quando fiquei sozinho com ele outra vez. Eu arranquei meu direito de primogenitura das mãos indignas daquele fodido monstro. Segurei a mão de Devon e coloquei o anel em sua palma, fechando-a quando ele pareceu prestes a me devolver e me virei para a agente. 

— O próprio. — Disse-lhe com um sorriso frio, achando profundamente divertido que ela pensasse que algum dia pudesse ter me prendido sem minha ajuda. Eles eram ratos diante de mim, ansiosos por migalhas. Eu era cuidadoso, calculista e inteligente; eu escolhia meu caminho, eu dobrava o destino sob minha vontade, eu era o único capaz de me destruir. 

Eu era o rei que derrubou o rei.

— Você está preso por tráfico de drogas e estelionato. — Ela disse com uma expressão triunfante, parecendo prestes a dançar pelo estacionamento. Meu sorriso se alargou. — Você tem o direito de permanecer calado, tudo que você disser poderá e será usado contra você diante do tribunal. 

Ergui os braços, apresentando meus pulsos. O agente ao lado dela prendeu as algemas e o sorriso continuou em meus lábios, frio e arrogante, uma prova viva de quem eu era. 

— Parabéns, Jannet. Você conseguiu né pegar. — Uma risada desdenhosa saiu de mim, algo cru e zombeteiro que deixou Janet vermelha.  — Só não sei por quanto tempo. 

Lancei um último olhar para Devon, tentando transmitir sem palavras toda confiança e amor que eu nutria por ele. Ele estava em choque, totalmente desolado, mas aquilo passaria. Devon minha cópia, criando para ser minha imagem e semelhança. Ele nunca se dobraria, sempre acharia uma saída. Ao contrário de mim, ele nunca desistiria. Devon era uma força da natureza e ele destruiria tudo que fosse contra ele. 

Meu maior orgulho. 

Continuei sorrindo quando fui arrastado para o carro, amando que os celulares que me fotografavam dariam aos tablóides uma imagem perfeita: Thomaz Rizzi sorrindo ao ser preso. 

Foi assim que eu caí. 
Não pelas mãos do destino, mas por minhas próprias. Um rei molda seu caminho, não ao contrário. 

Desfilei entre celulares e agentes do FBI, sorrindo como se fosse uma estrela, o narcisismo tomando meu ser.

Nunca esqueça que você é um bom garoto.

Nunca esqueça de quem você é, Thomaz. Um monstro.

Nem um, nem outro. 
Eu era o rei.

A Queda Do Rei: Segunda Geração - Livro 3.Onde histórias criam vida. Descubra agora