5. Aliado.

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Meus dentes estavam batendo e meus pés estavam tão gelados que tinha certeza que meus dedos iriam cair. Eu me sentei na beliche dura, não aguentando mais ficar deitado, antes de pular no chão. Nicolas resmungou alguma coisa. 

— Estou congelando… — Ele disse mais alto. 

— Alguém faz alguma coisa! — Um dos detentos ao lado gritou. 

Minhas meias finas não eram suficientes para barrar a friagem do chão e eu estremeci assim que o toquei com minhas solas. Fazia tanto frio na prisão de pedras que eu poderia muito bem estar andando pelado no Alasca. 

— Eu vou morrer aqui! — Outro gritou. 

Como um estopim, vários e vários presos começaram a gritar e bater contra as grades. Estava escuro e eu mal conseguia ver nada na minha frente, mas as luzes repentinamente foram ligadas. 

— Não podemos fazer nada! — Um guarda gritou no centro do pátio térreo, erguendo as mãos. — Também estamos com frio! Não dá pra fazer nada! Os aquecedores quebraram! 

— Filho da puta! Eu tô azul de frio! — Alguém gritou de algum lugar que eu não podia ver. Caminhei lentamente em direção as barras da cela e encarei os arredores. Diversos homens estavam de pé, mas a maioria permanecia deitada. Luke do outro lado do salão balançou a cabeça estarrecido. 

— Thomaz… — Nicolas chamou com a voz fraca. Eu me virei para ele; na luz ligada pude ver seu rosto pálido e seus lábios roxos; eu tinha uma boa disposição para aguentar situações extremas, mas ele não. 

— Levante. — Eu ordenei puxando o braço dele. Nicolas estremeceu visivelmente. — Você precisa se aquecer. Comece a fazer exercícios, o que diabos souber fazer antes que congele. 

A gritaria lá fora continuou, o guarda tentando argumentar, os presidiários berrando que estavam com frio. Como pessoas adultas poderiam ser tão burras. Nicolas ficou de pé e eu o soltei; com muita dificuldade ele começou uma seção de polichinelos descoordenados e eu teria rido se não estivesse morrendo de frio. 

— Escutem! — Gritei me aproximando das barras de ferro. As pessoas abaixo de mim não podiam me ver, mas os que estavam de frente para minha cela, nos dois andares, me encararam. — Comecem a fazer exercícios. Polichinelos, flexões, abdominais, qualquer coisa. Isso vai aquecer vocês. 

— É hora de dormir! — O cara do lado da minha cela gritou. 

— Então durma e morra de frio, porra! — Exclamei irritado. 

Não esperei que eles aceitassem ou não; me voltei para o chão da cela e desci para minhas mãos e pontas dos pés, iniciando uma série de flexões. Minhas palmas contra o chão pareciam prestes a congelar e quebrar, mas eu continuei porque sabia que a dor do começo valeria a pena quando eu estivesse suado e aquecido. 

— Isso vai dar certo? — Nicolas perguntou descrente, mas continuou fazendo seus polichinelos ridículos. 

— Sim. Continue até dar certo. — Murmurei com a respiração ofegante, meu corpo subindo e descendo diversas vezes conforme eu executava as flexões uma atrás da outra. 

Ainda que estivesse morrendo de frio, eu não consegui me arrepender de ter dado ao FBI o que me incriminou. Tudo de ruim que acontecia era uma forma de pagar por todas as coisas horríveis que eu tinha feito; a comida ruim, a privação de liberdade, o frio congelante, nada daquilo poderia compensar o quanto eu era horrível. 

As flexões se tornaram penosas depois de um tempo, mas felizmente meu corpo estava agitado e quente, o suor escorrendo por meu rosto até atingir o chão. Pulei de pé aproveitando o cansaço e o calor para voltar para a cama. Nicolas havia desistido dos polichinelos e estava apenas pulando em seu lugar, pelo menos ele estava suando. 

A Queda Do Rei: Segunda Geração - Livro 3.Onde histórias criam vida. Descubra agora