-capítulo 34

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Eu caí, meus joelhos gritaram de dor pesadamente no chão. Parecia que meus olhos queriam pular pra fora.
Mais uma porta se fechou, eu corri até ela, para tentar abrir, eu bati, eu implorei para ser aberta novamente, mas quando a morte fecha, a vida fica incapaz de abrir.
Eles estavam amarrados pelas as mãos, em volta de uma poça de sangue enorme.
Eu fui me arrastando até lá, tocando no sangue dos meus filhos, os mais pesados de se ter nas mãos. Eu tentei não gritar, o que ficou inevitável, eu queria morrer dessa vez, eu cheguei ao limite.
Toquei seus rostos, na esperança de ser uma brincadeira, na esperança deles ainda respirarem. Mas seus olhos estavam vermelhos de sangue, abertos, mortos.
Mais uma parte de mim acabou de morrer, não está sobrando quase nada.
A dor no peito apertava mais e mais, a tempestade aumentava mais e mais.
Eu fiquei ali, chorando, segurando os corpos dos meus filhos mortos, por um bom tempo, um maldito tempo, o pior tempo que já tive.
Eu olhei em volta finalmente, meus olhos estavam pesados, eu cheirava a sangue, eu estava vermelha.
Lisa estava ali o tempo todo, estavam vermelha também, seus olhos pareciam uma pintura de aquarela, mas suas roupas tinha sangue, sangue dos meus filhos, e eu senti muito ódio.
Como ela conseguia ver tudo aquilo?
Enfurecida, e com as forças do além, eu me levantei e fui até onde ela estava sentada, olhando para o chão enquanto lágrimas caíam por seu rosto. Eu queria a matar, mas eu nunca teria coragem de fazer isso.
Eu lhe dei um tapa no rosto, o mesmo que vi ficar vermelho na hora, a mesma apenas continuou olhando para o chão, esperando por mais.

- por que você fez isso Lisa? por que? Eles, eram meus filhos, as pessoas que eu mais amava Lisa, VOCÊ NÃO ENTENDE ISSO?- gritei caindo no chão novamente e olhando para ela- o que você tem na porra da sua cabeça? merda? Por que você só sabe fazer merda Lisa- eu esperei, mas nada ela falou- porque você não me deixa em paz? Por que não some da minha vida e deixa eu ser alguém normal

- por que eu te amo muito Jisoo, eu não sei o que fazer, sinto muito- imóvel, ela não conseguiu me olhar- tudo te impedia de vir comigo, agora não tem mais nada

-MAS VOCÊ PENSOU NO QUE EU QUERIA ? VOCÊ PENSA LISA?

- eu fiz tudo por amor.

- a porra de um amor que me custou muito caro, todas-todas as coisas que você fez...- eu buscava forças para continuar falando

- não pense que foi fácil pra mim, todas as vezes eu só percebi o que fiz, depois de ter feito, eu tenho o mesmo peso que você, mas em dobro, eu juro que queria as coisas normais, mas com elas, eu não teria você e ninguém entende a falta de oxigênio é isso

Sentia que não poderia parar de chorar.
Lisa então me olhou, ela pediu desculpas e saiu na chuva. Eu não pude falar nada, não conseguia novamente.
Eu tinha que olhar para trás, olhar a cena novamente, mas eu não queria.
Fiquei quase uma hora no chão, derramando o líquido que não existia no meu corpo.
Ainda manchada de sangue, eu saí arrastando os pés. A chuva estava ainda mais forte, com trovões e relâmpagos, ela representava a dor que eu estava sentindo.
As ruas estavam desertas, era domingo e não tinha comércio.
Eu sabia o que estava indo fazer, o que queria e onde. Mas eu me pergunto, isso valeu a pena? A minha irmã passou a infância em castigos, tentando me ensinar a falar, e eu nunca consegui, eu parecia uma covarde. Eu perdi quase todos, pelo o meu silêncio, isso é a definição de karma? Lisa é meu karma? Eu merecia tudo isso?
Eu sentia que sim.
Nunca achei que algo que parecesse tão bobo, iria tirar o meu chão.
Era tudo culpa minha, culpa do meu silêncio. Como eu poderia culpar a Lisa? Como eu poderia ser tão egoísta? Eu era tudo o que Jennie dizia. Eu pude, eu tive as oportunidades de falar, antes que algo pior acontecesse, mas eu me calei, porque Lisa preenchia a porra daquele vazio maldito, e porque eu era uma grande covarde, que tinha medo do que as pessoas iam falar.
O sangue dos meus filhos estavam nas minhas mãos, assim como o de Jin e Jennie, eu os matei com o meu silêncio, eu os matei sem ter matado.

Eu cheguei na ponte, descalça, estava toda encharcada, uma mistura de chuva e sangue, minha pele estava muito úmida e fria, mas eu não me importava com isso.
Eu não conseguia chorar, me sentia seca, destruída e culpada, eu precisava morrer, eu precisava pagar pelo o que fiz.
Me aproximei da ponte, olhando o rio lá embaixo, ele estava com a correnteza forte por causa da chuva.
Parei alguns segundos, sentindo a chuva no meu rosto pálido, eu parecia uma morta.
E como uma maldição, ou esperança, um carro preto de grande porte buzinou perto do meio fio. Olhei para trás e vi o vidro ser baixado.

- não faça isso, por favor, eu preciso de você- falou, seus olhos transmitia desespero, tudo o que ela tinha feito para me ter, seria inválido, ela me perderia e nada valeria a pena- você ainda me tem, não é o fim

Eu sou uma grande imbecil, mas ela estava certa.
Eu via nos seus olhos, o que ninguém seria capaz de ver, eu tinha aquilo, nós tínhamos aquilo no olhar. Ela foi a única que me restou, de todas as portas, a dela nunca se fecharia.
Ela tinha feito tudo aquilo, para me ter, apenas para ficar comigo, e eu nem valia a pena.
Ela precisava de ajuda, ela precisava de mim, todas as suas ações, seu desespero, ela estava caindo, e com medo, me levou na queda.
Era ridículo, mas tudo acabaria assim? eu me mataria e tudo que aconteceu foi pro beleléu? Todos que morreram, morreram por nada? eu vou me matar e para todos isso não vai passar de uma tragédia.
Ela amaria de novo e faria isso com outra família? Não permiteria.
Se ela pode me matar, o que teria de ruim? Eu já estou morrendo.
Eu precisava de ajuda, ela precisava de ajuda.

Talvez essa tenha sido a minha pior decisão, talvez entrar no carro fosse dar adeus ao mundo.


obsession- Lisoo (+chaennie)Onde histórias criam vida. Descubra agora