AKUTAGAWA RYUUNOSUKE
❝ Se o preço a se pagar por te amar é estar constantemente ferida, eu estou disposta a pagá-lo. ❞
—|🌙|—
As nuances da noite tomavam o céu de Yokohama, noite de lua cheia e brilhante, posicionada no topo do céu. Seus passos sob a luz dela eram vagos e lentos, você não temia andar sozinha pela noite, não importava o quão sombria fosse ou o quão desertas estivessem as ruas. Seus pés andavam sem rumo, tal qual sua mente, completamente perdida e afogada no oceano dos próprios pensamentos. Você estava em um grande problema, do qual sabia não ter solução, mas tinha nome, sobrenome e apelido: Akutagawa Ryuunosuke, o cão infernal da Máfia do Porto. Um problema e tanto.
Você já nasceu problemática: filha de um integrante do alto escalão da Máfia, os problemas só cresceram quando você foi induzida a estudar para ser uma advogada da Máfia. No início, tudo aquilo parecia ridículo, mas você estava de mãos atadas e incapaz de se impor contra seu pai e o chefe dele, Mori—seu futuro chefe. Repentinamente as coisas começaram a mudar: você conheceu Akutagawa. Ele não era nenhum anjo, tampouco amigável, e o que deveria te repelir, te atraiu. Talvez fosse a boa aparência dele ou alguma síndrome de salvadora se manifestando ao notar o vazio nos olhos dele. A única coisa que sabia era que queria estar próxima a ele. Passou a se esforçar mais, sempre visitando seu pai na sede da organização, assim o via com frequência. Seu coração flutuava toda vez e o fardo que lhe foi posto nas costas, parecia mais leve.
Ainda que ele fosse um criminoso e, de início te tratasse feito lixo, seu coração o acolheu e você se viu apaixonada pelo rapaz de cabelos escuros como a escuridão do coração dele, mas de pontas tão puras quanto o seu próprio coração.
Na primeira vez que o vira foi em um dos corredores escuros do prédio que frequentava graças ao seu pai. Você estava em um dia péssimo, com um humor digno de um dragão após ser incomodado, tudo por culpa daquele que controlava sua vida. Seus passos eram duros e barulhentos com o efeito das botas chocando-se contra o piso, até que o som começou a se elevar, e você perceber que não estava sozinha no corredor. Caminhando na direção oposta à sua, você avistou um dos mais temidos integrantes da Máfia. Um arrepio percorreu seu corpo, mas seus pés continuaram marchando, tentando se manter firme com a aura dele. Em nenhum momento ele te olhou, até estarem lado a lado, seus olhos curiosos perante os traços deles foram pego em flagrante pelas orbes cinzentas, e foi como se cada passo fosse dado em câmera lenta. Um breve momento, longo o suficiente para interromper sua caminhada e se virar para observá-lo; apenas para vê-lo se afastar sem olhar para trás, como se não tivesse visto nada.
Naquele momento, de fato, você era um nada para ele.
Com o passar do tempo, você deixou de ser um nada para ele e ele deixou de ser alguém a se temer para você, até o ponto que se encontravam: apaixonados, mas separados. Akutagawa não era perfeito, ele não sabia lidar com o que sentia por você e por isso te repelia, mesmo que você tentasse o tempo todo estar próxima. Ele não sabia se era capaz de te amar sem te machucar, o que pouco importava para ti, a única coisa que queria era tê-lo.
Seu passeio sem rumo havia ganhado uma direção quando se deu conta de que estava cada vez mais próxima das áreas mais sombrias de Yokohama, um lugar mais do que ideal para encontrá-lo. Você estava cruzando um dos territórios pertencentes à Máfia.
Engoliu em seco e abraçou os próprios braços, como se apenas naquele instante tivesse sentido o sopro gélido do vento noturno. Uma fagulha de medo se acendeu em seu peito, você não tinha nenhuma habilidade em combate, e sua habilidade não era adequada para tal. Estava vulnerável naquele território. Mesmo sendo filha de um executivo, eles deviam respeito ao seu pai. Não a você.
Entretanto, você não recuou.
Seus pés continuaram se movendo adiante, de queixo erguido, como se não estivesse apavorada. Deveria retornar, mas não o fez; era sua melhor chance de o encontrar, Akutagawa costumava sair a noite, o que já aumentava suas possibilidades, estando no território dele, elas eram ainda maiores. Faziam dias desde a última vez que o vira, ele te evitava pelos corredores após a última conversa que tiveram, na qual olhou nos seus olhos e disse que nunca poderia te amar apropriadamente, porque de um jeito ou de outro, em algum momento, ele te machucaria.
E essas palavras têm sido a razão de sua insônia e de seus passeios noturnos nos últimos tempos.
Você continuou andando, sentindo o frio e o medo, passando por ruas cada vez mais escuras, nas quais até mesmo sua sombra parecia ser um perigo.
Já estava rondando a região por um tempo, desanimada, perdendo suas esperanças no motivo que lhe levara até ali, se arriscando. Até passar por um beco, onde ouviu o som de uma arma ser engatilhada. Suas pernas e pés paralisaram, você se virou lentamente na direção do som, e a única coisa iluminada pela luz da lua era o cano de metal de uma arma. Prendeu a respiração, engoliu em seco, seus olhos arregalados, vendo a escuridão se mover. Emergiu das sombras uma presença ainda mais sombria, da qual você já havia aprendido a não temer. Soltou a respiração e abaixou a cabeça, olhando os próprios pés. Estava aliviada.
Quando reergueu o olhar, Ryuunosuke estava a sua frente, já não segurava mais nenhuma arma, suas mãos estavam escondidas em seu casaco, como o habitual. Seu olhar encontrou o dele, caindo sobre você com dúvida, tal qual sua expressão.
— Se eu não te reconhecesse, você estaria morta agora.— Seu tom era sério. "Eu sei", murmurou de volta.— O que está fazendo aqui?
— Eu estava te procurando.— Falou sem rodeios. Ele pareceu surpreso.— Eu estive pensando no que disse da última vez. E eu posso dizer que discordo.
— Problema seu.
— Akutagawa!- Exclamou exasperada.— Por que você está fazendo isso comigo, se diz sentir o mesmo?
— Eu já te disse. Eu não quero te machucar.
— Você não vai.
— O que te garante? Eu poderia ter atirado.— Cruzou os braços.
— Mas não atirou.— Replicou.— E eu não importo com nada disso. Não é justo que me trate assim.
— Não aja como se a possibilidade de eu te ferir não significasse nada.— Seu tom era de repreensão. Você quis revirar os olhos.
— Porque não significa.— Insistiu, pondo as mãos nos ombros dele.— Meu pai me ensinou que tudo tem um preço. E se o preço a se pagar por te amar é estar constantemente ferida, eu estou disposta a pagá-lo.— Ele arregalou os olhos levemente.— Só não jogue no lixo tudo que podemos viver. Por favor.
Ele não respondeu. Não de imediato. Ele apenas continuou ali, agora com sua expressão de surpresa substituída por uma impossível de ser lida, os seus olhos cinzentos olhando profundamente nos seus. Você não conseguia desviar do olhar dele, mas quando se deu conta de que ele ainda não havia lhe dito nada, apenas afastou as mãos dos ombros dele, e decidiu que era a hora de ir; não havia mais nada a fazer. Se nem mesmo suas palavras eram o bastante para fazê-lo mudar de ideia, não havia nada que fosse. Mas antes mesmo de seu corpo dar meia volta, sentiu as mãos dele na sua cintura, puxando para si mesmo. Antes que falasse qualquer coisa, a resposta dele veio em um beijo. Os lábios dele repousaram sobre os seus com uma doçura da qual você não estava esperando, e as mãos dele a seguravam tão firmemente que você se sentiu segura, mesmo estando naquele local sinistro.
Você estava desnorteada quando ele afastou os lábios dos seus, mas manteve o rosto extremamente próximo ao seu. Um meio sorriso aparecia na expressão de Akutagawa, você sentiu que poderia explodir naquele momento. Levou uma das mãos até sua nuca, antes de sussurrar:
— Eu não quero que pague preço algum.— E te beijou novamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Bungou Stray Dogs Imagines
FanfictionIlusão gratuita para as sofredoras fãs de BSD - Imagines - Headcanons - Cenários [Pronome feminino] A ARTE NA CAPA NÃO ME PERTENCE, TODOS OS CRÉDITOS AO AUTOR DELA!