Capítulo 7: Dimitri

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Ser filho de Ricardo Zenotti não era fácil. Claro que ser filho de um dos homens mais ricos do país te dava duas vantagens: ter tudo o que quisesse e emprego fixo em uma grande corporação. Era assim que Dimitri via o lado bom de ter nascido um Zenotti. Porém o pai era uma pessoa com uma necessidade de controle acima do limite do aceitável. Dimitri não suportava, quando criança, como o pai controlava a agenda, os trabalhos de escola, como os filhos deviam se portar, como os filhos não podiam sair na rua sem seguranças, o que os filhos deviam fazer no tempo livre.

Dimitri sabia que boa parte dessa necessidade de controlar a vida dos dois filhos, vinha da culpa da morte da esposa e do fato de estar sempre viajando para inaugurar uma sede nova de um dos hotéis do Grupo Zenotti. Para compensar, Ricardo lia todos os deveres que os filhos faziam quando estava em casa, fazia uma agenda extremamente atarefada para os dois, com curso de natação, de inglês, espanhol, leitura dinâmica, kumon, aula de música, de violão, basquete, vôlei, futebol, artes marciais e mais uma infinidade de coisas. O cara era louco. Dimitri e Aliocha voltavam da escola e o motorista os levava após o almoço para alguma aula, cada dia uma coisa diferente, no mínimo quatro aulas durante a tarde, todos os dias. Durante a noite os dois ficavam fazendo o dever ou estudando música, inglês, violão ou qualquer outra coisa.

Talvez essa estratégia do pai de roubar a infância dos dois os exigindo mais do que qualquer pai normal exigiria, fosse bom para Aliocha e Dimitri, pois ambos eram dois gênios, mas Dimitri tinha tanta preguiça de não ter o controle sobre sua vida, de não poder fazer o que quisesse, quando criança, que decidiu sabotar o pai.

Quando entrou no inglês, aos nove anos, após a primeira aula, Dimitri estudou sozinho e aprendeu tudo o que tinha em sua apostila sem precisar de professor, depois passou a aprender pegando livros mais avançados sem a ajuda de ninguém. Em pouco tempo o garoto já sabia inglês mais que qualquer um que estava naquele cursinho há três anos. Mas Dimitri não quis dar esse gostinho ao pai. Ele via a felicidade de Ricardo quando Aliocha tirava dez em tudo na escola e isso o deixava com uma vontade imensa de contrariar o senhor Ricardo. Então ele decidiu ser um filho “na média”, mesmo sendo o mais inteligente em qualquer lugar que estivesse. Bombou no cursinho de inglês, tirava notas baixas propositalmente, ia mal na natação de propósito, tudo para envergonhar o pai.

Aos quinze, cansado de fazer tudo o que Ricardo mandava, decidiu se rebelar e pediu para trabalhar na empresa do pai. Assim recebeu a alforria dos cursos e passou a estudar e trabalhar. O pai controlava o desempenho do filho na empresa de perto, mas isso era diferente para Dimitri, ele estava trabalhando porque quis, não porque o pai mandara. Ali, ele podia ser bom no que fazia, pois a ideia de trabalhar não fora de Ricardo. Dimitri sentiu que pela primeira vez estava tomando as rédeas de sua vida e tomou gosto por isso. E trabalhar era muito bom, o rapaz se sentiu útil pela primeira vez na vida.

Enquanto isso, escondido, Dimitri se apaixonou por aprender línguas, filosofia, sociologia, conhecimento em geral. Fez administração para poder ter mais chances de galgar uma posição de liderança na empresa do pai (ser um Zenotti apenas não bastava), mas na verdade o que ele gostaria de estudar era Sociologia. Inclusive faria uma faculdade sobre isso algum dia.

Faria. Pois o seu sequestro e a forma que ele agiu ao abrir mão do controle da situação o impediu de seguir sua vida como planejara. Até o momento que Micha o beijara, Dimitri tinha perdido o controle da situação apenas duas vezes durante o sequestro.

A primeira foi no momento que Micha o pegou pelo colo e o levou ao banheiro. A surpresa da situação e ter um rapaz o carregando foi excitante demais. Aquelas mãos másculas e aquele cheiro de homem que exalava do garoto o deixaram enlouquecido. Dimitri estava desejando demais Micha, mesmo sem saber como era o rosto dele e sabendo que não podia se entregar demais ao tesão por ter um plano de fuga.

'Os Provocadores' (Thriller Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora