'Os Provocadores' (Thriller Gay)

Capítulo 24: Newen/Dimitri

—Às vezes fico assustado com a sua falta de percepção para as coisas, Micha —falou Newen enquanto puxava o parceiro pelo braço entre as pessoas que vinham na direção oposta para verem o atentado. —Você não percebe como uma bomba em um evento gay pode ser visto como um ataque terrorista homofóbico? Todo mundo tem medo de terrorismo, as pessoas se compadecerão com a causa gay e essa pílula não vem mais para o Brasil.

—Você escondeu uma bomba o tempo todo? —balbuciava Michel, aparentemente ele não conseguiria virar o disco tão cedo.

—Sim e foi por uma boa causa, aguarde os frutos sendo colhidos em breve —Newen explicou pacientemente.

—Você pode ter matado pessoas cara! —Michel choramingava.

—Os ovos quebrados para se fazer o omelete! —explicou. —Em casa te explico tudo o que você quiser entender sobre essa bomba, sobre o Higienização e sobre o que você quiser ouvir, só peço para que você abra seu coração e tente entender como foi importante e necessário isso que eu fiz.

Desceram as escadas que levavam ao metrô e foram para casa. Michel estava em choque, apenas chorava e não tinha vergonha alguma de demonstrar essa fraqueza em meio a tantos desconhecidos no metrô. Newen permanecia sem paciência por ver o parceiro não perceber a grandiosidade do que ele acabara de fazer.

Foram em silêncio para casa, ao entrar Michel foi direto para a cozinha e Dimitri foi atrás dele.

—Vamos conversar? —Newen olhava para as costas de Michel que abria o armário de remédios.

—Agora não, cara! —Michel respondeu chorando, suas mãos tremiam, ele pegou água da torneira e tomou três comprimidos de um remédio para dormir.

—Para quê isso? —Perguntou Newen.

—Preciso fugir agora, não consigo lidar com o que você fez e não quero pensar nisso agora. —Michel colocou o copo na pia e seu estado era deplorável.

—Tudo bem! Você vai entender como o que eu fiz foi o melhor quando conversarmos. —Newen explicou ao ver o parceiro indo em direção ao quarto.

Os últimos dois dias do rapaz foram péssimos. Após ser humilhado pela irmã e ver seu carro ser destruído, precisar fugir e ter que cancelar Os Provocadores, Newen entrou em um período de descrédito consigo mesmo total. Com 26 anos de idade foi a primeira vez que se sentiu mal consigo mesmo ao saber que a família estava bem, ao saber que ele era substituível na empresa, ao ver mais gente feliz com o fim d'Os Provocadores do que feliz.

A dor física no ombro, na perna e na mão não se comparavam com a humilhação interna que ele sentia. Pela primeira vez ele se viu realmente necessitando de alguém junto. Ele sempre precisou de Micha para transar e porque precisava de outra pessoa para filmar, dirigir e ajudá-lo em seu projeto. Porém dessa vez ele precisou de Micha. A presença do garoto era reconfortante. Estar com ele ali, calado e deitado no chão, ou buscando as compressas para que ele colocasse nos locais feridos era necessária.

Porém tudo mudou quando ficou sabendo do evento, de repente ele se viu necessário de novo, viu que podia voltar a se sentir importante. Newen achava essa história de pílula para deixar de ser gay uma palhaçada e ele tinha uma bomba já há algum tempo guardada. Rapidamente ele raciocinou e viu que se explodisse um lugar próximo ao evento ele faria as pessoas acreditarem que o atentado foi homofóbico e criar a urgência de proteger os gays e não tentar acabar com eles

Foi complicado encontrar um lugar. A primeira lanchonete que foram tinha câmera de segurança interna, mesmo com óculos e boné eles poderiam ser reconhecidos e precisariam dar um jeito de desaparecer de São Paulo o mais rápido possível e isso iria estragar seus planos. Ele pensou em soltar no meio das pessoas, mas achou complicado armar a bomba e deixá-la no meio da rua. E foi quando ele procurava um lugar para fazer isso que ouviu de uma garota que Cássio estava por perto. Nada melhor que soltar a bomba próxima ao cara que estava armando todo o circo. O efeito seria maior ainda. Se o cara morresse com a bomba, o efeito seria muito maior. Infelizmente o cara já tinha saído, mas isso era o de menos.