16. VENENO

600 41 35
                                    

AIYRA TALA


Uma claridade incomodou os meus olhos, e eu sentia a luz queimar em cima da minha pele. Eu abri os olhos lentamente e vi o sol refletindo da varanda para dentro. Eu estou deitada no chão enrolada em lençóis rasgados e um monte de pena de travesseiro em cima de mim.  Os flashes da noite passada vieram como lembranças, e senti um braço em volta da minha cintura. Eu virei a cabeça para trás e encontrei Demetri escondido embaixo de um monte de penas de travesseiro. Soltei uma risada rouca, e ele levantou a cabeça fazendo as penas se espalharem por todo lugar, mas seu cabelo ainda estava cheio.

— Boungiorno — disse com um sorriso divertido, e encostei a minha cabeça no seu peito.

— Bom dia — sussurrei — Que horas são?

— Eu não faço ideia, mas eu preciso ir.

Todo pingo de coragem e animação que acordaram comigo se esvaziaram, e me recordei da dura realidade. Demetri apenas passou a Lua Azul comigo, mas agora irá retornar a Volterra e seguir sua vida como General. Além de que temos Loham convocando uma guerra, e eu posso ser um alvo da raiva dele, todos nós podemos. 

— Você tem razão, seu mestre espera sua volta — nem dei tempo para que respondesse, e me levantei saindo dos seus braços. Eu nem me virei para ver sua reação, preferia não ver — Se quiser tomar banho fique a vontade. Obrigada por sua gentileza ontem.

Eu suspirei e segui, mas o vulto passou rapidamente por mim e entrou na minha frente. Demetri estava com uma carranca para mim, e seu corpo coberto apenas pelo lençol enrolado na sua cintura.

— Gentileza? — repetiu, irritado — Acha que o que eu fiz ontem foi uma gentileza? 

— Você não queria que eu sentisse dor por estar tão perto de você e ao mesmo tempo tão longe — dei de ombros.

— Aiyra, eu disse que eu te amo ontem. Eu prefiro que não me responda com as mesmas palavras se realmente for o que ainda sinta por mim, porque não posso ir embora sem sofrer sabendo que é real. Eu não fui gentil com você ontem como alguém que faz caridade para um pobre coitado. Eu te desejei e te possui como um companheiro em qualquer evento de laços de alma. Pare de tentar arruinar a boa relação que construímos até aqui.

Eu comprimi os lábios e senti minhas bochechas esquentarem.

— Não foi minha intenção, mas eu pensei que talvez seria melhor se fosse assim. Eu também não quero que soframos, mas duvido que isso não acontecerá depois de ontem a noite.

— Você se arrepende de ontem?

A expressão de Demetri piorou, esperando uma resposta ruim de mim.

— Nunca em mil anos, eu nunca me arrependeria de ontem. De qualquer forma, obrigada. Eu não vejo como caridade, mas ainda agradeço por ter escolhido ficar comigo naquele momento.

— Nunca precisaria me agradecer por isso.

Sorri para ele, e eu ia para o banheiro mas sua mão em meu braço me impediu. Eu o encarei e agora havia um sorriso largo em seu rosto.

— Eu acho que esta manhã poderia ter começado com uma recepção melhor.

Ele puxou o lençol do meu corpo me deixando nua novamente, e puxou-me para o seu peito me fazendo ofegar pelo susto. Demetri nem esperou que eu dissesse algo e me beijou. O beijo era intenso demais para uma simples manhã. Antes que qualquer coisa acontecesse, o aparelho celular dele começou a tocar em cima da mesa.

— Pode ser importante, principalmente agora que irá retornar para Volterra.

Ele assentiu mesmo a contragosto, e voou para o lado do celular e o atendeu. Eu peguei o lençol caído no chão e cobri novamente o meu corpo.

𝕿𝖚𝖗𝖓 𝖎𝖙 𝖇𝖆𝖈𝖐 || 𝕯𝖊𝖒𝖊𝖙𝖗𝖎 𝖁𝖔𝖑𝖙𝖚𝖗𝖎Onde histórias criam vida. Descubra agora