Capítulo 11

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As pessoas apaixonadas, em geral, se tornam impacientes, perigosas. Perdem o senso de perspectiva. Perdem o senso de humor. Ficam nervosas, tornam-se chatas, psicóticas. Podem virar assassinas.

-Charles Bukowski

Enrico:

Caminho em direção as escadas em um ritmo lento, nossa sala principal estava transformada em um cenário de guerra, não que eu me importasse com aqueles corpos, não que o sangue me trouxesse alguma agonia. Porém, eu realmente me importava por Nina ter presenciado tudo isso.

— Como está Nina? — Meu pai pergunta se aproximando me entregando um copo de uísque, empurro de leve um dos corpos que estava próximo de nós.

— Abalada, porém cansada demais até mesmo para chorar. — Viro todo o líquido, sentindo a ardência da bebida, meu mantinha uma expressão serena, mas eu sabia o que aquilo significava, haviam mexido com sua esposa em sua própria casa, fora desses portões ele não era conhecido por ser amável. — E mama?

— Foi se limpar, Nina salvou mais uma pessoa dessa família. — Olho para o sangue espalhado pela sala e solto uma risada amarga.

— E agora está perturbada com tudo o que presenciou, está cada vez mais envolvida nesse nosso mundo. -Largo o copo em cima do balcão. Eu não tinha receios sobre o que eu realizava em nome do meu trabalho ou família. Eu fui criado dessa forma, enquanto tinha o amor da minha famiglia, via homens sendo torturados, drogas sendo traficadas, não era bonito e nem de longe certo, mas era nossa vida. — E ela quer a verdade.

— Então lhe dê a verdade.

— Simples assim? Esse mundo só é simples para quem vive nele pai, ela é apenas uma jovem mulher com a porra de um coração bom que se viu presa nisso tudo. — Por tentar salvar minha maldita vida, Nina está presa nisso e não tem nenhuma previsão para sair, ela é um alvo fácil, em qualquer caminhada fora desses portões pode ser seu fim, na verdade, pelo visto nem a casa é mais segura. — Invadiram nossa casa, esses filhos da puta estão indo longe demais, você sabe o que isso quer dizer certo?

— Perdemos alguém de confiança! Sim, eu estava com algumas suspeitas, hoje foi apenas a confirmação.

-Eu irei destroçar o filho da mãe envolvido nisso.

— Amanhã teremos uma reunião com o conselho interno, seu primo estará voltando de viagem com notícias, Rocco e Stefan estarão chegando também, pelo visto poderemos aumentar nossos negócios pelos Estados Unidos. — Nossa famiglia já havia dominado grande parte da Itália. Após a morte de meus tios, meus primos ergueram os esquemas em Las Vegas e New York, e não foi lento, os filhos da mãe sabiam como conquistar espaço e agora os Martinellis não eram temidos apenas na Itália.

Nossa rede crescia, e se fortalecia, porém, os inimigos também aumentavam.

— Vou verificar como está sua mãe, ela não se sentiu bem em ver a forma que Nina foi tirada daqui, cuide até finalizarem a limpeza, não sobrou nenhum para interrogar.

— Amanhã irei conversar com ela, talvez ela consiga entender. — Papa concorda apertando de leve meus ombros, contar a verdade nessa altura seria a melhor forma de poupar Nina de novas surpresas, pego uma das garrafas e sigo em direção ao sofá, enquanto os funcionários trabalham na remoção dos corpos.

Minha memória vai direto para o estado em que eu a encontrei, tremendo, suja de sangue, o rosto pálido como se a própria tivesse levado o tiro, não havia nenhum brilho no olhar, nenhuma expressão leve, ou a maneira em que ela sempre parecia estar sorrido. Apenas dor em seu olhar, apenas isso. Quando tentei lhe tocar ela se afastou com medo e repulsa, pela primeira vez esses sentimentos não me trouxeram orgulho, quando finalmente a peguei, ela evitou qualquer olhar.

Foi a primeira vez que me senti incomodado com tudo aquilo, me senti até mesmo com vergonha da forma em que eu vivia, me senti fraco, odiava me sentir fraco, mas saber que por minutos eu havia quebrado Nina, me quebrou também. Queria apenas acordar amanhã e escutar o som da sua risada vindo da cozinha, ou o cheiro de algum bolo, mas eu sabia que não ia acontecer, nem amanhã e nem nos próximos dias, eu só esperava que não demorasse para ter Nina novamente.

Eu realmente esperava.

Por Destino -Família MartinelliOnde histórias criam vida. Descubra agora