Capítulo 14

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Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências.

Pablo Neruda


Nina:

Todas as decisões que havia tomado no decorrer da minha vida foram tomadas pela razão. Posso dizer que nem mesmo as mais bem pesadas ocorreram da maneira esperada, na verdade, boa parte delas foram um desastre e eu tive que ralar muito para trazer daquilo algo bom.

Eu havia agora duas opções e eu sabia qual era a mais segura, sabia qual seria a mais correta a toma, por favor não havia nem muito o que ser pensando, era minha segurança e minha vida em jogo, mas, porque apesar de ser tão fácil eu não conseguia escolhê-la?

Eu era tão carente de carinho, ao ponto de ter me apegado nessas pessoas que me acolheram nesses meses e me fizeram me sentir em casa pela primeira vez?

Ou tão boba que estava desenvolvendo sentimentos pelo homem que me ajudou e que agora eu havia descobridor que era um criminoso?

Não só ele, toda a sua família estava envolvida com o crime, uma Máfia como aquelas de filmes e materiais de jornais, o que eu queria nesse meio, como eu deixei me envolver tanto ao ponto de considerar ficar nesse amaranhado?

Suspiro me atirando na cama que ocupei nesses meses, penso em todo o carinho e tratamento que recebi, era incomparável para alguém que já foi abandonada várias vezes na vida, inclusive pelos seus próprios pais, sentir-se querida era ótimo, era um sentimento que enchia meu coração, adorava passar o dia com Giullia na cozinha e fofocando, sentar e jogar com Sr. Anthony e Vincenzo, a presença dos irmãos Lorenzo e Chiara que faziam minha barriga rir de tantas risadas, Ágata com sua curiosidade me enchendo de perguntas, e até mesmo Alex, que sem ao menos conhecer pessoalmente, havia desenvolvido uma amizade.

E claro, não poderia esquecer de Enrico, que desde o primeiro momento se mostrou atencioso, ele não me silenciava, prestava atenção em cada palavra que sai dos meus lábios, era carinhoso da forma que nenhum homem foi, havia arriscado sua vida para me proteger da mesma forma na qual eu arrisquei a minha própria, solto a uma risada seca ao lembrar de como tudo começou, não julgo meus atos, nem os culpo eles tratam de trilhar minha vida e me colocar onde eu devia estar, e o destino tratou de me colocar nessa família, não sei o motivo, não sei o que pode vir acontecer, mas ele me colocou aqui.

Uma lágrima escapa pelo meu rosto, eu não quero ir embora. É a certeza que eu tenho, não quero voltar para o Brasil, eu escolhia Itália para recomeçar e o destino me escolheu colocar nessa família.

Mas eu conseguiria ignorar e fechar meus olhos para tudo o que eu posso ver? Enrico realmente conseguiria me deixar livre para então seguir minha vida como planejei? Era muitas perguntas e infelizmente eu não tinha todas as respostas, meu celular toca e fecho a foto de Alex na tela, a neve no fundo, e os cabelos escuros em destaque.

— Como você está? — Ela pergunta preocupada assim que eu atendo, sorrio.

— Tentando ficar bem. — Afasto os cabelos de meu rosto. — Enrico me falou sobre tudo. — Digo e espero sua reação, ela apenas suspira, parecia ser de alívio.

— Que bom! Pois, eu não aguentava mais guardar isso de você, eu espero que nada tenha mudado. — Ela diz baixinho e sinto o medo em sua voz.

— Não mudou. — Me surpreendo pela força das minhas palavras quando eu falo. — Estou assustada Alex, não é nada ao qual estou acostumada, parece tudo um filme em minha cabeça.

— Mas você se sente acolhida certo? — Concordo limpando as lágrimas que escapam dos meus olhos. — Eu não sei quem é minha família Nina, nem quero saber, pois no dia que mamãe e papai me tirar daquela chuva eu sabia que eu teria um lar, mas principalmente que eu seria amada e isso sempre me foi o suficiente, porém quando cresci e fui entender como era nosso mundo eu me assustei, e isso é normal, mas papai teve uma conversa comigo e me explicou deixou bem claro que na nossa família entre nos nunca haveria nada ruim, porém fora dela haveria pessoas querendo nosso mal e precisaríamos reagir.

— Alex, não entenda como ofensa, mas vocês traficam armas, drogas e até mesmo prostituição. — Falo com pesar engolindo o nó que se forma na minha garganta.

— Nossos luxos e nossa vida boa vem disso Nina, porém por mais que tudo isso pareça ruim é nossa forma de sobreviver, isso acontece a anos, não tem como mudar apenar aprendemos a conviver e melhorar isso, tem máfias piores, papa e meu tio mudaram muito desde que assumir, nossas mulheres são valorizadas, até mesmo as mulheres que trabalham em nossas casas são bem tratadas, todas são maiores de idade e estão lá porque querem ou precisam.

— Isso parece tão confuso.

-E é Nina, somos criados para enfrentar nossos inimigos, de nos manter forte e aumentar nosso território, não é bonito, mas é nossa vida, e nossa família e fazemos de tudo por nossa família.

Não sei o que dizer, não tenho nenhuma opinião ainda formada.

— Sei que está confusa, mas se a sua escolha for se ficar, saiba que iremos te proteger, nem que seja com nossa vida, agora fique bem você precisa descansar e pensar na decisão que você irá tomar, de qualquer forma saiba que você tem uma amiga e não iremos perder o contato.

— Obrigada Alex, pelo carinho e pela conversa.

— Beijos se cuide. — E assim enceramos a ligação, me encolho entre os lençóis sentindo meu corpo ainda cansado, então sigo o seu conselho e deixo meu corpo descansar, amanhã tenho uma decisão a ser tomada. 

Por Destino -Família MartinelliOnde histórias criam vida. Descubra agora