"O único poder que você tem é o poder de suas decisões. Use-o à vontade."
-Paulo Coelho.
Nina:
Eu consegui dormir a noite toda, para a minha própria surpresa, mas ao acordar cedo pela manhã a realidade me atingiu com força. As lembranças dos gritos, do sangue, dos disparos e do homem caindo morto por minha culpa tomam minha mente.
Eu costumava me sentir segura nessa casa, segura de uma maneira a qual eu nunca havia me sentindo em toda a minha vida, e, além disso, eu fui muito bem acolhida, havia desenvolvido sentimentos por todos naquela casa, tinha carinho por todos.
Porém, depois de ontem, me sinto sufocada com esse sentimento, a incerteza do que eles realmente fazem, ou melhor, a certeza de que não seria algo bom, eu conseguiria separar o que eles fazem do que eu sinto?
Caminho em direção ao banheiro, deixando a água lavar mais uma vez o meu corpo. De todos os problemas que no qual eu me envolvi em minha vida, nada se compara a isso, sempre foi apenas comigo mesma, sem envolver sangue e muito menos morte. Porém, desde o momento onde eu conheci Enrico isso parece ter se tornado decorrente, tanto que me levou ao fato de não poder mais pisar fora desses portões por não estar segura.
Enrolo-me na toalha e paro em frente ao espelho do banheiro, meu rosto estava pálido, mas não tinha nenhum vestígio de sangue, não mais. Respiro fundo, tentando alinhar todos os meus pensamentos, minha cabeça precisava estar no lugar, mas antes seria necessária uma conversa com Enrico, e ele não tem outra opção além de me dizer a verdade, somente ela.
Depois de tudo o que aconteceu é o mínimo que eu mereço, apenas uma verdade clara.
Meu celular apita, me aproximo vendo a mensagem na tela, era de Alex, perguntando como eu estava.
"Não estou machucada, mas não posso dizer que estou bem, quando colocar minha cabeça no lugar conversamos, obrigada por perguntar.
Não demora muito e logo vem sua resposta, e como esperado ele entende que não estou no melhor momento para conversar.
"Qualquer coisa estou aqui. Fique bem"
Penso mais de duas vezes se devo realmente descer, e sair desse quarto. Porém, algo que nunca fui foi fraca e medrosa, por isso tomo a decisão de descer, ao entrar na cozinha encontro apenas Giulia e Enrico, ambos me olham atentamente.
-Bom dia. -Digo baixo, Giullia se aproxima segurando minha mão apertando de leve, mas ela não fala nada.
Além do fato que não tem muito o que ser dito, e apesar de ter salvo sua vida a mesma sabe que um obrigada após toda a situação é tão necessário, ela serve minha xícara, e o silêncio toma conta do ambiente.
Enrico não come, apenas apoia os braços na mesa e me observa atentamente, para não dizer intensamente seus olhos verdes acompanham cada movimento meu. Pela primeira vez sinto irritada com o mesmo, quero gritar, quero que ele me diga todas as verdades e não me olhe com pena, quero saber no que eu estou metida. Tento comer, mas nada parece descer, quando Giullia sai da cozinha, sem nem notar uma lágrima escapa dos meus olhos, então pela primeira vez no dia eu o encaro, sem sorrisos, sem palavras amigáveis.
— Você me prometeu a verdade. — Digo e ele arruma sua postura respirando fundo.
— Tenho medo de que após ela, você nunca mais queira olhar na minha cara. — Eu também, é o que penso no mesmo instante, tenho o mesmo medo. Medo de saber quem realmente é Enrico Martinelli, de saber o que ele é sem estar comigo, e principalmente tenho medo do que eu sinto a respeito do mesmo, ou principalmente do que as consequências disso podem causar, me causar.
— Só temos uma única forma de saber. — É o que consigo responder, então ele fica em pé e estende a mão em minha direção, e eu seguro sentindo o calor da sua pele, subimos as escadas em silêncio em direção ao seu escritório, ele puxa uma das cadeiras deixando ela de frente a poltrona em que estou sentada.
Ele me encara, então puxa sua camisa branca, revelando sua pele, a primeira coisa que me chama atenção são as diversas cicatrizes espalhadas e então a tatuagem em sua costela.
"Se tradisco la famiglia la miacarne è bruciata"
Estava em italiano, mas a tradução era simples," Se eu trair a família minha carne é queimada", olho para o seu rosto confusa, sem entender o que aquilo poderia dizer.
— Esse é o juramento mais importante que eu fiz em minha vida, eu sabia disso com apenas dez anos, e por esse juramento eu realizei muitas coisas. — Sua voz é baixa, mas suas palavras não vacilam. — E a maioria delas nunca foram boas, nunca vão ser, eu não sou bom, ninguém da famiglia realmente é.
Então ele puxa um documento, que lembrava um mapa, no canto dele continha o nome da família, e havia vários pontos marcados, com diversas cores, então havia a legenda, e quando meus olhos capitaram o que estava escrito eu me afundei ainda mais na pequena poltrona.
— Tráfico, prostituição são pequenos perto do que realizamos, sou um criminoso Nina, somos eu e minha família a maior organização criminosa da Itália, estamos em tudo, em todas as esferas, comandamos cada pequena coisa que acontece nesse país.
Não sei o que dizer, não tenho o que dizer e é a primeira vez que isso acontece, é por isso que tem pessoas nos perseguindo, é por isso as ameaças de morte, tudo agora se encaixa perfeitamente.
— Minha família comanda isso a muitos anos Nina, eu nasci destinado a isso, e daria minha vida a isso. — Ele não mente, há força e poder em suas palavras que causam medo até em mim. — Porém temos muitos inimigos, e já derrubamos muitos, estamos em expansão fora da Itália, e nosso território está aumentando querem nossa cabeça a todo custo.
— E-eu, eu não sei o que dizer. — Sou sincera, minha cabeça parece que irá explodir pelo tanto de informações que me atinge. — Eu não entendo, você sabe eu...
— Eu sei!-Sua mão toca minha perna. - Eu sou muito sortudo Nina, minha família sempre lidou de forma diferente dentro da nossa casa. Eu recebi muito amor, e nem todas as famílias são assim, porém fora dessa cada, fora do nosso ciclo tudo difere. O amor não é a única linguagem que eu conheço, eu já realizei coisas horríveis, coisas que até o diabo teria medo. — Sua mão aperta minha perna e seus olhos me fitam e dessa fez é apenas com carinho. — Porém Nina apesar de tudo isso, eu me importo com você, muito... Minha família se importa com você e a única forma de você se ver livre de tudo isso é esperar darmos um jeito em quem está nos ameaçando, ou sumir do mapa. — Arregalo meus olhos me afastando do seu toque, ele balança a cabeça nervoso e passando as mãos pelo seu cabelo. — Nunca te mataria Nina, mas você teria que ir embora da Itália e não mais com Nina.
— São essas as minhas opções? — Digo fitando seus olhos verdes que me olhavam com atenção, ele cumpriu o que me prometeu, eu recebi toda a verdade e agora ela estava em minhas mãos, e eu teria que escolher como lidar com ela.
— Sim.
Por um instante eu senti meu estomago se embrulhar, pois, no meu inconsciente por mais que custasse aceitar eu já havia decidido.
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Por Destino -Família Martinelli
ChickLitDuas vidas opostas que o destino resolveu unir em um único caminho. Enrico Martinelli está prestes a se tornar o Sub-Chefe da família mais importante da Itália, o foco da sua vida sempre foi sua família e tornar-se um dos nomes mais temidos das máfi...