Aquele dia estava sendo excessivamente dificultoso para Kagami Taiga, a contar dos primeiros minutos em que os raios solares despontaram no céu e indicaram que a noite acabara. Após ter notado que o seu tênis preferido tornou-se inutilizável por conta de um dano irreversível na sola, viu-se na urgência de encontrar um substituto. A situação se desenrolou exatamente quando se aproximava a fase crucial da Winter Cup.
Adentrando loja em loja e não achando um calçado que servisse, ou que ao menos considerasse confortável nos seus pés, começava a ficar exausto; não importava onde fosse, o resultado era frequentemente o mesmo: "— Lamentamos, senhor. Não temos essa numeração. Talvez consiga encontrar em outro local?"
O ruivo estava frustrado. E Kuroko Tetsuya, que o acompanhava, não ajudava muito.
— Tinham o seu número? — Perguntou o garoto de cabelo azul-claro.
— Não... — Respondeu Kagami, claramente decepcionado.
— Kagami, seus pés são inutilmente gigantes.
— O quê!? Como assim "inutilmente"!? — Retrucou, ofendido.
— De qualquer forma... — Kuroko revirou o compartimento da bolsa em busca do celular. — Conheço alguém que pode ajudar.
Os ponteiros do relógio de pulso do maior deram poucas voltas até, vinda da estação, uma figura feminina aproximar-se de ambos. Possuía longos cabelos de cor azul-marinho presos em um rabo de cavalo alto. Olhos intensos, da mesma cor que as madeixas, brilhavam de emoção ao rever um amigo. Trazia em suas mãos uma caixa vermelha e preta, preservando provavelmente o pedido que lhe fora feito.
— Tetsuya. — Disse a menina, com um sorriso terno, assim que o viu.
— Huryome. — Respondeu, retribuindo-lhe o sorriso. — Olá, há quanto tempo.
— Sim, bastante tempo. Apesar disso, sabe que não precisa de nenhuma formalidade, não é?
— Desculpa.
— Sem problemas. — Ela manteve a ternura. — Devo dizer que estou surpresa. Quem diria que você está calçando um número tão... tão grande.
Taiga sentiu a frustração voltar e apenas ficou em silêncio, tentando, em vão, esconder os pés com a bolsa que carregava.
— Não são para mim. — Kuroko o olhou.
— Eu poderia ter encontrado em outra loja... — Suspirou o ruivo.
— Não poderia não. — Retrucou o menor.
— Poderia sim!
— Com esses pés gigantes?
A garota, presenciando a discussão, apenas observou.
— Certo... A quem devo entregar essa caixa, então?
Kagami se rendeu, por fim. Estava ficando tarde e não poderia perder mais tempo procurando um novo par em outras vinte lojas espalhadas pela cidade.
— Acho que para mim. — Falou, quase que em um sussurro.
— Esse é o meu colega de time, Kagami Taiga. — Tetsuya o apresentou. — O tênis antigo dele acabou descolando e não encontramos um novo em nenhum outro lugar, pelo menos não com a numeração que ele calça...
— Não acha que essa última parte poderia ser dispensada? — Ele encarou o menor com certo constrangimento, no entanto, quando notou a caixa ser estendida em sua direção, mirou a garota.
— Prazer, Kagami Taiga. Meu nome é Huryome Hikari.
O ruivo a fitou por alguns instantes antes de tomar a caixa para si. Em seguida, olhando para Kuroko ao seu lado, tentou imaginar a história por detrás daquela amizade.
— Obrigado. — Agradeceu, enfim. — Quanto lhe devo? — Tateou os bolsos em busca da carteira.
— Nada.
— Nada?
— Há tempos que eu não via o Tetsuya, então, isso já paga o favor. — Sorriu, logo olhando para o velho amigo. — Estão participando da Winter Cup?
— Sim. Você acompanhará o evento? Eles estarão lá também.
Hikari se manteve em silêncio por um momento. Ainda remoía assuntos do passado quando se lembrava deles.
— Tentarei dar uma olhada, se os meus planos derem certo. — Ela viu o mais alto experimentando o par novo e aproveitou do instante para mudar de assunto. — Espero que eles sirvam e fiquem cômodos.
Kagami ficou um tanto sem graça, mas agradeceu novamente pelo calçado.
— Bem, eu preciso ir agora. Ainda tenho que encontrar uma pessoa. Foi bom rever você, Tetsuya.
— Digo o mesmo, Hikari.
— Tenham um bom campeonato. — A garota se despediu dos dois e seguiu seu caminho.
Parecia tudo perfeito, até Kagami romper o silêncio ao exclamar de repente:
— Droga! A técnica nos matará! Estamos atrasados!
— Então, vamos. Ainda temos algumas batalhas pela frente.
* * * * * *
O jogo que aconteceria daqui a alguns minutos era bastante significativo para Midorima Shintaro. Seu time enfrentaria a escola Rakuzan. E, como se isso não bastasse, ele enfrentaria também o seu ex-capitão do ensino fundamental e, atualmente, um de seus rivais, Akashi Seijuro.
Mesmo que seus colegas de equipe manifestassem total assistência e ele estar diante do seu item da sorte, sentia a ansiedade percorrendo seu corpo por completo.
— Midorima, o que é isso? — Perguntou Kimura ao vê-lo segurar uma peça de Shogi.
— É o meu amuleto da sorte. — Respondeu.
— Caramba, o de hoje é minúsculo! Não é como se fosse uma escultura ou algo ainda maior. — Ouviu-se um suspiro de alívio dos outros colegas.
— E qual é a posição do seu signo no rank de hoje? — Miyashi arrumava o tênis, tentando deixar o mais confortável possível.
— Segundo. — Disse-lhe, ainda concentrado no pequeno objeto.
— Você deveria ser o primeiro. Acabarei com você. — O loiro tentou parecer assustador.
Entretanto, Midorima não demonstrou nenhum receio: nem do colega e nem do jogo que estava por vir. Relaxou seu corpo e tranquilizou sua mente para não deixar a inquietação tomar conta de si.
Algumas batidas à porta foram percebidas pelo técnico. Não gostava muito quando interrompiam o descanso dos jogadores antes de qualquer partida. Ao abri-la, deparou-se com uma garota de olhar compenetrado.
— Desculpe, acredito que a hora de pedir autógrafos ou dar entrevistas não seja agora. — Pronunciou Masaaki Nakatani, responsável pela equipe.
— Eu que peço desculpas por vir em uma hora tão inadequada. — Ao espiar por debaixo do braço do homem, ela pôde ver as madeixas esverdeadas do arremessador. — Shintaro!
Quando ele ouviu seu nome, pronunciado de maneira tão informal, olhou em direção à porta, curioso. Mesmo com o técnico impedindo uma visão completa, pôde notar o cabelo azul-marinho que pendia do rabo de cavalo. Quando se levantou e foi em direção a ela, reconheceu-a de imediato.
— Huryome. O que está fazendo aqui? — Indagou, enquanto a analisava.
— Você a conhece? — Masaaki estava parcialmente confuso com a situação.
— Sim, técnico. Só não esperava vê-la aqui.
— Shintaro, pelo que vejo, você continua indelicado... — Ela suspirou, pretendendo parecer ofendida. — Pensei que ficaria feliz com a minha presença.
— Estou surpreendido, de fato. — Falou, ajeitando as lentes do óculos com uma das mãos. — Deve existir um motivo maior por detrás disso.
Ela sorriu.
— Sim. Estou aqui para ajudar vocês. Shintaro, eu quero que você ganhe do Akashi.
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Insensível.
FanficPeça. Do denotativo: cada uma das pedras ou figuras, em jogos de tabuleiro. Do conotativo: ela. Desprender-se do passado nunca fora fácil, ainda mais quando as lembranças latejavam em seu coração. E ela regressou, justamente por não conseguir se...