Capítulo 01.

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Aquele dia estava sendo excessivamente dificultoso para Kagami Taiga, a contar dos primeiros minutos em que os raios solares despontaram no céu e indicaram que a noite acabara. Após ter notado que o seu tênis preferido tornou-se inutilizável por conta de um dano irreversível na sola, viu-se na urgência de encontrar um substituto. A situação se desenrolou exatamente quando se aproximava a fase crucial da Winter Cup.

Adentrando loja em loja e não achando um calçado que servisse, ou que ao menos considerasse confortável nos seus pés, começava a ficar exausto; não importava onde fosse, o resultado era frequentemente o mesmo: "— Lamentamos, senhor. Não temos essa numeração. Talvez consiga encontrar em outro local?"

O ruivo estava frustrado. E Kuroko Tetsuya, que o acompanhava, não ajudava muito.

— Tinham o seu número? — Perguntou o garoto de cabelo azul-claro.

— Não... — Respondeu Kagami, claramente decepcionado.

— Kagami, seus pés são inutilmente gigantes.

— O quê!? Como assim "inutilmente"!? — Retrucou, ofendido.

— De qualquer forma... — Kuroko revirou o compartimento da bolsa em busca do celular. — Conheço alguém que pode ajudar.

Os ponteiros do relógio de pulso do maior deram poucas voltas até, vinda da estação, uma figura feminina aproximar-se de ambos. Possuía longos cabelos de cor azul-marinho presos em um rabo de cavalo alto. Olhos intensos, da mesma cor que as madeixas, brilhavam de emoção ao rever um amigo. Trazia em suas mãos uma caixa vermelha e preta, preservando provavelmente o pedido que lhe fora feito.

— Tetsuya. — Disse a menina, com um sorriso terno, assim que o viu.

— Huryome. — Respondeu, retribuindo-lhe o sorriso. — Olá, há quanto tempo.

— Sim, bastante tempo. Apesar disso, sabe que não precisa de nenhuma formalidade, não é?

— Desculpa.

— Sem problemas. — Ela manteve a ternura. — Devo dizer que estou surpresa. Quem diria que você está calçando um número tão... tão grande.

Taiga sentiu a frustração voltar e apenas ficou em silêncio, tentando, em vão, esconder os pés com a bolsa que carregava.

— Não são para mim. — Kuroko o olhou.

— Eu poderia ter encontrado em outra loja... — Suspirou o ruivo.

— Não poderia não. — Retrucou o menor.

— Poderia sim!

— Com esses pés gigantes?

A garota, presenciando a discussão, apenas observou.

— Certo... A quem devo entregar essa caixa, então?

Kagami se rendeu, por fim. Estava ficando tarde e não poderia perder mais tempo procurando um novo par em outras vinte lojas espalhadas pela cidade.

— Acho que para mim. — Falou, quase que em um sussurro.

— Esse é o meu colega de time, Kagami Taiga. — Tetsuya o apresentou. — O tênis antigo dele acabou descolando e não encontramos um novo em nenhum outro lugar, pelo menos não com a numeração que ele calça...

— Não acha que essa última parte poderia ser dispensada? — Ele encarou o menor com certo constrangimento, no entanto, quando notou a caixa ser estendida em sua direção, mirou a garota.

— Prazer, Kagami Taiga. Meu nome é Huryome Hikari.

O ruivo a fitou por alguns instantes antes de tomar a caixa para si. Em seguida, olhando para Kuroko ao seu lado, tentou imaginar a história por detrás daquela amizade.

— Obrigado. — Agradeceu, enfim. — Quanto lhe devo? — Tateou os bolsos em busca da carteira.

— Nada.

— Nada?

— Há tempos que eu não via o Tetsuya, então, isso já paga o favor. — Sorriu, logo olhando para o velho amigo. — Estão participando da Winter Cup?

— Sim. Você acompanhará o evento? Eles estarão lá também.

Hikari se manteve em silêncio por um momento. Ainda remoía assuntos do passado quando se lembrava deles.

— Tentarei dar uma olhada, se os meus planos derem certo. — Ela viu o mais alto experimentando o par novo e aproveitou do instante para mudar de assunto. — Espero que eles sirvam e fiquem cômodos.

Kagami ficou um tanto sem graça, mas agradeceu novamente pelo calçado.

— Bem, eu preciso ir agora. Ainda tenho que encontrar uma pessoa. Foi bom rever você, Tetsuya.

— Digo o mesmo, Hikari.

— Tenham um bom campeonato. — A garota se despediu dos dois e seguiu seu caminho.

Parecia tudo perfeito, até Kagami romper o silêncio ao exclamar de repente:

— Droga! A técnica nos matará! Estamos atrasados!

— Então, vamos. Ainda temos algumas batalhas pela frente.


* * * * * *


O jogo que aconteceria daqui a alguns minutos era bastante significativo para Midorima Shintaro. Seu time enfrentaria a escola Rakuzan. E, como se isso não bastasse, ele enfrentaria também o seu ex-capitão do ensino fundamental e, atualmente, um de seus rivais, Akashi Seijuro.

Mesmo que seus colegas de equipe manifestassem total assistência e ele estar diante do seu item da sorte, sentia a ansiedade percorrendo seu corpo por completo.

— Midorima, o que é isso? — Perguntou Kimura ao vê-lo segurar uma peça de Shogi.

— É o meu amuleto da sorte. — Respondeu.

— Caramba, o de hoje é minúsculo! Não é como se fosse uma escultura ou algo ainda maior. — Ouviu-se um suspiro de alívio dos outros colegas.

— E qual é a posição do seu signo no rank de hoje? — Miyashi arrumava o tênis, tentando deixar o mais confortável possível.

— Segundo. — Disse-lhe, ainda concentrado no pequeno objeto.

— Você deveria ser o primeiro. Acabarei com você. — O loiro tentou parecer assustador.

Entretanto, Midorima não demonstrou nenhum receio: nem do colega e nem do jogo que estava por vir. Relaxou seu corpo e tranquilizou sua mente para não deixar a inquietação tomar conta de si.

Algumas batidas à porta foram percebidas pelo técnico. Não gostava muito quando interrompiam o descanso dos jogadores antes de qualquer partida. Ao abri-la, deparou-se com uma garota de olhar compenetrado.

— Desculpe, acredito que a hora de pedir autógrafos ou dar entrevistas não seja agora. — Pronunciou Masaaki Nakatani, responsável pela equipe.

— Eu que peço desculpas por vir em uma hora tão inadequada. — Ao espiar por debaixo do braço do homem, ela pôde ver as madeixas esverdeadas do arremessador. — Shintaro!

Quando ele ouviu seu nome, pronunciado de maneira tão informal, olhou em direção à porta, curioso. Mesmo com o técnico impedindo uma visão completa, pôde notar o cabelo azul-marinho que pendia do rabo de cavalo. Quando se levantou e foi em direção a ela, reconheceu-a de imediato.

— Huryome. O que está fazendo aqui? — Indagou, enquanto a analisava.

— Você a conhece? — Masaaki estava parcialmente confuso com a situação.

— Sim, técnico. Só não esperava vê-la aqui.

— Shintaro, pelo que vejo, você continua indelicado... — Ela suspirou, pretendendo parecer ofendida. — Pensei que ficaria feliz com a minha presença.

— Estou surpreendido, de fato. — Falou, ajeitando as lentes do óculos com uma das mãos. — Deve existir um motivo maior por detrás disso.

Ela sorriu.

— Sim. Estou aqui para ajudar vocês. Shintaro, eu quero que você ganhe do Akashi.

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