Personagens entram com um cartaz escrito "PROMESSAS" e colam no mural de giz.
Capitu e Bentinho riscam o fundo encostados.
Bentinho: Sente minha falta, Capitu?
Capitu: Mais do que eu sentiria falta do oxigênio se ele deixasse de existir.
Bentinho: E que faz quando estou distante, lá no Seminário?
Capitu: Rezo para que o tempo passe logo e possamos nos encontrar.
Bentinho: Eu penso em você todos os dias, Escobar já até se cansa em ouvir seu nome.
Capitu: Às favas com Escobar, Bentinho. Às favas!
(Solta o giz no chão)
Bentinho: Não fale assim, Capitu. Escobar é meu único amigo.
Capitu: Pois que seja. Mas não me importo. Às favas com Escobar, com sua mãe, com os padres e até Deus! A tudo que me afasta de você.
Bentinho: Não fale desse jeito, Capitu. É pecado falar assim de Deus e da mãe. Não fale assim.
Bentinho segura Capitu pelos braços e olha de frente.
Bentinho: Quando fica brava, Capitu, seus olhos queimam. Odeio que me olhe assim.
Capitu: Quando está feliz, Bentinho, seus olhos brilham. Eu odeio que olhe assim para outras pessoas. Como olha para Escobar.
Capitu faz as vezes de sair, Bentinho traz de volta.
Bentinho: Capitu, meus olhos, meu rosto, meu corpo e meu ser são todos seu. Tudo seu, tudo.
Capitu: Me prova, então, Bentinho. Me prova!
Bentinho: Eu prometo, prometo que saio do Seminário e a gente se casa. A gente se casa sem luxo, sem convidados, sem padre. Para sermos só você e eu.
Capitu: Promete nada, Bentinho. Você é covarde e medroso.
Bentinho: Eu juro então! Juro com juramento e promessa! Se eu falhar com essa, que Deus acabe com a minha vida.
Capitu beija Bentinho e sai. Escobar entra pelo outro lado.
Bentinho: É isso, Escobar! Eu preciso sair, fiz a promessa e não posso falhar.
Escobar: Promessa burra, Bentinho. Promessa burra.
Bentinho: Você no meu lugar faria diferente?
Escobar: Pelos olhos daquela pequena eu até te entendo. Mas você precisa ser mais inteligente que isso.
Bentinho: Eu não sou bom planejando coisas, mas você pode me ajudar. Me ajuda a viver com Capitu, Escobar! Meu mundo é vazio sem os cabelos dela nos meus dedos.
Escobar: (Pega o giz que Capitu deixou) Ajudo, Bentinho. Não tem nada que eu não faça por você. Mas precisa me prometer uma coisa.
Bentinho: Prometo qualquer coisa! Você é meu melhor amigo!
Escobar: Faz de mim teu conselheiro e me leva do mosteiro também.
Bentinho: Você não quer ser padre, Escobar?
Escobar: Bentinho, olha para mim. Olhe bem! Eu sou comerciante, sou vendedor. Não tem arte mais bonita e exata que os números, e esses, você não entende. Então deixa que eu entenda por você.
Bentinho: Você tá certo, Escobar. Eu quero você como meu conselheiro! Quero você me ajudando para sempre!
Escobar: Promete?
Bentinho: Prometo.
Escobar: Eu estou errado, Bentinho, Mais bonito que os números é o seu sorriso quando decide alguma coisa.
Bentinho: Mais bonito que isso tudo somos nós fora desse mosteiro!
Escobar: Faz como digo então, Bentinho. Diz pra tua mãe formar padre de um órfão. Faz um órfão padre para a igreja e tu, tu vai pra vida. Vai ser médico se é o que quer.
Bentinho: O que eu quero é ser teu amigo e marido de Capitu. Se para isso eu precise estudar bruxaria, digo que topo mais que depressa!
Escobar escreve na lousa.
ESCOBAR – BENTINHO – CAPITU
Escobar: Venha amigo, vamos sair desses muros de pedra.
Bentinho: Escobar! Você é a melhor coisa que já me aconteceu!
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Escobar - Uma história sobre ciúme, olhos e mar
RomancePeça teatral livremente inspirada na obra de Machado de Assis, Dom Casmurro, de 1899. Nesta releitura em forma de roteiro para teatro, o ciúme, os embates familiares e a dúvida de Bento Santiago são embalados pelo mar para mostrar o quão destrutiva...