tradições

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Andy sempre se perguntou se pertencia a algum lugar, se ela era Amada,  e se amava de forma igual.
Sempre relacionou a sensação de pertencimento com a criação de tradições, se você ama alguém você cria um laço inquebrável, era o que sua mãe sempre dizia.

Quando criança via seus pais criando tradições, não precisava ser nada grandioso, geralmente nunca era.

Se fechasse os olhos Andy conseguia lembrar perfeitamente de seus pais dançando em todas as manhãs de natal.
O som do eterno Elvis cantando Blue Christmas pairava pelo ambiente,  conseguia até mesmo sentir o cheiro dos biscoitos assando no forno

lembrava também dos sábados onde o sol brilhava e seu pai lia livros sobre príncipes de outros planetas e raposas sábias que falavam sobre a beleza de cativar alguém
Andy prometeu sempre se lembrar que o essencial é invisível aos olhos.

para ela as tradições mais importantes são as mais bobas pois elas são eternizadas em sua simplicidade, como sextas feiras de pizza e assitir Scooby doo nos sábados de manhã.

Andy queria isso para ela, queria ter rituais em família, uma coisa para se dividir com quem ama.

Hoje ela pode criar suas próprias tradições com sua família, família essa que ela tem orgulho de chamar de sua, ela lutou por essa família, ela chorou por essa família, ela amou por essa família.

E mesmo que nunca tenha escutado as vozes das pessoas que ama ela sabe que o sentimento é recíproco

Suas filhas sempre abrem o sorriso mais lindo do mundo quando a vêem, sua esposa sempre faz carinho em seus cabelos enquanto vela seu sono pensando que ela está dormindo, quando na verdade está apreciando os toques da mulher que ama, por mais que ela não possa cantar canções de ninar para suas filhas, ou sequer sabe como são suas vozes, Andy não se deixa abalar porque sabe que tem muito mais do que realmente merece.

Independente de tudo que aconteceu Andy nunca reclamou um minuto sequer, pois mesmo que tenha perdido a capacidade de escutar o mundo ao seu redor, Andy é feliz!

Quando acordou em uma cama de hospital, sem entender nada e com um silêncio ironicamente ensurdecedor, Andy prometeu nunca em hipótese alguma se lamentar ou questionar o porquê de sua atual situação.

Afinal ela estava viva ao contrário dos seus amigos que não tiveram a mesma sorte. A imagem de sua mãe chorando de forma compulsiva e gritando com os médicos mas não emitindo som algum, enquanto seu pai a abraçava com força ainda assombra seus pesadelos

Sua última lembrança é de Nate a chamando de inútil dentro do carro enquanto Lili e Doug estavam calados no banco de trás, logo a imagem de um caminhão aparece, uma forte dor na cabeça, barulho de vidro se partindo e depois fica tudo escuro.

Andy não contou para ninguém o que aconteceu mas concordou com as palavras de Nate e no fim seus amigos também.

Tudo bem não escutar o canto dos pássaros ou suas músicas favoritas, ela podia sobreviver a isso, viver uma vida sem arrependimentos ao lado das pessoas que ama é o suficiente.

Mas tinha uma coisa que Andy não podia negar, Os dias ficaram mais frios depois do acidente

Pelo menos até conhecer Miranda.

Quando a viu pela primeira vez,
A platinada era só mais uma das frequentadoras de sua livraria temática, o diferencial era que Miranda ia todos os dias no mesmo horário e simplesmente ficava a observando trabalhar sem dizer uma única palavra.

E quando finalmente tomou coragem para chamar Andy para sair pensou ter sido rejeitada diante do silêncio da linda moça de olhos castanhos, quando Andy conseguiu explicar sua condição, escrevendo na capa de um livro que não consegui ouvir, Miranda parou de ir a livraria.

One's MirandyOnde histórias criam vida. Descubra agora