O Vale das Borboletas

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A habilidade de falar com os mortos pode ser uma benção ou uma maldição, à os que gostam de ouvir as histórias que os mortos contam e também à aqueles que os ignoram.
Pessoas com esse dom nascem com o dever de ajudar aqueles que não conseguiram seguir em frente a encontrarem a paz, nenhuma alma por mais perversa que seja merece sentir o frio da escuridão da inexistência.

Andrea nasceu diferente, talvez diferente não seja a palavra certa para descrever toda a complexidade que está em volta de Andrea sachs, os primeiros que notaram a peculiaridade da garota foram os pais, Richard e Angeline perceberam que sua garotinha tinha algo de especial desde seus primeiros dias, o exemplo mais marcante foi no período da pré escola, sempre que um deles acompanhavam a pequena até a porta da escola eles observavam Andrea cumprimentar o porteiro, um senhor de idade e muito gentil, nas palavras da própria Andrea, quando seus pais perguntaram o porquê dela fazer isso a resposta foi a seguinte " Ora eu sou uma mocinha educada, senhor Oscar é gentil e está sempre sorrindo".
Uma resposta adorável a primeira vista se não fosse pelo fato do porteiro o senhor Oscar ter morrido antes mesmo De Andrea começar a frequentar a escola.

Após esse evento outros passaram a serem percebidos, sempre que Andrea passeava pela rua a pequena parecia entretida, seus olhos sempre encarando o " nada ".
Seus pais tentaram ignorar esses acontecimentos até que o " Nada " começou a encarar a pequena de volta.

Tinham dias em que Andrea acordava cansada, como se suas energias estivessem esgotadas antes mesmo da pequena começar o dia, marcas roxas e vermelhas estavam sempre presentes, Andrea se recusava a dormir ou a sair na rua, mas quando a pequena cometeu um atentado contra a própria vida, Richard e Angeline não puderam mais ignorar.

A partir daquele dia Andrea e a família passaram a morar com os avós.

Eles a ensinaram a diferenciar uma alma viva de uma não viva, seu avô era como ela, ele sempre parecia tão forte, mesmo com os cortes nos braços que ele tentava esconder quando ela estava perto.

Andy nunca entendeu muito bem a diferença dos que estavam vivos para os que não estavam, talvez o maior diferencial fosse a tristeza, almas perdidas exalam tristeza.
Ela percebeu que era diferente das outras pessoas sempre que via sua vizinha, a senhora Anderson a encarando da janela da casa dela.
Quando seus pais deram a notícia que ela virou uma estrelinha porque queria ficar perto do marido que também era uma estrelinha, Andy não entendeu pois a senhora Anderson não tinha ido embora, ela estava lá na janela, sempre olhando para Andy.

A pequena com sua imaculada inocência sempre ia visitar a pobre senhora, mas depois que ela virou uma estrelinha Andy sentiu que algo tinha mudado, a mulher estava triste, sua pele estava pálida branca como os lençóis da cama fofinha de Andrea, mas o que mais assustava a pequena era uma marca envolta do pescoço da senhora.

Pensamentos tristes surgiam na cabeça de Andrea, ela sentia raiva, mágoa, mas acima de tudo ela sentia dor
Muita dor.
Essa dor não era sua, hoje ela sabia disso, mas uma criança não teria como saber e a alma atormentada não ligava para isso, naquele dia Andrea teve seu corpo tomado a força, sua mente foi controlada por algo que não era humano, algo que não era bom, aquele ser não era a velhinha doce que sempre fazia tortas de maçã para ela.

Andrea não se lembra de mais nada depois daquilo, ela só se lembra de acordar nos braços do pai que parecia desesperado, Andy também lembra da mãe chorando enquanto a levavam para o hospital.

One's MirandyOnde histórias criam vida. Descubra agora