One's Mirandy

Sons e Cores

"As cores da vida são feitas das tintas de suas ações, pintadas em sua alma elas se espalham pela aquarela do coração e a harmonia depende da sua forma de se doar aos acordes do tempo."

- Só enxerga as cores da vida quem traz um arco-íris no olhar.
Você é especial, os céus te presentearam com a habilidade de enxergar os sons dos coração e as cores da alma.

Andy considera essa uma das suas memórias mais preciosas, sempre que fecha os olhos é transportada para aquele momento
Andy consegue sentir a mão calejada do seu avô fazendo carinho na sua cabeça e sua voz mansa deixando claro que ele era um homem que viveu o melhor da vida, As cores que emanavam do seu avô eram cores semelhantes a de um carvalho depois de um dia de chuva, brilhante, sereno e acolhedor.
O som de seu coração, porém, era triste, a lembrava um réquiem repleto de saudade, a partida da avó que Andy nunca conheceu ainda doía muito no seu avô e talvez esse som acompanhasse o velho homem até o fim dos seus dias, mas Andy nunca contou para ninguém.

Andy desde que nasceu conseguia enxergar as cores das almas das pessoas e os sons que emanam de seus corações, no começo foi assustador, mas com a ajuda da sua família ela aprendeu a viver com isso.

Sua mãe sempre tinha uma cor brilhante como o sol, ela sempre foi acolhedora e quentinha, seus acordes eram como uma canção de ninar.
Já seu pai, Andy não tinha palavras para descrever o quão majestoso era a presença do mesmo, os seus sons eram como trombetas,  Andy não tinha muitas lembranças dele, mas a  única certeza que tinha era que em seus últimos momentos as cores que fluíam dele eram carregadas de paz e tristeza, os sons do seu coração eram fracas melodias como um singelo violino acompanhado de uma doce flauta, já a cor de sua alma era semelhante a de um por do sol,  mesclado em tons de vermelho e laranja.
Ecoavam tristes sinfonias da paz da despedida, e amor.

Andy conheceu a cor da morte antes mesmo de saber o seu real significado.

Seu primeiro contado com a morte foi aos seis anos...talvez sete,
Andy acordou e sua mãe sempre sorridente, parecia um borrão cinza.
Que estranho, O lencinho rosa que sua mãe segurava com tanta força não combinava em nada com a pele morena, e os olhos que sempre a lembravam dias quentes agora estavam estranhamente vermelhos e apagados, seu avô estava ao lado dela pronto para a amparar caso necessário.

Andy percebeu que sua mãe queria dizer algo mas desistiu de última hora.
Então sobrou para o seu avô dizer que seu pai tinha morrido.

Andy lembra daquele momento como se fosse uma pintura em tons de marrom, Seu avô estava na varanda o vento parecia balançar seus cabelos de forma suave, A melodia que surgiu no coração de sua mãe a partir daquele dia nunca mais foi embora.

Sua mãe a levou para um lugar estranho, era como se o ambiente estivesse pesado, um silêncio cinza, pairava por todo o local, os sons eram graves e as cores eram escuras.

Teve um tempo em que Andy se perguntava se as outras pessoas também conseguiam ver o mundo da mesma forma que ela, seu avô dizia que não, que ela era única no mundo.

Todos que estavam ali reunidos emanavam cores que Andy nunca tinha visto, era assustador
O verde da dor semelhante a muco, grotesco e nojento, o amarelo parecia ser de medo, Andy não saberia dizer só sabia que essas cores eram sufocantes, e tudo parecia barulhento demais. Quando chegou perto de onde os sons e as cores estavam aglomerados Andy viu seu pai dentro de uma caixa de vidro.
O mundo de repente pareceu ficar silencioso.
Andy não conseguia ver nada, nenhuma cor, nenhum som, nada.

Andy descobriu o silencioso e escuro som da inexistência.

Já adulta o mundo para Andy era preto e branco ou a junção de ambos, o apático cinza a rodeava.
Não gostava mais de ouvir os sons que emanavam de seu coração, semelhante a milhões de infinitas pessoas gritando sôfrega e amargamente.
Andy se perguntava
Como uma criança que nasceu em uma redoma de amor acabou se afogando em meio a dor ?