Prólogo

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E lá estava eu correndo, minhas costas já se encontravam parcialmente arranhadas por ter que passar entre tantas árvores com galhos secos e quebradiços. O outono na maioria das vezes era uma época muito agradável, mas neste momento não era o caso. Estava fugindo da minha vida mais uma vez, após ter que furtar mais um dos objetos de um dos homens mais ricos no Reino de Dominion. Tenho uma vida dupla, de manhã sou apenas mais uma plebeia que apenas cultiva frutas e legumes que servem para o abastecimento do Reino, como também para a exportação de mercadoria.

Todas as vezes que sou designada para uma missão sempre vista minha roupa especial que me permite ter maior flexibilidade para escalar as casas, e caso necessário pular entre os telhados. Foi isso que me permitiu escapar muitas vezes e nunca ser pega, claro que minha roupa cobre totalmente meu rosto, só deixando meus olhos à mostra. Faço esse tipo de trabalho, pois a vida no Reino de Dominion não tem sido das melhores. O Rei Henrique III é um dos homens mais gananciosos que uma pessoa poderia conhecer. Pensando sempre em lucrar, mesmo sem nunca fornecer.

Após inúmeros aumentos de impostos, muitas pessoas viram como uma solução de quitação de dívida dar-se como escravos, efetuando diversos trabalhos exaustivos e massacrantes sem receberem nenhum dinheiro com isso. Fui uma das poucas pessoas do Reino que ainda estão livres de tais amarras, justamente por trabalhar como ladra, sempre utilizando a escuridão ao meu favor. Sou apenas uma sombra.

Muitas vezes não encaro isso como um furto, e tecnicamente não estou pegando nada que não se pertenceu ao povo anteriormente e agora está nas mãos corruptas da classe alta que vive no próprio castelo. Digo que são tempos difíceis, apesar de também nunca ter visto tempos melhores na minha curta vida de 20 anos.

O barulho dos tiros está nas minhas costas, corro sem olhar para trás enquanto sou xingada de diversas maneiras pelos guardas que à medida que se movimentam fazem barulhos estridentes. Após muito tempo correndo, comecei a analisar todo o cenário possível que poderia utilizar para despistar os guardas, arrancando um pedaço da minha calça escuta — E droga eu amo essa calça. Conseguir tecidos tem sido extremamente difícil pelos altos preços no mercado. Procuro nunca comprar nada muito caro para não chamar a atenção. No final de contas sou uma simples plebeia que não tem condições para manter-se.

Coloco a parte do tecido em um dos galhos secos e dou uma pequena corrida quebrando alguns galhos e folhas para indicar que fui à direção oposta que realmente pretendia ir. Não sou burra o suficiente para ser uma ladra e não saber andar em uma floresta sem deixar vestígios. Subo de forma prática em uma das árvores e fico observando atentamente os guardas me alcançarem, enquanto estou camuflada.

— Achei algo — um dos três guardas mostra para os outros dois. — O tecido é da mesma cor que aquela ladra estava usando.

Outro guarda começou a analisar o chão, observando o cenário que acabei criando com precisão. Ele ficou olhando o chão por um longo tempo, de forma pensativa, o que ocasionou um embrulho no meu estômago. Será que não foi o suficiente? Merda.

Quando finalmente parou, seus olhos se direcionam para o chão, se vira para os outros dois e começa a falar algo que não consegui escutar com precisão. Mas após alguns segundos os mesmos começam a se afastar e ir para o caminho que improvisei. Isso me pareceu de certa forma errada, como se fosse uma armadilha. Não consegui sair da copa da árvore, suspeitando que a qualquer momento eles voltassem e eu finalmente estaria morta por traição ao Reino.

Escutei um pequeno barulho e de repente uma flecha passa zunindo para a outra direção. E outras duas também foram atiradas. O som provocado por elas foi grande e estrondoso. Após o barulho um homem decidiu aparecer nas sombras e conferiu o que tinha feito de perto.

— Deveria tomar cuidado. Mexer com a classe alta nesse Reino só vai trazer sua morte.

— Acho que entre isso e o que estão fazendo com o povo, realmente prefiro a morte.

— Então você é uma garota ninja, ou coisa do tipo? — deu um sorriso surpreso.

— Coisa do tipo. — disse, descendo da copa da árvore e me aproximando do homem que me ajudou com os guardas.

— O que tem nessa sua bolsa preta? Não me diga que roubou de alguém importante.

— Fiz o que tinha que fazer. Esse é meu trabalho. Agora se me der licença — já começo a me virar e me afastar do homem.

Não houve nenhum impedimento, consegui chegar ao meu domicílio de forma tranquila. Coloquei a bolsa em uma das cadeiras e tirei minha máscara. Observei meus machucados novos que esconderia amanhã por baixo de várias camadas de pano do vestido que utilizava. Ao olhar meu rosto não vi nenhum hematoma, o que era ótimo. Isso poderia levantar suspeitas, mesmo que nunca enxerguem de fato uma mulher fazendo qualquer coisa diferente de procriar, cuidar da casa e cultivar na horta.

Não era a mulher mais bonita de todo o Reino, gostava de ser apenas mediana para tanto. Ser uma sombra me permitia enxergar o lado real por trás das máscaras das pessoas. Permitia-me exercer o trabalho que tenho feito. Não tinha muito peito, não era alta e meu cabelo era ondulado e constantemente rebelde. Tenho sardas no rosto, e olhos castanhos.

Sentei na cadeira de madeira e retirei o objeto de dentro da bolsa. Revelando um pergaminho muito importante contendo vários planos de batalha e que o Reino Dominion pretendia atacar futuramente. Esse pergaminho pode ser a destruição de um Reino, mas esse reino já está destruído. Coloquei novamente o pergaminho na minha bolsa e posteriormente a máscara encobrindo todo meu rosto. Saindo novamente noite adentro.

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