II

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Todas gostariam de ser princesas, até realmente terem oportunidade de serem uma. Vivo uma vida fantasiosa. Diplomacia, falsidade, segredos e traição por toda a parte. Nasci já precisando aprender a como me portar. Passo todos os dias na minha vida entre essas paredes, nunca podendo sair de fato para conhecer o mundo. Meu pai já foi um homem bom, mas agora não o reconheço mais. Após a morte de minha mãe, a Rainha Merida ele se trancou dentro de si mesmo e deixou sua alma tão escondida que nem ele mesmo a encontra mais.

Após meus 18 anos completos andando pelos corredores do castelo e procurando por qualquer porta secreta acabei encontrando vários túneis pelo castelo e comecei a me aventurar neles. Fiz plantas de todos os túneis que encontrei e que caminhos levavam. Mesmo tentando me prenderem, vivo saindo às escondidas e me aventurando no mundo lá fora por curtos espaços de tempo, antes de alguém dar por minha falta.

A verdade é que o mundo lá fora no Reino de Dominion não é como pensei. Muitas pessoas estão afugentadas, com medo e em miséria. Estão dando elas mesmas como parte de uma troca maligna para quitar dívidas que nunca serão quitadas. Não sei o que fazer, pois mesmo que meu pai seja algum dia destronado e eu como sua sucessora não irei assumir o trono pelo simples fato de ser mulher. E no meu casamento quem governará como rei será meu futuro marido.

Nesse momento me encontro em um dos túneis do palácio, fazendo mais uma visita para o povo às escondidas. Ninguém nunca me reconhece, tomo cuidado para não ser vista pelos soldados que eventualmente estão pelas ruas, mas o povo em si nunca me viu, o que não me faz me preocupar em esconder meu rosto. Olhando pelos becos vejo pessoas em situação decrépita sentados no chão e com um olhar vazio e distante. Sem qualquer esperança.

Às vezes tenho vontade de fugir, mas mesmo que fuja, para onde iria? Será que teria algum lugar no mundo em que pudesse considerar de lar? Queria poder ajudar essas pessoas de alguma forma. A única coisa que encontro é dando pequenos sacos de moedas para elas quando posso para se alimentarem. Me ajoelho na frente de um senhor idoso usando trapos de roupas e dou-lhe uma muda de roupa nova e um saco de moedas para se alimentar.

Faço isso com mais 5 pessoas e volto correndo para os túneis antes que seja pega e realmente não possa ajudar essas pessoas nunca mais. Ao voltar para o castelo escuto uma voz melodiosa me chamando.

— Marie! Marie, querida! Você precisa fazer as provas de vestimentas reais. Sabe como é importante sempre usar vestidos sob medida — quem fala é minha dama de companhia, Clarissa.

— Estou aqui. Desculpe a demora, tive um contratempo e fui ao toalete.

Ela pegou minha mão me puxando para um dos cômodos feitos para provas de vestimentas. Jogou-me um pedaço de pano azul escuro e me empurrou para trás do provador sanfonado. Após colocar o vestido e me olhar no espelho me senti grandiosa. Os detalhes de pequenas estrelas no vestido que me fez sentir como se estivesse usando o céu noturno. Meu cabelo preto e meus olhos do azul mais intenso fizeram um contraste maravilhoso. — dei um sorriso com a minha imagem.

— Oh, princesa. Você está magnífica, o azul realmente é sua cor. Agora deixe que Julie acerte suas medidas para que esse vestido fique ainda melhor.

A costureira real, Julie, trabalha para nossa família desde que me conheço por gente. Ela fez inúmeros vestidos para minha mãe e conheceu meu pai no seu melhor lado. Fico tentada a perguntar histórias sobre o passado dos meus pais para ela, mas sei que isso não seria uma coisa que uma princesa faria. Odeio essas etiquetas reais.

Passo a maior parte do meu dia na prova de vestido. Após sair de lá faço um curto passeio no jardim real e vejo meu velho amigo de infância Ruffos. Ele faz uma reverência para mim e eu a retribuo, pegando minha mão e caminhando e fazendo companhia todo o percurso do jardim seguinte.

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