Reinados

II

 — Não acha estranho eles conseguirem ver a criatura? — Niall perguntou pensativo, enquanto olhava para o trio recém conhecido — Geralmente os humanos não conseguem encher nenhuma criatura, mas estes conseguiram.

Olho para eles analisando cada um dos três. Será possível que esses três sejam mais do que humanos comuns? Uma coisa que aprendi é que nada é impossível.

Vou até Bryan entregar um caneco cheio de água gelada. Ele me agradece rapidamente com um balançar de cabeça e continua a conversar com a irmã sobre a criatura que enfrentaram horas antes.

— Nunca tinha visto nada parecido. Parecia uma espécie de peixe mutante. O corpo era humanóide, mas a cabeça.... E aqueles olhos... — Bryan sussurrou incrédulo com tudo que aconteceu. — Não parecia estar tão interessado em nós dois. Quando quebrou a porta, ficou alguns segundos tentando procurar alguma coisa específica sem ligar tanto para nós dois que éramos alvos fáceis.

Kiara lançou um olhar inconsciente em minha direção, mas não comentou nada a respeito e continuou a escutar os irmãos com atenção.

— Era uma espécie muito interessante. Apesar de possuir Guelras parecia respirar perfeitamente mesmo fora da água — Kael disse muito entusiasmado — , acho que a cor azulada é um sistema de camuflagem embaixo d'água.

Levantei e voltei novamente para perto de Niall, ainda mais intrigada que estava anteriormente. Eles conseguiam descrever a criatura com perfeição. Isso quer dizer...

— Apenas fadas ou meias fadas podem ver as criaturas? Ou qualquer ser dotado de magia?

— Qualquer ser dotado de magia, acredito que eles não sejam fadas. Não sinto nada neles nesse sentido.

— Entendo. Tentarei descobrir mais sobre os três...

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Mais um dia rodeado de tolos inúteis. Aqui os servos não eram tão bem qualificados como em Oblivion, cometendo diversas gafes que para o antigo Governante seriam aceitáveis. Olho para o meu prato frio e jogo a comida na cara do servo.

— Acha que esse prato está aceitável para o seu Rei?

— Não, Sr. Rei Andreas — o homem começa a tremer de medo.

— Então como se atreve a me servir algo assim!! — Gritei com raiva. — Volte para a cozinha e trate de me trazer algo aceitável, ou o próximo prato será feito com sua própria carne.

— Sim, Vossa alteza — Ele se retirou o mais rápido possível da sala de jantar.

O mensageiro chega na sala com um papiro, com a expressão aflita no rosto — será que terei paz algum dia nesse Reino? Se eu tivesse ganhado aquele jogo estupido de sucessão... Mas Lunar ainda iria pagar...

— Diga o que precisa dizer e saia, não estou com paciência para ladainhas fúteis — lancei um olhar para ele enquanto pegava o cálice de vinho e levava a boca.

— Soldados do Reino de Terralux estão aqui e... — Antes que pudesse terminar, o homem foi empurrado para o lado e quatro homens vestidos de farda branca com detalhes dourados avançaram para dentro da sala.

Surpreso levanto rapidamente na cadeira, pousando uma das mãos o mais lentamente possível na minha adaga. O que eles querem? Guerra entre os Reinos?

— Que surpresa inesperada... Se soubesse que teríamos convidados certamente mandaria preparar mais lugares à mesa.

— Estamos atrás da criatura conhecida entre vocês como Marie.

— O que vocês querem com ela? — O que essa idiota aprontou? — Ela desapareceu a muito tempo, ninguém sabe sobre ela.

— Estamos aqui a ordens da Rainha de Terralux, para achar e capturá-la. Se você estiver mentindo...

— Está me ameaçando? — Uma onda de raiva começa a tomar meu corpo. — Saiba que você pode seguir ordens da sua Rainha, mas no meu Reino, quem tem a autoridade suprema sou eu. Se digo que Marie não está, é verdade. Espero que se retirem antes que eu termine de contar até 10 ou perderam a cabeça, cada um.

Os soldados de Terralux se entreolharam e um deles abriu um sorriso que contorceu seu rosto. Dando alguns passos, até que o único obstáculo entre nós seja a mesa. Seus olhos ganham uma estranha cor azulada, brilhando como duas lanternas. Então sua boca abre:

— Jogue o vinho na sua cabeça.

A mão que estava na minha adaga foi até o cálice que tinha bebido minutos antes, o erguendo contra minha vontade e despejando lentamente por minha cabeça. Eu não conseguia parar, meu corpo começou a tremer tentando inibir o comando dado por esse homem. Como isso é possível?

— Agora fale a verdade. A criatura denominada como Marie está nesse Reino? Você não está se escondendo, está?

Minha boca se abre, começando a falar inconscientemente:

— Ela não está aqui, na verdade eu preferia que ela estivesse morta a essa altura.

O homem deu um sorriso de canto, um pouco enojado e intrigado com a revelação. Seus olhos pararam de brilhar e meu corpo que estava tremendo, começou a tremer ainda mais, minhas pernas perderam as forças caindo de joelhos no chão.

Os soldados começaram a sair do recinto, como se eu não fosse nada. Como se esse Reino fosse apenas uma piada. Eu sou uma piada.

Mas o que será que Marie aprontou para deixar a Rainha de Terralux colocar sua cabeça a prêmio? Ainda bem que não estava mais com Kiara, era provável levarem ela no lugar de Marie. Não que isso fizesse diferença.

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Marie estava me olhando de um jeito esquisito, como se estivesse me analisando constantemente desde o ocorrido com a criatura.

Vou até a sala e vejo um Oz meio atordoado, tomando um pouco de água enquanto é inteirado de tudo que aconteceu por Marie e Niall. Parecia que eles tinham um vínculo bom, apesar de tudo.

— Você está melhor? — Pergunto para ele.

Ele retira o olhar dos dois e me lança um sorriso meio constrangido com o ocorrido. Talvez por ter ficado apagado a maior parte do tempo enquanto estávamos lutando contra a criatura. Sua mãe também estava acordada, mas por ter permanecido tanto tempo inconsciente achou melhor permanecer um tempo na cama.

— Estou, lamento não ter ajudado com a criatura... Eu estava indo ligar o fogo para fazer algo para comermos, mas fui atingido por uma nuvem de fumaça e quando vi estava apagado no chão — ele disse tentando recordar da situação. — Foi estranho, geralmente eu consigo escutar qualquer barulho à minha volta, mas a criatura não emitiu nenhum... Era como se tivesse aparecido de repente.

— Você tem super audição? Isso tem a ver com você ser uma fada do ar?

— Sim. Somos conhecidos por isso.

— Kael tem lido bastante a respeito sobre o mundo das fadas. Ele acha importante se inteirar sobre o máximo possível para não acabar sendo pego de surpresa como aconteceu com aquela criatura.