XVIII

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— Me fale, criatura alada e acabarei com seu sofrimento.

Faz dias que estou sendo torturado. Mas hoje é ainda pior. No outro lado da sala, sendo segurada por dois guardas está Marie. Ela implorava sem parar:

— Por favor, não machuquem ele. Por favor.

O homem higieniza a mão em uma bacia com álcool, pegando um bisturi indo até mim. Eu estava deitado de bruços com as asas para cima. Ele começa a perfurar minha pele.

Arfo de dor. E começo a me debater, mesmo sabendo que era algo inútil.

Ele começa a separar minhas asas do meu dorso. Começo a gritar sem parar. A dor era imensurável. Marie começa a se debater tentando se desvencilhar dos dois guardas que a seguravam com força.

— Conte o que quero saber, Marie. E devolverei a paz para essa criatura — a rainha disse impetuosa.

Não consigo mais levantar a cabeça para olhar seu rosto. Só consigo pensar na dor que estava sentindo. O metal que estava nos meus braços anularam meus poderes.

Escuto um som de choro, e penso "sinto muito, Marie".

— Eu conto, por favor. Só pare. Por favor — ela chora sem parar. Era como se dentro dela estivesse o próprio mar.

Muitos se enganam quando se trata de extrair uma informação, muitas vezes uma pessoa não cederá pela própria dor, mas vendo a dor de uma pessoa querida.

— Não conte nada — tento falar, mas a voz sai arrastada.

— Amordace-o — a rainha disse —, ele já teve a utilidade que precisava. Agora, Marie, fale.

O homem coloca um tecido grosso e com cheiro duvidoso na minha boca, impedindo que eu emitisse qualquer som.

— O que você quer saber? — Marie se faz de desentendida.

— Não se faça de boba, garota — a rainha grunhiu. — Sabe bem o que quero saber. Primeiro me diga o que venho fazer em meu Reino, depois me fale como posso chegar no Reino das fadas. Agora.

— Pouco sei sobre o Reino das fadas. Faz pouco tempo que descobri o que era.

A rainha desfere um tapa no rosto de Marie, criando um vergão da palma da sua mão no seu rosto. Vejo ódio nos olhos de Marie, como se ela estivesse quase saindo do controle. Sua respiração irregular, batidas cardíacas acelerando.

— Apenas digo o que sei, cabe a senhora acreditar ou não. Mas isso de certo não transformará a verdade em mentira, ou mentira em verdade. Isso está além de nós duas.

A rainha foi até o homem que ainda segurava o bisturi. O tirando violentamente de sua mão. Foi até o meu corpo inserir a ponta em meu dorso.

— Grito de dor. Sentia meu dorso das costas pegando fogo.

— Eu... Vim até seu território a fim de descobrir o que seu Reino fazia como pessoas como nós.

— E assim que tivesse essas informações?

— Montaria um plano para derrubar seu Reino — admiti. — Mas pouco sei sobre o Reino das fadas. Isso realmente é verdade...

Ela retirou o bisturi de dentro da minha pele. O bisturi pingava com meu sangue pelo chão, indo com ele até Marie.

— Garota idiota. Acha realmente que poderia derrubar um Reino dos filhos de Dioj? Pagará por tais atos. Com essa cicatriz a amaldiçoou, a amaldiçoou por ser filha de um humano com uma abominação, e principalmente por ter a imagem e semelhança de uma obra de Dioj.

Ela fez dois cortes nos dois lados do rosto de Marie. Fazendo seu sangue começar a brotar para fora do ferimento.

— Levem-os daqui. Não quero ver suas caras até o próximo dia. 

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