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Era quase de noite. Tudo parecia incrivelmente silencioso. A essa altura o céu estava vermelho como o sangue jorrado de um cálice. Ao chegarmos à frente dos portões Bryan desmonta de seu cavalo e mostra o pingente com o emblema de Terralux, o que faz com que os Guardas que estavam com suas armas miradas em nossa direção a baixassem.

Ao abrirem os portões, o interior do reino ganha vida, com várias pessoas se movimentando corriqueiramente para seus afazeres diários do fim do dia. Inclino constantemente a cabeça para baixo, apesar de os disfarces serem bons, com toda certeza não seriam o suficientes para verem que ela era uma garota se olhassem mais de duas vezes para sua face. Uma senhora com vestes humildes e uma touca branca que cobria quase todo seu cabelo branco esbarra sem querer com a lateral de um caixote cheio de especiarias no chão e dá um sorriso envergonhado.

O som de um sino começa a soar, fazendo com que as várias pessoas que andavam pelas ruas parassem tudo que estavam fazendo e se dirigissem para os diversos templos religiosos espalhados pelo final de cada rua. A mulher que anteriormente estava com o rosto vermelho como um tomate de vergonha perdeu totalmente sua cor, sua face inexpressiva perdeu qualquer brilho de consciência, vagando igualmente para um templo próximo como os outros.

Olho rapidamente em direção de meus irmãos, me perguntando se eles também acharam a cena perturbadora, ou se estava imaginando coisas. O que fez Bryan nos conduzir para o mais longe dali. Chegando a um beco isolado e afastado da onda de pessoas que passavam em nossa volta saímos dos nossos cavalos.

— É estranho... Assim que aquele sino tocou aquelas pessoas perderam qualquer expressão no rosto e começaram a andar de forma padronizada para os templos... — Bryan olhou para fora do beco rapidamente para ter certeza que não estavam sendo vigiados. — As ruas estão vazias, não tem absolutamente ninguém lá fora.

— Elas lembram-me muito as formigas e abelhas — Kael olhou pensativo para a parede, se perdendo novamente em seus próprios pensamentos — Elas também agem assim, mas aqui pareceu... Errado.

— Quase cheguei a pensar que estava alucinando. Aquela senhora, ela simplesmente saiu vagando sem qualquer expressão que minutos antes havia em sua face, mas de qualquer forma nossa missão tem que ser priorizada. Vamos achar Marie o mais rápido possível e sair fora desse lugar.

— Esse Reino é imenso, não vai ser fácil localizá-la e sair daqui a dois tempos — Bryan pegou um pequeno binóculo e começou a escalar a lateral do beco —, tentem deixar os cavalos quietos e não chamar muita atenção. Vou tentar nos localizar por cima.

Olho cauteloso para os lados. A rua continuava silenciosa, o que me deixava ainda mais angustiada. Kael pegou um pedaço de papel e de carvão e começou a escalar a lateral do beco seguindo Bryan segundos depois. Sozinha no beco. Acabo por me sentir frustrada, por ser deixada para trás. O que me faz amarrar os cavalos e segui-lo.

Ao chegar ao telhado, os dois me olham surpresos.

— Por que ninguém segue o que eu falo? — Bryan olhou sério tanto para mim, como também para Kael que simplesmente o ignorou e começou a desenhar em seu papel.

— Achei que seria mais útil eu subir e fazer um mapa dos arredores. Assim podemos ter uma noção da nossa localização — Kael não desgrudou os olhos do papel enquanto falava —, além do que não vejo utilidade no seu comando.

— As ruas realmente estão totalmente desertas — sussurrei, observando com exatidão as ruas próximas tão vazias como minutos atrás —, devem tomar cuidado para não sermos percebidos por algum guarda.

— Tudo está vazio, Kiara. Até mesmo os guardas parecem ter seguido para dentro dos templos...

— Que falta de segurança.

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