Fazia dias que não via a luz do dia. Estava sentada na palha, tentando maquinar algum plano para sair desse lugar imundo. Darin estava me observando do outro lado, em uma outra cela. Sei que ele não me culpa por estar nessa situação, mas não consigo evitar de saber que fui, sim, a culpada por tudo isso. Se eu tivesse seguido o plano original...
— Está mais calada do que de costume. O que está pensando, Kiara? — ele me pergunta ingenuamente.
Não tinha muita coisa a se fazer quando se está em uma prisão no subsolo. Sabia que faltava pouco para Andreas chegar em Dominion em bancar o papel de marido prestigioso buscando sua recém esposa sumida. Poderia facilmente ser condenada por decapitação ou coisa pior. Mas como sair desse lugar?
— Em como nos tirar daqui — digo para Darin, em voz baixa, para que nenhum guarda no outro lado da porta possa escutar.
Ele dá uma risada de alívio.
— Te conhecendo, não tenho dúvidas que vai conseguir — Ele começa a levantar da palha alongando a perna que lhe restava e me jogou algo que caiu um pouco à frente da minha cela. Consegui pegar o objeto, o observando. Era uma chave? De que porta? da cela? Não, não deve ser algo tão fácil.
Olho para ele momentaneamente tentando extrair qualquer informação de seu rosto. Guardo o objeto dentro do meu traje de espionagem e volto para o meu lugar, sentada pacientemente na palha.
— Tenho uma música para momentos como esse — ele disse.
— Ah, não. Por favor, não cante. Preciso do silêncio.
A porta se abre, revelando alguém que conheço bem. Entra na parte interior da prisão, ficando poucos centímetros à minha frente. Ela não mudou nada.
— Clarice?
Ela não olhou para meu rosto e depositou a bandeja com minha comida no compartimento feito apropriadamente para isso, de modo que não fosse necessário abrir a porta da cela.
— Olhe debaixo do prato — ela sussurrou, já seguindo destino para entregar a comida de Darin.
Disfarcei, sentando na palha e levantando levemente o prato, achando um bilhete. Esperta. Poderia facilmente comê-lo e não teria nenhuma evidência de que ele existiu.
Esperei ela sair e os guardas fecharem as portas para começa-lo a lê-lo:
Fiquei sabendo de sua prisão no mesmo dia em que os guardas te capturaram. Me vi na obrigação de tentar salvá-la, pois sei que faria o mesmo por mim, mesmo não tendo tido chances. Aguarde até o jantar, até lá conseguirei as chaves necessárias para uma fuga. Nesses dias pensei muito sobre o motivo de a princesa de Dominion querer matar o próprio pai com tanta ênfase. Agora sei. Não sei qual é seu verdadeiro nome, mas sei que se não salvá-la também estarei me condenando. Andei monitorando e anotando os horários de trocas de turno. Aproveitarei todas minhas observações. Aguarde.
Engulo o bilhete. Ele nunca existiu.
Darin me observa, não precisando de muito para saber que algo estava acontecendo. Mas por confiar tanto em mim, não chegou a me perguntar sobre, voltando a comer sua comida.
A comida da prisão não era tão ruim, não quando estava em um Reino como Dominion. Dificilmente se tinha o que comer nesse Reino, a não ser que a pessoa fosse de uma classe alta, é claro. No geral as pessoas passavam fome com muita frequência. Não imagino quantos dias estou aqui, mas meu cabelo já evidenciava ter crescido um dedo pelo menos. Darin, no entanto, já tinha seu cabelo no ombro. O que indicava que estava nesse lugar há muito tempo. Talvez todo tempo em que estive em Oblivion.
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Reinados
FantasyAo que se pede, recebe. Ao que mente, na mentira viverá. Ao que é hipócrita, em uma vida hipócrita viverá. Ao que domina, dominado por seus atos será .