XXIV • "O espinho do buquê"

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Aviso: Ato preconceituoso

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Eu não gosto de flores.

Nos corredores do prédio de vidro e concreto tão habitual, meus passos saiam com pressa, na vontade de evitar tudo que os rostos conhecidos me remetem, afobada pela fuga do passado tão recente que parece estar ao meu alcance, quase encostando-se em mim. Mas São Paulo é um buquê e carrega com orgulho todos os espinhos que puder, reforçando a falta de ar que atinge meu peito quando eu cruzo o caminho com ele. Meu peito batia forte, mesmo que não da forma excitante que gostaria, muito mais como uma arritmia gerada por um fio de pânico, travando a minha atividade respiratória nesse complô injusto que meu corpo fez contra mim. Acredito mesmo que o corpo busque o melhor para mim, mas um alerta de perigo tão escancarado, só permite que me torne uma presa fácil, logo numa caçada decisiva, sem nenhum gostinho de teor sexual ou de conquista romântica. Só o puro medo.

As pétalas vermelhas murchas foram facilmente atiradas no pequeno cesto de lixo, como se pudesse de uma hora para outra atirar tudo que tivemos e fingir que isso não me atingia. De alguma forma Breno se manteve a espreita, gerando essa tensão que a cada nova investida dele me tornava mais fraca, mais impossibilitada de sentir que bastava atirar tudo no lixo. E mesmo sabendo que as lembranças iam permanecer, eu não imaginei a crescente de ansiedade que ele me causaria, nunca imaginei que as batidas do meu peito se tornariam um alerta que faz o suor vir frio em minha pele, tão longe da sensação de frio que as borboletas causavam numa versão de mim mais jovem. Um medo meu e um pânico muito bem maquiado de quem se desespera para saber quem sou eu. Quem é essa Ramona que ele nunca viu.

Eu não gosto de flores, mas o lírio do tigre significa uma súplica, um pedido cheio de abdicação de si mesmo, como quem implora por pouca coisa. Os traços que marcam sua pele, trazem cores delicadas, sobressaindo a flor entre tantos desenhos de tons escuros. Por parecer uma esperança no meio de um vazio preenchido por pouco, com a justificativa de ser a flor de seu aniversário. Mas muito além de traços, existem seus olhos.

E seus olhos gritam "Por favor, me ame!"

O tempo todo eu só quis calar a minha mente tão barulhenta, invadindo qualquer cenário perigoso que pudesse me engolir com a mesma impulsividade que eu almejei. Enquanto eu só queria esquecer de tudo, fui imprudente até chegar no fechamento do círculo, daquele que eu temi existir na linha do tempo de todas as decisões erradas, mas torci para ser um pensamento intruso nas minhas divagações exageradas.

- Sentiu saudades?

Jungkook me pergunta, encostado a porta de seu apartamento, com o tronco nú e sua tatuagem de lírio do tigre se sobressaindo em meu campo de visão, não muito distante da serpente que adorna a lateral de seu tronco.

Meu corpo amolece, em um fio de decepção e na intensidade de cada pedaço de si que significa alguma coisa que ninguém gostaria de saber.

- Disse que não estava saindo com outras pessoas.

Não existe amor em SP • JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora