XXV • "Eles dizem que a dor que carrego é hipocrisia"

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Aviso: Uso de droga por menor,
tentativa de suicídio, Violência.

Quando estou dentro da minha cabeça é difícil dizer se outras pessoas poderiam compreender tamanha confusão

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Quando estou dentro da minha cabeça é difícil dizer se outras pessoas poderiam compreender tamanha confusão. A falta de ar e de palavras deixa aberta uma interpretação equivocada, com uma sensação reclusa que bloqueia qualquer possibilidade de saída da minha própria mente.

- Não dá pra se envolver com caras como você por muito tempo.

Porra.

- Caras como eu?

Ouço minha voz, sem entender como consegui projetar som depois de minutos num silêncio externo e barulhos ensurdecedores na mente. Caras como eu. Babacas como eu. Babacas como meu pai. Mas sua mão já segura o puxador da porta, mais do que pronta para sair desse refúgio.

Solto o ar com intensidade, me sentindo puto, indignado, com raiva e um misto de tristeza que não parecem ter uma fonte. As coisas continuam acontecendo da forma que querem, sem que eu reaja ou tenha peso sobre as situações, talvez por ter me acostumado a influenciar tão pouco no caminho que minha vida faz pra mim.

Caras como eu. Como se eu soubesse quem eu sou no final das contas. Tudo fica completamente em branco, sem saber o que passa dentro de mim e sem saber pôr palavras para explicar a agonia, conforme meu peito bate cada vez mais forte eu sigo em algum tipo de piloto automático ao observar minha figura no espelho, ao atar o nó da gravata. Malditas gravatas e malditos ternos de tecido grosso, maldito aroma de produto de limpeza que exala no corredor do escritório. Minha vida se coloca como uma sequência de euforias e melancolias, tenha sido há sete anos ou agora, essas ondas ainda regem a forma descompensada que tento existir.

Encaro o rosto velho do meu pai, sentado no centro da mesa de reuniões e dessa vez estou presente. Por estar cansado de tudo, por não achar que suporto mais e por ter provado um pouco de paz sincera. Não aguento mais ter medos. Ser perseguido por um passado sem fim, numa névoa constante e pesada em meus ombros, carregando uma dor que ninguém vê.

A apresentação se inicia e mais um caso importante mantém os engravatados em silêncio até que alguma brincadeira sem graça os arranque risinhos forçados. Eu sinto minha raiva crescer, me perguntando por que Ramona saiu tão fácil pela porta e principalmente por que não disse como me sentia, se é que eu sabia o que estava sentindo. Ainda assim, não sei o quanto suas últimas palavras significaram para ela, me deixando doido com a ideia de não poder respirar mais uma vez contra sua pele quente e ter que voltar ao limbo de não tê-la nos meus dias, nesses dias vazios que me engolem e eu não acredito suportar mais. Não depois dela.

- Por isso eu quero que coordene esse caso com os outros advogados, incluindo o Jungkook.

Ajusto minha posição na poltrona, abrindo as pernas relaxadamente, completamente contrário as linhas dos meus pensamentos. Sua frase direcionada a um dos seus advogados mais experientes, sendo pareado comigo. Soa ridículo. Por ele nunca ter se importado com o que eu iria fazer, por nunca ter dado atenção e agora querer mostrar o sucesso do filho que ficou. Não o filho que ele queria ter. A dor é mesmo um processo. No qual ele não permitiu que cicatrizasse, com um amontoado de lembranças sobre ele e sobre uma dor que se esgueirou nas paredes de casa, insuportável fosse ver meu rosto. Ele é apenas um copo rachado, impossível de despejar uma gota de amor sequer, frustrando qualquer um que tente completar o recipiente de boas intenções. Como minha mãe tentou.

Não existe amor em SP • JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora