Ramona.
Significa "protetora" ou "sábia protetora". Muitos dizem ser a versão feminina de Ramon, mas não gosto de pensar assim, parece que estamos sempre atrás dos homens. De qualquer forma não sei qual a origem real, o motivo pelo qual meus pais escolheram esse nome, mas eu gosto. Digo até que não teria melhor combinação pra minha personalidade, embora ainda busque entender esse emaranhado de coisas que insiste em dizer que tem tudo sob controle. Eu gosto de fingir que está tudo sob controle.
Gosto de fingir que faço tudo que quero, quando no fundo sei que estava sendo condicionada a fazer algo, e isso me irrita pra caralho. Parece fora de contexto falando assim, mas tem sido a única coisa clara na minha vida desde que comecei a faculdade e explorei os cantos proibidos de São Paulo, esses cantos são de carne e osso, vale ressaltar. E assim, estava eu mais uma vez arrependida de algo que achava que queria. Na minha frente, Breno, quem eu achei que me casaria, pra grande felicidade dos meus pais, que o aprovavam mais que tudo. Também com sua aparência de bom moço, bem vestido, sempre perfumado e um sorriso dissimulado, fácil cair em sua conversa. Até eu cai.
- Você vai querer Americano ou Latte? Amor? - Ele estalou os dedos em frente ao meu rosto, me tirando dos devaneios matinais.
- Hã? ah! Eu... - Me pego realizando muitas coisas, mas a primeira delas é "ele não sabe qual café sempre tomo". - Latte, como sempre.
Ele concorda e me deixa a mesa para fazer nossos pedidos. Mas ele não lembra o café que tomo praticamente todos os dias? Eu sei até do aniversário de seu gato! Isso faz com que me sinta uma idiota, principalmente por que ele deve ter que memorizar pedidos demais de café, pra todas as suas amantes.
Meu corpo apenas esquenta em ódio, nem sei se tanto dele ou de mim, por ser tão burra. Ontem minha melhor amiga enviou fotos dele beijando e se envolvendo de forma nojenta em público com duas mulheres, pelo conforto da situação eu só poderia imaginar que não se tratava de uma primeira vez. Meu celular indica uma nova mensagem na barra de notificações, e só podia ser Mariana, que me mataria se soubesse que estava na companhia dele esta manhã, por que de fato soa absurdo depois das fotos que ela me enviou. Tento ignorar o celular por enquanto, minha cabeça não está preparada pra esse tipo de informação, digo, como poderia?Me sinto estranha e desconfortável na presença dele agora, mas nem saberia como abordar um tópico como esse, ou simplesmente fugir, ignorar... Eu não costumo ser tão passiva à situações, principalmente quando eu viro a corna da história, mas como já disse, eu tenho sido apenas um emaranhado de coisas, exigir uma ação imediata é demais pra minha saúde mental, mas sei que não posso aceitar tal contexto.
Ele volta com nossos pedidos e num ato de extremo desconforto me levanto da mesa com alguma desculpa urgente. Ele fica lá parado sem muita reação e sinto meu corpo me guiar pra fora do local. E o ar subitamente se torna o mais fresco que poderia respirar, senti como se estivesse mesmo racionando minhas inspirações e expirações na presença de Breno, sufocada. Me apresso para pedir um Uber, embora ainda tivesse tempo pra um café da manhã calmo antes da primeira aula na faculdade, que não fica muito distante. Me xinguei um pouco por permitir que ele fosse me buscar em casa, seguindo uma rotina que parecia ridícula, tudo parecia ridículo! O carro chegaria em três minutos, mas logo sinto alguém me segurar pelo braço, assim eu puxo imediatamente e o encaro com descrença.
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Não existe amor em SP • JJK
FanficO olhar misterioso que se escondia entre telas de computador e cigarros suspeitos, era tudo que Ramona queria evitar, que fora ensinada a evitar. Em uma busca dolorosa de entender os próprios sentimentos, não tinha realizado ainda que encontraria re...