VII • "Encontro duas nuvens"

848 100 38
                                    

Ninguém quer chegar ao fundo de poço

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Ninguém quer chegar ao fundo de poço.
E na verdade quantos de nós sabe o que isso realmente significa? Pode ser diferente para cada um, porque estar sorrindo e se divertindo não significa estar bem. E eu não notei o quanto acreditei nisso com a ardência do álcool na garganta e nos corpos suados colados ao meu.

Precisei sentir uma dor no peito de tantas lágrimas, lembranças e sensações que não voltam, que não são mais reais. A dor me ensinou mais do que o conforto que não queria largar. Se conhecer só é possível com a abertura de feridas, pra que essas cicatrizes parem de arder, e afirmo isso mesmo estando no meio do caminho, mesmo ainda sentindo o sangue pingar. Dessa vez em menor quantidade.

Levo a xícara de latte macchiato até a mesa, repleta de pranchas com os desenhos e detalhes do projeto que me tomaram a tarde toda para começar. Volto meu olhar a Luana, que parece concentrada na produção do organograma e fluxograma.

- Tem certeza que não quer um pouco? Já me sinto com sono.

- Não consigo tolerar bem café, nem nenhuma bebida forte pra esse mérito.

Rio um pouco, me identificando.

- Acho que sou a mesma coisa, mas esse latte é tudo que eu podia querer!

Ela coloca o cabelo trançado por trás da orelha, finalizando as anotações em nossa prancha de planta e fico aliviada por encontrar alguém com o mesmo nível de compromisso acadêmico que eu, além de compartilhar algumas similaridades.

Mesmo que tenha passado os últimos dias engolindo choros e logo depois os deixando escapar, tudo isso me fez realizar que por mais que minha dor, e que esse vazio sejam válidos, eu preciso lembrar que ele está seguindo com sua vida e eu deveria também, mas não com hábitos destrutivos, dessa vez eu quero fazer direito.

- Prontinho, acho que por hoje podemos considerar trabalho feito! - Lu sorri grande, empurrando as folhas para o lado e guardando o material que utilizamos para essa primeira etapa.

- Não acha que devemos ligar esses dois pavimentos? Acho que vai de encontro com o estudo solar que fizemos.

Ela fica um pouco pensativa, encarando a amostra do desenho que apontei.

- Acho que tem razão, mas ainda temos tempo! - Faz uma pausa enquanto busca o celular na pequena bagunça da mesa - A mensagem que me enviou foi cedo demais, não dormiu?

- Não...

Ela vira o rosto um pouco incrédula.

- Bom, fazemos esses ajustes depois, sabe que vai tomar algumas horas.

Concordo com um aceno de cabeça, voltando a levar minha xícara até os lábios. Somos interrompidas pelo Lulu da Pomerania da minha mãe correndo pelo cômodo até o hall de entrada, produzindo um som leve de suas unhas no piso de mármore branco, seguido da porta abrindo delicadamente revelando Mariana.

Não existe amor em SP • JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora