Aviso: Menção ao suicídio, Menção ao aborto e Violência.
O jeito que ele me prendeu em suas correntes, seja a do pescoço, exposto e em súplicas por mordidas e beijos, ou as que o prendem a algo doloroso, secreto e perigoso pra quem se envolver demais. Em pensamentos totalmente sem nexo, achei estar perdendo meu tempo tentando entender quem ele é e o que acabou causando com a contradição que o cerca.
Eu me culpei de alguma forma, por achar que eu já deveria saber e no fundo talvez soubesse o que estava fazendo. Mas o choque me atingiu mesmo com as mensagens subconscientes me alertando, por que era bom demais pra ser verdade, era realmente tudo que eu precisava e não deveria confiar em algo que se encaixou tão bem. Transas tão gostosas, uma conexão que me puxava de qualquer conforto, moldando uma nova versão de mim mesma, explorando toda a safadeza e todas as variações de cinza, deixando a vida perigosamente excitante.
Mas notei que não poderia fazer isso pra sempre, sem saber qual era a verdade que saia de sua boca tão beijável, sem aguentar mais ser só um segredo.
A imagem dele adentrando o hall do hospital com Amanda não poderia me torturar mais. Imaginando que toda a tontura que me deixou sem palavras pra expressar advinha desse incômodo, de toda a imaginação, imaginando estar com outra pessoa e que essa poderia ser um complemento perfeito para ele. Mas para ser sincera eu nem sei por que fugi. Revivi em minha cabeça todas as sentenças que ele poderia ter usado para se redimir, se explicar de alguma forma ao invés de manter um silêncio que me provava idiota. Comparando as atitudes dele com uma pessoa que me machucou profundamente. Pensei até ser injusto mas não havia espaço para não pensar assim, fosse tão grande o medo de tudo se repetir. De achar que nunca seria digna para ser única, para ser desejada e amada.
Numa multidão de olhares eu sinto que não estou solitária nessa dúvida incessante ou na agonia de questionar o que é, no final das contas, o amor. Sem existir palavras que definam, apenas o sentir que adentra nossa existência e nos torna alheios de tudo a nossa volta, concentrando-se numa sensação que as vezes é vazia e as vezes é cheia, chegando a transbordar.
Mesmo com o sorriso largo, os olhos não acompanham, esguios ou amendoados, ou olhos claros, ou olhos pesadamente maquiados. Todos encaram os quadros expostos nas paredes cor de palha, do ambiente arquitetado quase como um labirinto, guardado por vitrines de vidro, integrando o que há dentro do espaço e o que há do lado de fora, como se não houvesse mesmo um limite para um ou outro. As artes expostas nunca ficam distante do que significa a arte do caótico paulistano.
As obras são coloridas, com traços que se estendem e se quebram em pontos aleatórios, como se traduzissem emoções difíceis de explicar, quase perturbadoras. O caráter é neo expressionista em todas elas, mesmo que as de destaque da exposição tenham um toque simplório por serem rostos traçados sem cuidado, com formas irreais e a falta de expressão humana, o que me revira a cabeça, o quanto algumas são tão vazias, se tornando difícil de interpretar e outras tão caóticas, me parecendo um pedido de ajuda.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Não existe amor em SP • JJK
FanficO olhar misterioso que se escondia entre telas de computador e cigarros suspeitos, era tudo que Ramona queria evitar, que fora ensinada a evitar. Em uma busca dolorosa de entender os próprios sentimentos, não tinha realizado ainda que encontraria re...