XXVIII • "Aquela música que retrata São Paulo"

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A formação urbana, com destaque para o seu subtópico que mais tenho avidez em aprender, a arte urbana, se dá em espaços de contradição e conflito, demonstrando a relação de forças entre grupos sociais, entre interpretações do cotidiano, de memória...

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A formação urbana, com destaque para o seu subtópico que mais tenho avidez em aprender, a arte urbana, se dá em espaços de contradição e conflito, demonstrando a relação de forças entre grupos sociais, entre interpretações do cotidiano, de memória e história. Ou seja, são produções de ordem simbólica. Meus pensamentos buscam humanizar tudo que passa por minha cabeça, colocando em contextos mais próximos da minha realidade, como se essa arte urbana fosse capaz de sentir na ponta dos dedos. Talvez eu tenha humanizado demais, em rabiscos soltos que ainda pairam nas minhas lembranças.

Por isso se torna difícil me concentrar nas palavras que tento juntar no documento, à luz da tela cansando meus olhos por ter dedicado algumas horas à produção acadêmica e pela relação ridícula que faço das imagens de arte e dos riscos de seu corpo.

Quero entender o que sinto, por mais que tenha ignorado esse sentimento confuso e usei da desculpa mais fácil que poderia surgir para mim, como todo o caos que me envolveu num abraço forçado, em desastres naturais que me tiraram o sono, tão diferente da sensação que a tempestade dele faz dentro de mim. Seja dita a verdade, senti espinhos das flores que não queria receber, como um formato de desculpa insincera que carrega as lembranças duras.

Me debruço em livros de arte urbana, de estudos de paz na arquitetura e sobre o colonialismo, mas a tela do meu celular ilumina minimamente com uma ligação inesperada. Ou talvez em meu íntimo, tão aguardada, mesmo que seja difícil admitir.

- Não vai perguntar por que eu liguei? - A voz beija meus ouvidos, sem notar o quanto eu sentia falta da sua entonação em dias caóticos como os últimos têm sido. Só então percebo o meu silêncio.

- Só se você quiser me contar.

Ele ri. Eu ouço o pequeno sopro do seu riso e consigo imaginar seus dentes a mostra e o sinal que carrega embaixo do lábio.

Tudo parece ter mudado de lugar, mas continua o mesmo em alguns detalhes que surgem como um gatilho para o começo disso tudo. Para o fato de tudo ter começado com sua mão esticada esperando que eu correspondesse a apresentação e pudesse cair no seu papo de babaca. E eu cai.

Só que de alguma forma ele parece ter sido atingido para além da barreira, provavelmente enroscado na minha teia, sem saber que acabaríamos desse jeito, entrelaçados um no jogo do outro. Algo em mim insiste na péssima ideia que é me manter nessa tempestade em alto mar, tão perigosa quanto outro desastre natural.

- Estou na frente da sua casa. - Existe um momento de silêncio e ele deve imaginar que não acredito em suas palavras. - Está me devendo uma conversa, lembra?

Confiar agora não significa invalidar todo o medo e a falta de confiança que me atingiu dias antes, mas não permite que isso seja algo que me limite. Por precisar ouvir e ser ouvida, já que nossas bocas sempre foram uma na outra e manter segredos embaixo do tapete já se provou ser uma péssima solução. Passei muito tempo tentando entender o que sentia, por que me deixou tão fora de órbita imaginar que ele estaria com Amanda. Distorci a imagem que tinha dele tantas vezes, que tudo que causava um turbilhão de pensamentos caia por terra ao encarar seus olhos.

Não existe amor em SP • JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora