CAPÍTULO I - CAOS

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NARRADORA

Após a conversa que teve com a amiga, Rafaella decidiu que precisava reagir ou se afundaria de vez. Certamente ela ainda não estava recuperada, física ou psicologicamente, mas precisava dar o primeiro passo. Sabia que o caminho seria difícil, afinal, a lesão que sofrera era bastante grave e demandaria meses de fisioterapia. Não haviam garantias de que o tratamento seria efetivo ao ponto de fazê-la voltar às quadras e mesmo ciente disso, estava fortemente determinada a encarar cada sessão como se estivesse em uma partida decisiva.

E Rafaella era viciada em vencer.

Mais uma semana se iniciava, a terceira desde que passou a frequentar o Centro de Reabilitação Esportiva onde Mariana atuava como fisioterapeuta. Acordou antes mesmo do despertador anunciar o horário em que deveria se levantar, caminhou preguiçosamente até o banheiro em busca de um banho gelado ou acabaria se atrasando, e tudo que menos desejava era a melhor amiga lhe dando mais um sermão.

Um pouco antes das sete da manhã entrou na ampla sala repleta de equipamentos, pacientes e vários profissionais. Avistou a amiga completamente entretida no celular, o sorriso bobo nos lábios denunciava com quem ela mantinha uma conversa naquele momento, Rafaella a conhecia bem demais.

— Cadelando a Bianca a essa hora? – Puxou o celular das mãos de Mariana e a encarou com um sorrisinho. – Não passou das sete ainda, vocês devem ter se despedido há mais ou menos uns trinta minutos, o que me leva a crer que...

— Que tá na hora de começar seus exercícios. – Alcançou o aparelho que a amiga tinha em mãos e revirou os olhos. – Vem, hoje vamos começar com abdução e adução, e em seguida abdução horizontal com haltere de 2kg, ok?

— Eu juro que não foi uma crítica. – Encolheu o ombro saudável e sorriu para a fisioterapeuta. – Só 2kg? Você sabe que eu aguento muito mais, Mari. Desse jeito meu ombro nunca vai melhorar.

— Você se formou em fisioterapia e não me contou? – Cruzou os braços e arqueou uma das sobrancelhas. Viu a amiga murmurar algo incompreensível e não poupou o sermão. – Se continuar reclamando, eu pego um haltere de meio quilo e te faço ficar aqui até depois do almoço.

— Nossa, quanto mau humor. – Se desfez da tipoia que imobilizava o ombro direito e se posicionou corretamente. – Nem parece que transa duas vezes ao dia. – Iniciou o exercício que consistia em movimentos verticais do ombro lesionado.

— Não é mau humor, mas você às vezes se esquece que além de sua amiga, sou sua fisioterapeuta. – Se aproximou de Rafaella e segurou cautelosamente o ombro e antebraço, auxiliando nos movimentos. – Um rompimento do tendão não é uma lesão leve, Rafa. E eu jamais seria irresponsável ao ponto de permitir você ir além do seu limite.

— Não é como se eu fosse fazer halterofilismo, Mariana. – Suspirou completamente frustrada e continuou com os movimentos, ainda com o auxílio da amiga. – Uns quilinhos a mais só me farão adiantar um pouco a recuperação, até porque já estamos na terceira semana e eu mal consigo tomar um banho sem sentir dor.

— Ainda bem que quem decide as coisas aqui sou eu. – Pressionou um pouco mais o ombro de Rafaella e a ouviu resmungar de dor. – Tá vendo? Eu forcei um pouco e você já sentiu, agora imagina o estrago que um haltere de três ou cinco quilos pode fazer?

— Ok. – Não quis insistir numa discussão que perderia. Conhecia Mariana há anos e sabia o quanto ela prezava pela ética e que jamais abriria mão disso pela amizade que tinham. – Você não tem outros pacientes pra atender?

— Tenho sim, mas preciso fazer algumas anotações sobre o seu caso antes de te deixar sozinha. – Alcançou o tablet sobre a mesa de apoio e voltou a atenção para a tela.

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