RAFAELLA KALIMANN
Viver o presente. Era exatamente o que eu vinha fazendo desde a conversa esclarecedora que tive com Gizelly há algumas semanas. Pensar no que aquele meu momento de descontrole significava não era uma opção, eu decidi aproveitar nossos momentos juntas. Sem rótulos ou cobranças. Estar com ela era deliciosamente leve e fácil.
Naquela manhã de sábado fui a primeira a despertar, mas como a advogada ainda dormia profundamente agarrada ao meu corpo, imaginei que não haviam passado mais do que três horas desde que finalmente adormecemos. Me lembro que os primeiros raios de sol indicavam um novo dia, mas estávamos exaustas demais para nos manter acordadas após uma madrugada deliciosa provando do corpo uma da outra.
Me mantive na mesma posição para não a acordar e me permiti observá-la. O rosto livre de qualquer maquiagem, os lábios entreabertos e os cabelos espalhados pelo travesseiro a deixavam com uma expressão angelical e eu não podia me sentir mais encantada.
Sem conseguir me conter, levei uma das mãos ao seu rosto e deslizei os dedos por sua pele tão macia, mas ela apenas se aninhou ainda mais em meu corpo, o que me fez sorrir feito uma idiota. Completamente afetada com aquela cena, fechei os olhos após decidir que tentaria dormir um pouco mais, afinal, o relógio sobre a mesa de cabeceira indicava oito e dezenove da manhã.
Alguns minutos depois ouvi algumas batidas na porta e uma voz sonolenta chamar por Gizelly. Não havia o mínimo sinal de que ela despertaria, então com todo cuidado me desvencilhei do braço que envolvia minha cintura e me afastei da cama. Busquei minhas roupas pelo chão e as vesti, entrei no banheiro e me ajeitei diante do espelho o mais rápido que pude, antes que a pequena do outro lado decidisse ser mais energética na tentativa de acordar a mãe.
Caminhei lentamente até a porta e assim que a abri, levei o indicador aos meus lábios em um pedido de silêncio. A pequena ainda visivelmente sonolenta, apenas balançou positivamente a cabeça e estendeu a mão em minha direção. Já no corredor, me abaixei levemente para deixar um beijo em seus cabelos e segurei sua mão.
— Bom dia, tia Rafa. – Ela bocejou entre uma palavra e outra e me encarou com os olhos castanhos pequenininhos enquanto caminhávamos pelo corredor. – A mamãe ainda tá dormindo?
— Bom dia, meu bem. – Sorri carinhosamente para ela e afirmei com a cabeça enquanto me deixava ser guiada até a cozinha. – Você precisa de algo? Se quiser, eu posso chamá-la.
— Não, eu só tô com muita fome, acho que o barulho da minha barriga me fez acordar. – Sorriu me mostrando todos os dentes e eu não contive o riso. – Você pode fazer o meu café, por favor?
— Bom, eu não cozinho tão bem quanto a sua mãe... – Encolhi os ombros levemente constrangida pela minha falta de habilidade. – Mas se você me disser o que quer comer, prometo tentar.
— A mamãe sempre prepara misto quente ou tapioca com bastante queijo. – A vi me encarar com um sorrisinho fofo enquanto se acomodava na banqueta próxima a ilha central. – E suco de manga.
— Certo. – Levei uma das mãos a cintura e ponderei sobre as duas opções, certamente o misto quente era o caminho mais rápido e com menor chance de erros, mas ainda assim eu precisava saber o que ela preferia. – Qual dos dois você prefere?
— Tapioca com muito queijo. – Deu ênfase a quantidade e eu apenas balancei a cabeça. – A gente pode levar café pra mamãe na cama?
— Tapioca com muito queijo. – Sussurrei para mim mesma. Ok, eu já havia feito tapioca muitas vezes, não era tão difícil assim, certo? Eu só precisava encontrar os ingredientes, mas isso significava mexer nos armários. Será que Gizelly se importaria?
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Match Point | ⚢
FanficDuas situações distintas, mas igualmente traumáticas, foram capazes de levar Rafaella e Gizelly ao mesmo destino: o fundo do poço. De um lado, uma talentosa tenista viu sua carreira promissora ser prematuramente interrompida após uma grave lesão e t...