NARRADORA
Desde o resultado do processo, há quatro meses atrás, Beatriz parecia ter se transformado em outra pessoa. Sua postura pacífica em nada se assemelhava a daquela mulher geniosa e explosiva que nunca havia sido capaz de aceitar que algo fugisse do seu controle.
O mínimo contato com a ex-esposa se resumia apenas em tratar sobre questões relacionadas à filha, que não poderia estar mais feliz por ter a mãe tão presente.
Tudo estava finalmente dando certo em sua vida. Sob o seu comando e com o auxílio de Alice, o escritório havia recuperado o prestígio e fechado diversos contratos importantes.
Ela estava feliz, como há muito tempo não se sentia.
— No que tanto essa cabecinha pensa, hein? – Alice tocou levemente sua mão sobre a mesa. – Tô sentindo você mais quieta desde ontem.
— Não é nada com que você deva se preocupar, amor. – Forçou um sorriso e balançou negativamente a cabeça. – Só ando um pouco reflexiva nos últimos dias.
— Fala comigo, Bea. – Sorriu carinhosamente e entrelaçou os dedos, como se quisesse encorajá-la a falar. – Sei que você ainda tem dificuldades em se abrir sobre o que pensa ou sente, mas eu não tô aqui pra te julgar.
— Eu não sou uma boa pessoa, Alice. – Encolheu os ombros verdadeiramente envergonhada. – Já fiz coisas horríveis, machuquei pessoas que não mereciam, fui egoísta, fútil...
— Amor...
Alice tentou interrompê-la, mas viu nos olhos esverdeados que a namorada precisava colocar o que lhe afligia para fora.
— E vivo me perguntando, a troco de que eu fiz isso? Vingança? – Suspirou e desviou os olhos para outro ponto. – Você é uma mulher incrível, não merece alguém como eu.
— Eu escolhi ficar, mesmo depois de saber de tudo. – Estendeu a mão até o rosto de Beatriz e o virou para si. – Porque consigo ver que você não é mais aquela mulher e foi exatamente pela sua melhor versão que eu me apaixonei.
A advogada sorriu diante da declaração e se aproximou para beijar os lábios da namorada.
— Eu te amo. – Sussurrou antes de selar os lábios uma última vez. – Muito.
— Que cena comovente. – Uma voz carregada de ironia atraiu a atenção das duas. – O que essa mulherzinha faz aqui, Beatriz?
— Eu poderia fazer a mesma pergunta sobre você, Eva. – Se pôs de pé rapidamente e encarou a mãe. – Já disse que não é bem-vinda à minha casa, muito menos se a sua intenção for ofender a Alice.
— Não comece com esses seus ataques. – Eva apoiou a bolsa em uma das poltronas e deu alguns passos em direção á filha. – Preciso conversar com você... a sós.
— Se for sobre o escritório, podemos tratar na segunda-feira. – Cruzou os braços impaciente. – Do contrário, não tenho qualquer interesse em saber.
— Prefere que eu diga o que preciso na frente da sua estagiária? – Arqueou uma das sobrancelhas e sorriu. – Talvez ela também decida te deixar.
— Amor, vou deixar vocês à vontade, tudo bem? – Alice tocou suavemente seu braço e sorriu compreensiva. – Te espero no quarto.
— Tem certeza? – Sem se importar com a presença indesejada da mãe, envolveu a namorada pela cintura e a beijou rapidamente.
Alice afirmou com a cabeça antes de se desvencilhar dos braços de Beatriz e caminhar em direção ao andar superior.
Sem qualquer intenção de estender aquela conversa além do necessário, apenas aguardou que a mãe dissesse de uma vez a que veio.
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Match Point | ⚢
أدب الهواةDuas situações distintas, mas igualmente traumáticas, foram capazes de levar Rafaella e Gizelly ao mesmo destino: o fundo do poço. De um lado, uma talentosa tenista viu sua carreira promissora ser prematuramente interrompida após uma grave lesão e t...