CAPÍTULO XXVIII - REDENÇÃO

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NARRADORA

Conforme Alice havia pedido, Gizelly resolveu todos os trâmites legais para que o corpo de Eva fosse liberado e levado até uma funerária, onde foi devidamente preparado para o sepultamento. Beatriz, que tentava a todo momento se mostrar forte e indiferente à recente perda, estava visivelmente abalada, por isso Alice fez questão de permanecer ao seu lado a todo momento. Sua única solicitação foi que apenas familiares e amigos íntimos comparecessem à cerimônia, não tinha cabeça para lidar com tanta falsidade e só queria que aquilo tudo acabasse o mais rápido possível.

Na manhã seguinte, por volta das dez da manhã, compareceram ao cemitério da Consolação, localizado na zona sul da cidade. Eva seria sepultada no jazigo da família Falcão, conforme seu desejo.

Apesar do momento delicado, o local estava repleto de jornalistas, que mesmo a certa distância, tentavam a qualquer custo conseguir informações acerca da morte de Eva, que até aquele momento era rodeada de incertezas, já que sua única filha havia se recusado a falar com a imprensa. 

Mesmo que sua família não fosse religiosa, Beatriz aceitou que um padre dissesse algumas palavras para confortar a todos os presentes, julgou que mal não faria e talvez até ajudasse Eva a ter uma passagem mais tranquila, onde quer que ela estivesse.

— (...) Eclesiastes três. "Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar". – Disse o Padre, alternando o olhar entre a Bíblia em suas mãos e os presentes na cerimônia.

— Mamãe, a vovó Eva foi para o céu? – Repentinamente Lara questionou em um sussurro. Não tendo nenhuma resposta, apertou a mão de Beatriz numa tentativa de ganhar sua atenção.

— Oi, meu amor. – Pela expressão confusa, realmente não havia entendido o que a filha disse. – Desculpa, a mamãe não te ouviu.

Lara fez um sinal para que a mãe se abaixasse e assim que ficou próxima o suficiente, levou as mãos até a boca, como se fosse contar um segredo, e questionou mais uma vez.

— A vovó Eva foi para o céu? – Se afastou para ouvir a resposta à pergunta que martelava em sua cabeça desde que aquele homem todo de preto começou a falar.

Beatriz até tentou, mas não conseguiu segurar o riso que escapou ao ouvir a filha. Não sabia se sua reação era pela inocência de Lara ou por achar muito improvável que sua mãe estivesse em um lugar tão bom depois de tudo que fez.

Todos voltaram-se para ela e o padre imediatamente pausou o sermão, repreendendo-a com o olhar. Beatriz apenas encolheu os ombros em um pedido silencioso de desculpas.

— É mais fácil ela ter ido para o inf... – Antes mesmo de concluir a frase, sentiu um aperto em sua outra mão e olhou para o lado, encontrando os olhos arregalados de Alice. – Então, a mamãe não sabe para onde a vovó foi, mas espero que tenha sido para um lugar bem legal.

—  Eu ouvi uma vez que as pessoas que fazem coisas ruins não vão pra lá. – A garota franziu a testa, claramente confusa. – E a vovó não gostava muito de mim, nem dos meus pijamas, nem de cachorros, então pra onde ela foi?

Vendo que os questionamentos não parariam por ali, Beatriz resolveu encerrar o assunto antes que fosse novamente repreendida. Em outro momento conversaria melhor com a filha.

— Nós podemos falar sobre isso depois? A mamãe promete tentar te explicar sobre tudo que quiser saber. – Deixou um breve carinho na bochecha de Lara e sorriu.

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