CAPÍTULO VIII - LEMBRANÇAS

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NARRADORA

Um mês havia se passado desde a última e desastrosa conversa entre Gizelly e Rafaella, e a cada novo encontro a advogada buscava uma oportunidade para se desculpar, mas as respostas diretas ou a falta delas eram um sinal claro do quanto a tenista ainda estava magoada.

Completamente alheia aos acontecimentos recentes, Lara insistia em fazer com que a mãe e sua professora interagissem, o que sempre acabava com uma desculpa qualquer para manterem-se longe uma da outra.

— Eu não entendo porque você tá dando um gelo naquela gostosona. – Eusébio empurrou levemente a amiga pelo ombro e apontou com o queixo na direção de Gizelly. – A mulher tem passado todas as aulas te olhando, tentando se aproximar e você só a corta.

— Você não tem que entender nada. – Disse com um mal humor evidente e assim que olhou na direção indicada e encontrou a advogada a encarando, desviou rapidamente. – Só tô mantendo o nosso contato profissional, como devia ter sido desde o início.

— Achei que depois do encontro maravilhoso que tiveram, você mudaria de ideia. – Cruzou os braços e encarou a amiga com uma expressão confusa. – O que aconteceu depois disso? Porque você simplesmente muda de assunto toda vez que eu sequer menciono o nome dela.

— Só me dei conta de que era melhor manter as coisas assim, Eusébio. – Saiu caminhando apressadamente para longe do amigo, não queria contar o que tinha acontecido, porque se sentia uma completa idiota por ter dado qualquer abertura à advogada. – Sou professora da Lara, me envolver com a mãe dela nunca daria certo.

— Se você não quer me contar, talvez ela possa fazer isso. – Sorriu vitorioso quando os passos de Rafaella cessaram e ela o encarou com os olhos arregalados. – E aí, o que prefere?

— Meu Deus, você é mesmo um pé no saco. – Respirou contrariada, mas se vendo sem opção, arrastou Eusébio pelo braço até que estivessem em um dos bancos afastados da quadra. – Eu vou te contar essa merda, mas tem que me prometer que não vai se meter nisso, ok?

Levantando os braços em sinal de rendição, o homem esperou que a melhor amiga se sentisse confortável para contar o que tinha acontecido de tão grave, já que no último mês além de estar com um humor infernal, Rafaella havia voltado à velha rotina de pegação desenfreada.

Trazer aquele assunto à tona a deixava visivelmente desconfortável, por se tratar não só da acusação de Gizelly, como de uma parte de seu passado que lutava diariamente para esquecer. Talvez parecesse exagero de sua parte ter se afetado tanto pelo que ouviu, mas foi inevitável não se lembrar das palavras duras de sua mãe no dia em que deixou sua casa no interior de Minas Gerais.

FLASHBACK

G: Você tá usando esse tal tênis pra fugir das suas verdadeiras responsabilidades, minha filha. – Tentou alcançar as mãos de Rafaella, mas foi prontamente repelida. – Essas aulas não passam de uma brincadeira que não te dará futuro algum, você acredita que tem talento porque aquele professor irresponsável colocou isso na sua cabeça, mas não é verdade.

R: Um dia eu serei uma tenista profissional, mãe. – Ergueu o queixo e sorriu ao se imaginar num futuro tão promissor. – Meu rosto vai estampar as revistas de esportes, os jornais vão querer me entrevistar, então o papai e você sentirão orgulho de mim e de quem eu sou.

Os olhos verdes ameaçaram transbordar, mas Rafaella se manteve firme, não deixaria que a mãe a visse tão frágil, não quando queria mostrar que era madura o suficiente para sustentar aquela decisão.

G: Orgulho nós sentiremos quando você deixar esse sonho infantil de lado, Rafa. – Sacudiu uma das mãos no ar, como se aquilo não fosse realmente importante. – E aceitar o pedido de casamento do Rodrigo, que é um rapaz bonito, rico e pode te dar uma vida de princesa.

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