O Aslan tem mostrado ser uma versão totalmente diferente daquela que eu esperava, parece ser alguém tão simples e não o filho de um corrupto como o Javier, confesso que os últimos dias que passei com ele tem sido incríveis e tenho experimentado emoções que jamais pensei que seria digna de viver, afinal de contas como eu poderia viver esse tipo de coisas se passei toda minha vida a ser treinada para ser a melhor agente de todos os tempos, essa é a minha realidade afinal de contas. Com esses pensamentos vêm recordações das diversas missões que tive que fazer, pelos diversos cantos do mundo e em cada um desses cantos matei friamente os alvos que me eram dados, sinto algo semelhante a desprezo quando essas recordações vêm na minha mente, sinto desprezo de mim mesma por ter escolhido aquela vida para mim, volto a realidade quando escuto alguém bater à porta.
- Pode entrar! - grito.
- O jantar já está pronto Nazlin. - diz a avó num tom doce.
- Obrigada avó, já ia mesmo descer. - esboço um leve sorriso, porém verdadeiro.
- Podemos ter uma pequena conversa antes de descermos minha querida? - pergunta docilmente.
- Claro avó. - faço sinal para nos sentarmos na cama.
- Não quero parecer intrometida minha querida, mas por favor não me interpreta mal...- faz uma pausa - tu e o meu neto conheceram-se recentemente e eu tenho certeza que não estão aqui de férias, pois não?!
- Não estamos. - digo.
- Serei muito direta... afasta-te enquanto ainda há tempo, é óbvio que vocês estão apaixonados mas é melhor te afastares antes que esse sentimento cresça ainda mais... - diz com um semblante triste.
- Mas porquê? - sinto-me estranha ao ouvir aquelas palavras.
- Não digo isto por causa dele, mas pelo outro lado da família dele - faz uma pausa - eu também alertei a minha filha mas infelizmente agora ela está morta...
Antes que ela pudesse acabar de falar Aslan entra no quarto e vem chamar-nos, reclama que estamos a tagarelar enquanto ele morre de fome no andar de baixo, descemos e quando nos sentamos à avó faz questão de nos servir e enche demais os pratos, quando olho para o meu fico assustada com a quantidade de comida, tudo cheirava muito bem, o arroz e a feijoada estavam simplesmente incríveis, comida de avó é mesmo bom, olho para o outro lado da mesa e vejo Aslan devorando a comida com uma garrafada atrás de outra, recordo-me das palavras da avó sobre a família paterna do Aslan e sobre a morte da mãe dele, afinal que envolvimento Javier e a sua família teria com a morte da sua esposa, agora fiquei bastante curiosa.
Acabamos de comer e fomos ajudar avó a arrumar a cozinha e a lavar a loiça, quando terminamos ela despediu-se e foi dormir então eu e o Aslan fomos ficar à beira da piscina a conversar e a contemplar as estrelas, Aslan contou sobre as férias que passava aqui na pousada da avó quando era criança, de quando plantou com a avó e a mãe a maioria das árvores que ainda cá estão e repentinamente ficou em silêncio, notei que os seus olhos começaram a brilhar antes que ele pudesse desviar o olhar então o puxei para um abraço bem demorado até que ele se acalmasse.
Aslan levanta-se e pega na minha mão, diz que quer me mostrar o sítio mais mágico daquela pousada, então caminhamos até o estábulo para levar um dos cavalos, Aslan me ajudou a subir e depois fez o mesmo, lentamente o cavalo começou a galopar enquanto nós aproveitávamos para contemplar a paisagem que era de cortar a respiração, naquela noite o céu estava um verdadeiro show, ao fim de alguns minutos vejo de longe uma iluminação por entre as árvores e quando pergunto o que era Aslan diz que é a cascata, fico fascinada com o facto de ter uma cascata porque a única vez que entrei numa foi para matar alguém.
Quando chegamos na cascata era ainda mais perfeito do que eu poderia imaginar, todas as árvores perto da cascata tinham iluminação o que deixou o lugar ainda mais mágico, perguntei ao Aslan quem montou e ele apontou com os dedos para ele mesmo, não consegui conter o sorriso com a careta que ele fez, tipo "é óbvio", coloco a minha mão e sinto a água bem morna, viro-me para falar com o Aslan mas quando dou por mim eu já estava dentro da água e ele também.- Não acredito que me empurraste com roupa e tudo. - digo entre gargalhadas.
- Fiz isso para não pensares em desistir de entrar. - esboça um sorriso doce e mergulha.
Fico a contemplar as estrelas e quando Aslan volta aparecer pergunta-me porque não contemplo o céu enquanto fico a boiar na água, meio tímida digo-lhe que não sei boiar e ele oferece-se para me ensinar, estica os seus braços dentro da água e diz-me para deitar-me de costas neles, assim o faço, estico bem as minhas pernas e abro os braços mas o medo ainda faz com que eu afunde porque não consigo deixar o meu corpo leve, mas com muita paciência Aslan tenta acalmar-me e ao fim do que pareceu uma eternidade eu consegui relaxar o corpo e foi então que ele tirou as mãos sem que me apercebesse, fecho os meus olhos e afasto qualquer pensamento que tenta tirar-me a paz, sinto como se estivesse a flutuar sobre as nuvens numa paz fora do normal, quando abro os meus olhos vejo que Aslan já não estava a segurar-me então procuro manter a calma, viro um pouquinho a cabeça para o lado e vejo ele a boiar perto de mim, ele é mesmo bonito e atraente.
- Naz. - chama-me entre gargalhadas.
- Sim?! - não consigo conter a gargalhada.
- Quando fores a mergulhar tenta não beber a água porque acho que mijei. - as nossas gargalhadas intensificaram-se tanto que eu acabei afundando.
- Obrigada pelo aviso. - digo ao recompor-me.
Ao fim de alguns minutos saímos da água e foi então que reparamos que o cavalo já não estava lá, pergunto ao Aslan se tinha amarrado o cavalo e ele disse que esqueceu-se mas que não precisava me preocupar porque não era a primeira vez que isso acontecia e que o cavalo sempre voltava para o estábulo, sinto-me mais aliviada, caminhávamos lentamente para a casa quando o vento soprou e algo entrou no meu olho, Aslan tenta ajudar-me a tirar mas não resulta então ele coloca-me nas suas costas e corre até chegarmos à casa, vamos direto para a cozinha para lavar a minha cara e a sujidade que havia entrado finalmente saiu. Ainda com as roupas bem encharcadas fomos nos sentar nas escadas antes de irmos para os nossos quartos para conversar um pouquinho e foi então que decidi perguntar sobre a vida dele:
- Então tu nasceste aqui na Espanha e és filho de espanhóis?
- Bom, sim... na verdade só o meu pai é espanhol, a minha mãe era americana. - diz com uma expressão neutra.
- Ahm tá certo, agora que falaste nela lembrei-me que nunca vi ela nos eventos do teu pai.
- Ela morreu Nazlin... - dá uma tossidela e continua - de câncer faz cinco anos.
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Interação
•Vocês acham que o pai do Aslan pode estar envolvido na morte da sua esposa?
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O PESO DA CRUZ QUE CARREGO
Ficção AdolescenteEPÍLOGO Nazlin Robert é uma jovem treinada para ser fria e impiedosa, não sabe lidar com as emoções e nem com quem ela ama, carrega no seu coração muita dor e rancor pelo seu pai biológico, o maior e mais temido traficante da Rússia. É através de um...