Capítulo 20

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Faz algumas semanas que mal falo com Aslan, estive a dar-lhe o espaço dele depois do que contei-lhe, tenho plena consciência do quão abalado ele ficou com a informação toda, lembro-me com nitidez a raiva estampada nos seus olhos, estavam tão vermelhos e cheios de lágrimas, a sua respiração estava muito acelerada e nada era capaz de o acalmar, confesso que eu só queria ter lhe ajudado a descobrir a verdade mas agora me pergunto se foi melhor ele saber de toda a verdade, será que não era melhor ele continuar a viver com a ideia de que a mãe lutou até ao fim pelo câncer e não sobreviveu ou então se não era melhor ele acreditar que o pai dele jamais esconderia isso dele e que jamais compactuaria com alguém que tirou a vida da sua própria mulher, afinal até onde vai a ganância. Recebo um telefonema de Danno a pedir para que eu desça, hoje é o grande dia, o dia em que a missão possivelmente chegará ao fim, o dia em que essa Nazlin feliz talvez deixe de existir, pego na minha sacola com as armas fantasmas e vou até ao elevador, quando finalmente chego no piso de baixo e as portas do elevador se abrem sinto um ar frio queimar-me as maçãs da cara, caminho até ao carro de Danno e entro, ele liga o carro e eu só penso que já não há mais volta, perco-me nos meus pensamentos até que Danno traz-me de volta à realidade:

- Estas pronta Naz? - pergunta sem tirar os olhos da estrada.

- O que? - pergunto.

- Perguntei se estás pronta.

- Ahm... sim, estou sempre pronta. - digo.

- Não acredito nisso mas o importante é não recuares, traz de volta a Nazlin fria só por hoje.

- Podes ter a certeza que ela nunca saiu de mim. - digo e viro-me para a janela.

Ao chegarmos no hotel Danno conduz para as traseiras e manda mensagem ao Luke para que ele viesse levar todo o equipamento necessário, ficamos ali a espera dele por cerca de cinco minutos até que ele finalmente apareceu e levou tudo, saímos do hotel e fomos até ao meu antigo apartamento para eu pudesse me preparar para o grande momento. Entramos no apartamento e eu fui direto para o meu quarto, liguei o chuveiro e quando entrei deixei-me cair na banheira enquanto a água percorria todo o meu corpo, alguns pensamentos insistiam em permanecer na minha cabeça, afinal o que eu realmente sinto pelo Aslan, sinto os meus olhos a encherem-se de lágrimas, uma mistura de sentimentos que nunca experimentei, luto para afastar esses pensamento e levanto-me, saio da banheira e limpo-me, já não há tempo para focar no lado emocional. Vou até ao armário e tiro um vestido preto de cetim curto, costas abertas e com um leve decote no peito, uso uns saltos com tiras transparentes para dar mais destaque ao vestido. Vou secar meu cabelo e opto por fazer apenas um ricos do meio para não correr o risco de deixar cair algo, coloco um perfume básico, saio do quarto e encontro Danno a minha espera, esboço um sorriso meio forçado e ele pergunta se tá tudo bem, limito-me a dizer que não estava de bom humor e descemos.
Danno conduz até uma paragem de táxi e desce para apanhar o táxi, como o Javier ficou sem guardas ele contratou dois novos e Danno é um deles, passo para o banco do condutor e conduzo devagar para chegar um bocadinho atrasada, mas acabo por nem chegar tão atrasada e logo dou de cara com Aslan a subir as escadas mas ele não me vê, espero ter a certeza de que ele já não iria conseguir me ver e então saio do carro, subo as escadas do hotel e discretamente caminho até uma das salas de faxina distante da zona movimentada e procuro a sacola aonde combinei com Luke, logo encontro e pego nela, saio da sala e vou para as escadas de emergência, subo até o segundo andar que é onde fica a salão de teatro, Javier costuma ficar lá antes de ir para o salão principal onde decorrem os eventos, pego no meu frasco com gás de monóxido de carbono, coloco a minha máscara de oxigênio e mando mensagem para o Luke desativar às câmeras daquele andar e ele respondeu-me logo em seguida que posso avançar, saio das escadas de emergência e entro no salão de teatro, coloco o frasco num sítio escondido e vou me posicionar atrás das cortinas no palco, tiro as partes da minha AK-47 fantasma e monto, passado uns cinco minutos Danno me dá sinal de que está a sair do elevador com Javier e eu autorizo o frasco a libertar o gás.
Quando Javier entra na sala ele parece não notar muito o cheiro diferente, Danno já tinha desaparecido do lado de fora da sala de teatro e se posicionado como o combinado, Javier bebe dois goles do seu café e começa a pegar a cabeça, o monóxido já estava a começar a fazer efeito, saio das cortinas e dou-lhe um tiro no meio da testa e outro no pescoço, ele cai para trás e o seu café despeja-se pelo chão, salto do palco e caminho para a porta, já no corredor vejo Danno, deixo as coisas no chão e tiro a máscara, ele posiciona-se a minha frente e eu dou alguns socos no nariz dele para parecer que foi atacado, dou alguns na barrida e depois bato-lhe na nuca para ele estar inconsciente quando o encontrarem, assim que ele cai no chão lhe arrasto até a porta do teatro e saio a correr para as escadas de emergência, mando mensagem para Luke e ele volta ativar às câmeras daquele andar, alguns minutos depois já tinham pessoas a tentar socorrer Danno e Javier.
Desço para o primeiro piso e peço a Luke para desativar às câmeras, saio para o corredor e caminho lentamente, agora é o momento que eu mais receava, agora já não há volta de verdade, chego até a porta da sala onde Luke disse que Aslan estaria e quando pego na maçaneta da porta congelo, penso em recuar mas não posso, penso nos meus pais e em tudo o que tive que fazer para chegar aqui, na confiança que os americanos depositaram em mim e até mesmo na minha reputação, não posso fugir de quem eu realmente sou, sempre fui assim, não serão seis meses ao lado de alguém que me fará mudar, no fundo eu sou assim fria e cruel. Limpo algumas lágrimas que caíam pelo meu rosto, abro a porta e deparo-me com Aslan a segurar o flash que eu procurava, ele mostra-se admirado ao me ver, afinal de contas não falávamos a semanas, deixo a minha sacola no chão e fecho a porta, caminho até ele e paro mesmo a sua frente, e aqui estávamos nós, olho no olho, ficamos a nos encarar por longos momentos até que ele quebrou o silêncio entre nós:

- O que acabaste de fazer Nazlin. - diz num tom decepcionado - diz-me que não foste tu que mataste o meu pai Nazlin, por favor.

- Eu sei que não vais me perdoar nunca mas eu tive que fazer isso, era essa a minha missão. - quando essas palavras saem da minha boca não consigo conter as lágrimas.

- Tu és americana?!

- Sim, mas Aslan por favor...

- Por favor?! - diz indignado - a mulher que eu amo matou o meu PAI!

- Eu te amo Aslan, não duvides disso, mas tu não me deixaste outra escolha. - limpo as lágrimas - ficaste do lado dele.

- Naz.... - o interrompo com um beijo.

Naquele momento o meu coração estava em pedaços e eu sei que o dele estava bem pior, mas eu sou assim, a Bella tinha razão em tudo o que dizia, eu estou constantemente a magoar todos aqueles que tentam me amar. O nosso beijo parece não ter fim e eu não quero que acabe, mas sinto que quanto mais eu demorar menos coragem terei, pego na minha arma que tinha prendido nas costas e dou-lhe um tiro na barriga, sinto os seus batimentos aumentarem e ele afasta-se de mim, tenta apoiar na mesa mas cai no chão, não consigo conter as lágrimas, ajoelho-me e quando olho para ele fico surpresa pelo que vejo, não parecia estar decepcionado mas não sei o que dizer, encosto a minha cabeça no peito dele e ele passa a mão pelo meu cabelo, não consigo parar de chorar, eu sou mesmo um verdadeiro monstro em pessoa.

- Eu ainda te amarei mesmo depois de tudo Nazlin... - diz e pega no meu queixo - obrigada por teres investigado sobre a minha mãe, agora posso partir enquanto sei a verdade...

- Me perdoa por favor... eu.. eu... não sabia o que fazer Aslan - limpo as minhas lágrimas - eu nunca amei ninguém até te conhecer, me perdoa por favor...

- Cuida da avó Nazlin... - ao dizer isto a sua mão que estava na minha cabeça cai e eu não consigo conter as minhas lágrimas, o meu mundo todo tinha desabado, coloco o meu dedo no pescoço dele e vejo que a pulsação dele estava a baixar, pego na cabeça dele e digo-lhe que o amo inúmeras vezes, ele esboça um leve sorriso enquanto olha fixamente para mim, caem lágrimas sobre os seus olhos e eu continuo dizendo que o amo até o momento em que o seu coração parou de bater, os seus olhos ainda continuavam fixos em mim, não consigo parar de chorar, do nada sinto braços a me puxarem para longe dele e quando olho para trás vejo que era Luke e Danno.

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