Capítulo 5 - Escondidas

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  —Peta, o que você fazia durante a guerra? Como sabia dela se não entrava no mar?

   Desviei o foco novamente pra ela, de fato eu estava muito curiosa por sua vida fora do mar. Talvez por ser a primeira que conheço que passou tanto tempo fora da água e assim, pudesse me dar umas dicas.

   —É uma pergunta justa… — Peta jogou os dois cigarros finalizados no maço e pega outros dois — Quer um? Se fumar bastante, a nicotina ajuda. Não faz mal.

   —Não, valeu. Pensei que fumasse pelo estilo.

   —Não — Ela riu, a tristeza esmagando seu peito — Drogas ajudam muito a gente, mesmo que não dê bons exemplos aos humanos. É sempre tudo pesado pra gente, não conseguimos ver as coisas direito, dormir, relaxar… Isso me ajudou ao longo dos séculos.

   —Séculos? — Puxei meus joelhos para abraça-los, sem imaginar como é passar tanto tempo fora de casa.

   —Sim. Espera, vou fazer uma fogueira pra gente.

   Sem esperar minha resposta, ela correu pra mata. Decido que Peta ou Herles é uma maluca. Uma coisa é passar uma única vida sobre a terra, outra é negar a si mesmo o prazer do mar por séculos, viver vida após a outra ao lado de humanos que inegavelmente irão morrer e tudo isso sem comer! Como ela consegue? Isso é loucura.

   Escutei o que parecia uma árvore cair, quebrando outras no processo, o estalar da madeira quando bate contra algo duro. A doida dos dreads voltou carregando um pedaço grosso de tronco, colocou entre nós e com uma mão sobre ele o seca, seca e seca até sua mão aquecê-lo a ponto da fumaça subir. Em seguida, o fogo.

   Peta voltou e jogou mais madeira ao redor e em seguida, sentou-se ao meu lado. Acendeu mais dois cigarros na fogueira.

    —Não sei como foi pra você irmã, mas quando percebi que o que eu fazia era errado, foi tarde demais. Cem anos depois… Roxa. — Ela balançou a cabeça. Direto ao ponto  — Fiquei tão mal, tão triste. Não quis mais comer e, ironicamente, descobri que ficar entre os humanos ajudava.

   —Ficou com os humanos pra não comê-los?

   —No início sim, não chamei atenção então elas não apareceram. E aí… Aí caí na tentação de todos os homens e me apaixonei por uma mulher. Linda. Alta, branca, com cabelos loiros. Naquela terra já era errado duas mulheres se amarem então contei tudo a ela e fugi pro mar. Tentei evoluí-la.

   Estico minhas mãos pro agradável fogo que não aquece a tristeza que sinto de Peta. Não sabia se queria ouvir essa história.

   —Não deu certo. Ela tinha vinte e três anos, achei que daria… Mas é muito pesado pra um corpo e aí eu conheci todo o poder das Seis.

   A raiva dela me aqueceu.

   —Enquanto minhas irmãs tomaram pontos por destruir navios negreiros e matarem brancos escravagistas, eu levei uma bronca por tentar eternizar a mulher que eu amava — Uma lágrima escorreu do seu rosto — Como se não bastasse a dor do luto, a perda do ponto, Assíria ainda me contou o meu destino.

   Engoli em seco.

   —Você tem um? — Ela perguntou.

   —Sim — Disse — Vou evoluir a Heli.

   As lágrimas passaram a cair com mais pressa.

    —Então é uma Okira de sorte — Ela soluçou — Meu destino foi ser a última de minhas irmãs viva. Então, fugi pro refúgio dos humanos e decidi nunca mais evoluir ninguém.

   Não consegui não deixar de me sentir culpada por reclamar do meu. Perder uma irmã já tinha sido dor o suficiente pra uma vida agora perder todas? Não sei se conseguiria. De repente, Peta não era mais uma maluca e sim sã. Não era a mesma coisa que eu fazia? Fugir do destino?

O teste da Beta - FinalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora