Capítulo 30 - Guias

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   —Monara, levanta, nós vamos sair.

   Saindo de um longo devaneio, me sentei no chão, quase como se tivesse acordado. Heli já estava arrumada, de braços cruzados na porta do quarto com a cara amarrada. Kevin acordou no susto também e esfregava os olhos em busca do óculo. Eram oito da manhã, pelo relógio na parede.

    —Sair? Pra onde a essa hora?

    —Eu disse pra levantar, anda.

    Kevin olhou pra mim com a cara de "você tá ferrada", virou pro outro lado e voltou a dormir desinteressado.

   Tive tempo de trocar de roupa e nem ousei perguntar se ela não queria tomar café, pelos óculos escuros, deduzi que estava de ressaca. Seguimos a pé pra um lado da rua que eu conhecia bem, íamos pra casa de Maressa. Pensei em dizer que talvez ela não estivesse lá pelo encontro com Rodolfo mas o medo me parou. Será que ela achou que eu fiz alguma coisa com ela ontem e ela ia reclamar com Maressa?

   Ou será que ela finalmente conversaria com Maressa pra tentar acertar as coisas? Motivada por isso, andei mais rápido que ela pra dentro da mata.

    Tentei, juro que tentei não me lembrar dos momentos bons que tivemos ali, de como meu coração parecia explodir quando ouvia o dela se aproximando, do nosso primeiro beijo… Nos encaramos quando caminhamos até a casa, talvez pensando na mesma coisa.

   De nada valia ficar com ela se ela não me amasse mais depois daquilo e muito provavelmente seria exatamente o que aconteceria, como superar uma traição daquelas? Então, enquanto caminhava ao seu lado entre as árvores, prometi a mim mesma ficar ao seu lado até que ela melhorasse, até que parasse de tentar se destruir e aí, se ela quisesse quando estivesse bem eu voltaria pra minha casa. Era o quanto eu amava ela, eu aceitaria ficar sozinha desde que ela voltasse a ser a Heli que eu tanto amava.

.

   —Espera — Ela disse, quando entramos no jardim. Por um momento cogitei que ela tivesse lido meus pensamentos — Obrigada, por ontem.

   —Só te ajudei a tomar banho. — Disse.

   —Não, isso… Por ter parado. Por ter me parado.

   Heli não olhava nos meus olhos e estava vermelha de vergonha. Ou pelo calor, não saberia dizer. Ela ainda se escondia dos meus poderes.

   —É o mínimo de alguém decente. — Disse, triste — Vamos lá.

   Se não era pra reclamar… Heli com certeza pediria ajuda. Me segurei muito pra não correr até a porta escancarada, Maressa não tinha medo nem dos bichos entrando na sua casa. Fiquei feliz por escutar seu coração na cozinha.

   —Eu já tinha mandado mensagem — Heli disse e entrou na minha frente.

   Maressa, pra minha surpresa, nos recebeu com um café da manhã. Café, bolo e pão pra Heli, carne crua pra mim. Do teto, ouvia outro coração dormindo, que só podia ser de Rodolfo.

   —Come — Maressa disse pra Heli.

   Sem alternativa, ela se serviu, mas com um olhar de quem não estava feliz com aquilo. Com a colher, pra fingir decência, comecei a comer a carne, achando muito bem vindo aquele prazer em meus lábios. Me acalmava. Maressa ficou o tempo todo observando Heli comer, uma fatia de bolo, depois outra, tomando o café quente que ela gostava, batendo com os dedos na bancada…

   —Você bebeu ontem — Ela notou.

   —Você ainda consegue ver alguma coisa na minha cabeça? — Heli provocou.

O teste da Beta - FinalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora