capítulo doze (2)

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     Quando eu saí da escola, o sol estava se pondo no horizonte, dando espaço a uma noite quente de verão.

     Eu fiquei feliz pelo dia já estar acabando, porque isso significava que tinha cada vez menos chance de algo dar errado. Eu poderia voltar, entregar os papeis da reunião para a Yang, e depois descansar.

      Sabe, talvez até Changbin estivesse certo. Era besteira isso de ficar desesperado por não lembrar de levar o objeto da sorte, já que o dia passou tranquilamente e estava acabando em uma tarde bonita.

      Eu amava o pôr-do-sol. Amava muito as cores laranjas e amarelas, às vezes rosas, se misturando ao cinza da cidade; e amava sentir os raios no meu rosto enquanto uma brisa quente soprava os meus cabelos. Amava os fins de tarde dos verões naquela cidade.

      A melhor lembrança da minha infância, foi logo antes dos meus pais se divorciarem. A mamãe saiu com a Yang e eu pra um passeio pelo bairro onde nós morávamos antes, era bem pequeno e tinha uma praça central onde todo mundo ia nos finais do dia, das crianças aos idosos, todos gostavam de passear lá.

      Eu lembro de como a minha mãe estava bonita e de como ela era parecida com a Yang. E eu lembro dos raios de sol beijando suas bochechas, deixando-as rosadas. Era uma lembrança feliz, como o início de um pesadelo.

      Nem percebi quando escureceu. Apenas notei que estava em meio aos meus devaneios, quando, quando estava chegando em casa, recebi uma mensagem do meu "chefe", dizendo que precisava que eu fizesse algo para ele.

     Meu coração se apertou. Eu sabia que isso não ia acabar bem.

     Eu já tinha dito pra ele que queria sair, porque se a escola descobrisse eu poderia perder a minha bolsa de estudos. E se eu fosse preso, me separariam da Yang. Mas ele disse que essa era a última vez, depois eu poderia sair.

      Eu perguntei:

      — A que custo eu vou sair?

      Ele respondeu:

      — Só você sabe o preço da sua liberdade.

      Então eu aceitei. Eu sabia que não tinha escolha. E eu sabia que a minha liberdade não era muito cara. Sempre gostei dessas coisas dramáticas e aventurescas, então ele sabia como me ganhar, porque eu era um vilão e um dos mais baratos que existia.

      Chequei o horário no celular. Não era tão tarde, dava pra voltar pra casa antes da Yang desconfiar. Estava torcendo para o meu pai não voltar antes de mim.

       Fiz o caminho de volta. Eu teria que encontrar um fornecedor em algum beco, depois levar pro meu chefe. Nada demais, nada de menos; nada do que eu já não tenha feito desde que entrei.

      O problema era que o beco era muito perto da escola que eu estudava. E eu ainda estava com o uniforme. Isso era muito perigoso, e eu estava sentindo que algo daria errado.

      Mas ignorei todos os alertas vermelhos e continuei. Eu fui para o ponto de encontro, que era atrás do restaurante dos pais do Changbin. Isso me deixou ainda mais apreensivo.

       Alguns instantes depois que eu cheguei, o fornecedor apareceu. Eu não conseguia ver o rosto dele, porque ele estava com uma máscara que deixava apenas os olhos à mostra.

      — Como eu posso confiar que o produto é bom? – perguntei. Era uma pergunta padrão e eu já sabia a resposta.

     — Faça o teste. – ele respondeu. No momento em que ele disse isso, começou a chover.

     Eu não podia tocar na mercadoria, então pra "provar", o fornecedor sempre tinha uma amostra do material com ele. E eu era tipo uma cobaia, um rato de laboratório.

Dandelions ❀  - MINSUNG.Onde histórias criam vida. Descubra agora